OS DEUSES EXTERIORES - Mythos de H.P. Lovecraft
Na Mitologia criada por H.P. Lovecraft, forças sobrenaturais de incomensurável poder controlam o Cosmos e tudo que nele existe.
Essas forças compõem um conjunto de seres que são chamados coletivamente por alguns poucos estudiosos de "Os Mythos de Cthulhu". A designação denota uma tentativa humana de categorizar e interpretar o que são e qual a função de cada um desses seres no grande plano universal. Mas o próprio nome adotado é curioso, uma vez que Cthulhu é apenas uma das entidades que compõem essa ordem cósmica e nem de longe a mais poderosa.
Isso demonstra o quão pouco a humanidade compreende a respeito dessas Entidades.
Na concepção de Lovecraft o Universo não foi criado pelos seres humanos ou por qualquer força conhecida. Não existe um Deus, onipresente e onisciente, as divindades humanas são meras fábulas. Não há Buda, Alá ou Jeová. Humanos não possuem almas imortais e quando a vida abandona nosso corpo, nós nos tornamos poeira.
Da mesma forma, o Cosmo não existe para proporcionar à humanidade um lugar de direito. A humanidade é um mero acidente, nós existimos por existir. Nosso papel dentro do cosmo é irrisório, pois no grande esquema das coisas somos irrelevantes. Mesmo quando vivos, não passamos de poeira.
O Trono de Azathoth, o Caos Nuclear ocupa um lugar quase inacessível considerado por alguns como o Centro do Universo. Lá teria se iniciado a expansão do Big Bang, onde todo o nosso Universo se originou pela sua ação.
Imagine que somos náufragos, flutuando em um grande bloco de gelo sem direção e que pouco a pouco esse iceberg vai derretendo. E o interminável oceano de mistérios que nos cerca além de ser insondável e assustador é habitado por monstros. Essa é a trágica condição da humanidade na obra de Lovecraft. Conquistas, progresso, avanços científicos... nada disso realmente importa, nada disso é relevante pois mais cedo ou mais tarde esse bloco de gelo vai desaparecer e vamos afundar em um mar de perigos e horrores inenarráveis do qual jamais vamos emergir.
Os Mythos estão acima da ordem natural que nós acreditamos conhecer. A própria natureza pode ser pervertida, invertida ou simplesmente ignorada por seres que nós somos incapazes de conceber. Eles dominam a realidade e tentar entender como eles pensam ou agem é perigoso, de fato, buscar as respostas para os enigmas do universo é como tentar cruzar um deserto interminável à pé. Quanto mais aprendemos, mais a nossa razão sofre. Como consequência a única recompensa por esse saber é a insanidade.
No mundo inclemente dos Mythos conhecimento não é poder, conhecimento é aniquilação.
Isso explica por que sabe-se tão pouco a respeito dos Mythos. Na melhor das hipóteses todo o conhecimento acumulado ao longo de milênios a respeito dessas entidades e copiado laboriosamente em tomos, não passa de um grão de areia. Contradições e confusões são comuns, e muito do que se imagina a respeito dos Mythos de Cthulhu simplesmente não está certo. Mesmo o Necronomicon, tido como o maior tratado humano à cerca dos Mythos e que supostamente reúne o mais profundo saber sobre eles, está incompleto ou contém enormes erros. Não se pode acreditar em nada que se ouve ou lê a respeito dos Mythos e um feiticeiro que se diz conhecedor dos mistérios não passa de um tolo.
Um dos aspectos mais interessantes na obra de Lovecraft é que nem mesmo ele buscava responder as perguntas. Assim como seus personagens, envolvidos com revelações inacreditáveis, o próprio autor não ousava oferecer uma explicação racional ou coerente. De onde vieram os Mythos? Qual o seu propósito? Tudo o que podemos fazer é adivinhar ou supor.
Então vamos tentar supor...
Conforme o modelo estabelecido, o "Panteão dos Mythos de Cthulhu" possui uma hierarquia estratificada que divide as criaturas conforme seu poder e influência.
Algumas dessas forças são princípios cósmicos que literalmente assumiram uma forma, conceitos como Caos e Fertilidade. Outros são "meros" deuses, criaturas de tamanho poder e idade que os planetas são relativamente jovens em comparação a Eles. Enquanto outros são apenas estranhas criaturas, nascidas através de reações bioquímicas acidentais (ou não) que formam aquilo que costumamos chamar de formas de vida.
No topo da hierarquia se encontram os Deuses Exteriores (Outer Gods). Esses seres não podem ser compreendidos como indivíduos, uma vez que são na realidade a personificação de forças cósmicas essenciais para o próprio funcionamento do Universo: tempo, espaço, energia, caos, vida. Para alguns estudiosos eles são os Verdadeiros Deuses do Universo.
Sem eles o próprio Cosmo entraria em colapso e o Universo como conhecemos acabaria por desmoronar. Apenas uma pequena parcela dessas entidades é conhecida pelo nome e não se sabe ao certo quantas delas realmente existem. Um dado alarmante é que muitos deles são obtusos, descritos como "cegos e idiotas", incapazes de compreender sua função.
Uma das representações mais conhecidas de Yog-Sothoth, "aquele que espreita no limiar" entre o tempo e o espaço.
