Dentro do universo do RPG, as opções de sistemas e cenários são extremamente vastas e, na maioria das vezes, os Jogadores serão levados a interpretar Personagens com vidas muito diferentes de suas próprias. Esses Personagens, vivendo em mundos extraordinários, terão formas diferentes de encarar as dificuldades e problemas apresentados pelo Mestre, daquelas que teriam o Jogadores.
Interpretar essas diferenças é difícil, afinal, ao contrário de atores seguindo um roteiro, os Jogadores em uma sessão de RPG não seguem scripts definidos e interagem com as situações conforme elas são colocadas pelo Mestre. Essa interação em "tempo real", faz necessário que o Jogador entenda e conheça bem seu Personagem. A habilidade de criar uma distância entre "criador e criatura" é crucial e muitas vezes recompensada pelo Mestre.
O "XP por interpretação" é um exemplo clássico de recompensa por este esforço, mas muitos mestres estendem essa recompensa a equipamentos, facilidades e toda a sorte de benefícios dentro da Campanha. Um ponto importante a ser observado é este "esforço do Jogador". Muitas vezes um Jogador pode se esforçar bastante e ainda assim ter pouco sucesso ao interpretar um personagem, mas pelo esforço apenas, merece a mesma recompensa que os demais.
Alguns Mestres, para manter o senso de imersão da aventura, tendem também a "cobrar" a interpretação. Essa cobrança deve ser observada com cuidado, pois nem todos os jogadores terão a mesma desenvoltura para interpretar, por exemplo, um linguajar de época. Causam-se menos transtornos recompensando os jogadores que se esforçam mais ao invés de "punir" jogadores que não se esforçam tanto.
Os truques, segredos e ferramentas dentro do RPG para fazermos a separação entre Jogador e Personagem são diversos. Mesmo aqueles de nós (e não são poucos) mais envergonhados e introspectivos, possuem um amparo objetivo e "na ficha" para a interpretação. É possível e muitas vezes fácil, interpretar as diferentes características de um Personagem, se todas as ferramentas forem utilizadas.
A maneira mais clássica usada em sistemas, para guiar a interpretação é a que define as tendências de comportamento (nas formas mais comuns do alinhamento de Dungeons & Dragons e a natureza/comportamento de Storyteller) do Personagem, mas a lista é mais ampla e complexa.
Existem Sistemas que não definem a forma como o personagem interage com limitadores explícitos. Muitas vezes são apresentados esteriótipos marcantes (como em Castelo Falkenstein, onde a classe diz muito sobre como o Personagem encara o mundo) ou regras sociais importantes dentro do cenário (como em Legend of The Five Rings e Star Wars onde a origem e a filiação partidária do Personagem são importantes ferramentas de apoio). Mudando o foco, mas nos mesmos moldes, o background também pode ser de grande ajuda na hora de apoiar a interpretação. Ressaltar as características da personalidade de um Personagem, suas visões políticas e de mundo, torna-se uma "âncora" para ocasiões específicas (um Personagem que perdeu os pais tragicamente, pode manifestar uma empatia natural por órfãos que apareçam no decorrer da campanha, mesmo que o Jogador não tenha motivos específicos pra gostar deles).
A combinação de elementos provenientes da ficha, ambientação e Background, compõem o "pacote inicial" de ferramentas para a interpretação do Personagem, mas a melhor das ferramentas ainda é a própria campanha. Ao desenvolver uma história e situações marcantes, o próprio desenvolvimento da narrativa, ajuda a construir e compôr o Personagem.
Em termos resumidos, a divisão entre Personagem e Jogador acaba sendo o trabalho de reconhecer e incorporar as diferenças na maneira de agir. Manter frescas na memória as principais caracteristicas do personagem e agir conforme elas.
Tentar novos tipos de Personagens, dentro do que for considerado divertido, é a melhor maneira de aprender a interpretar bem. Algumas das Aventuras e Campanhas mais divertidas que já joguei, devem grande parte desse divertimento ao fato de o Personagem que eu interpretava ser tão diferente de mim mesmo e muitas vezes eu ter de parar e reformular uma frase ou toda uma ação por ela ter sido "inteligênte de mais" ou "engraçadinha de mais", enfim, parte da diversão de interpretar um Personagem é o fato de ele ser diferente de você mesmo e aprender a "calçar os sapatos" de outra pessoa é uma daquelas habilidades que o RPG nos ensina, enquanto nos divertimos.
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