Os Deuses Exteriores tem pouco interesse na humanidade, de fato, o mais provável é que eles sequer saibam de sua existência. Nyarlathotep é a exceção a essa afirmação. Por motivos desconhecidos, esse Deus tem um profundo interesse no homem e de tempos em tempos se envolve nos rumos da espécie. Humanos que se envolvem com esses seres normalmente terminam seus dias loucos ou mortos. Outras raças possuem um maior conhecimento a respeito dos Deuses Exteriores e muitos os veneram.
Azathoth talvez seja o mais poderoso dos Outer Gods. Ele habita o Centro do Universo, uma força de Caos Nuclear girando eternamente ao som de flautas mefíticas. Teóricos acreditam que Azathoth foi o responsável pelo Big Bang e que partiu dele a ação que desencadeou o Nascimento do Universo. Da mesma forma, em dado momento ele pode ocasionar o efeito contrário de entropia que dará fim a essa criação. Ao redor de Azathoth, chamado de Daemon Sultan, orbitam milhares de outros deuses igualmente cegos e idiotas.
Munido de uma flauta, Nyarlathotep se une ao coro dos Serviçais à disposição dos Deuses Exteriores. Seria ele apenas um arauto fiel, ou sua função vai muito mais além que suprir as necessidades de mestres cegos e idiotas?
Nyarlathotep é apontado como a alma e a consciência desses deuses e existe para regular os desejos e caprichos dessas Entidades. Ele viaja através dos pontos mais distantes do universo acompanhando os deuses sem nome e agindo como um mensageiro de sua vontade. Há conjecturas que afirmam ser ele a personificação dos poderes telepáticos dos deuses, mas ninguém sabe ao certo. O Caos Rastejante é um mistério inserido num enigma. Venerado em todo o universo através de incontáveis nomes e disfarces, Nyarlathotep é uma das forças mais presentes no cosmos.
Yog-Sothoth personifica o tempo e espaço. Dentre os Deuses Exteriores apenas Azathoth aparece como seu superior. Paradoxalmente, Yog-Sothoth chamado de "a chave para o portão onde as esferas se encontram", não habita o nosso universo e sim sua própria dimensão. Apenas magias e rituais de enorme poder são capazes de invocá-lo para nosso mundo. É possível que a simples presença de Yog-Sothoth em nosso universo cause um efeito danoso no tecido do espaço-tempo. Quem pode imaginar o que sua presença por um tempo prolongado seria capaz de desencadear?
Shub-Niggurath é outro Deus Exterior digno de nota, ele representa a energia da vida e da abundância. O local por ele habitado é desconhecido, mas essa entidade tende a responder ao chamado de seus cultistas onde quer que eles se encontrem, o que inclui a Terra.
Ele (ou para alguns Ela) é o princípio cósmico da fertilidade e da perpetuação da vida que dá origem às infindáveis espécies e criaturas do cosmo. Venerado em um sem número de mundos, Shub-Niggurath é a divindade central para os Mi-Go e várias outras espécies habitando as esferas distantes.
Tudo aquilo que é tocado por Shub-Niggurath experimenta o caos da transformação e do crescimento. Para alguns trata-se de uma entidade benevolente que representa a abundância, mas a verdadeira face da "Cabra Negra com Mil Filhos" é bem mais nefasta. Ela é a progenitora de aberrações e de seres abomináveis, gerados em seu ventre fecundo.
Outros Deuses Exteriores conhecidos são Tulzscha, Daoloth, Ghroth e Abboth apenas para citar alguns entre tantos outros.
Usando os Outer Gods:
Como foi mencionado, os Deuses Exteriores são forças primais do Cosmo. Compreender a extensão de seus poderes está além da mera capacidade humana. Mesmo assim, os Outer Gods atraem a atenção de indivíduos em busca de revelações e poder. O resultado não obstante tende a ser a corrupção, a loucura e a morte.
Ao longo dos séculos, pessoas desesperadas, tolas, irracionais ou ambiciosas além dos limites se dedicaram a venerar os Outer Gods. Porém a grande maioria desses deuses é bem menos acessível que os Grandes Antigos. Comparativamente, existem menos cultos devotados a eles, pois a magnitude de seus poderes e a própria vastidão do que eles representam tende a ser uma barreira intransponível. A exceção, claro é Shub-Niggurath cujo culto prolifera abertamente sobretudo em enclaves rurais onde a dedicação ao solo e ao plantio se une ao desejo pela abundância e pela fecundidade.
Mas em geral os Deuses Exteriores não possuem cultos organizados. Eles tendem a ser adorados por cultistas solitários, maníacos e feiticeiros. Há duas razões para isso acontecer:
Em primeiro lugar, a humanidade não representa nada para esses colossos cósmicos. Eles não dependem de cultos e por isso não os incentivam ou patrocinam. Sacrifícios, adoração ou louvores de criaturas inferiores são ações inócuas para esses seres e em contrapartida, cultistas não podem esperar recompensas vindas deles. A relação que eles tem com humanos é a mesma que nós temos com formigas em nosso jardim. Mesmo Shub-Niggurath que é a exceção clássica não atende aos pedidos de seus cultistas por benevolência, mas simplesmente porque seu surgimento ocasiona transformações naturais. A relação desses deuses com a humanidade tende portanto a ser inexistente.
Em segundo lugar, os Deuses Exteriores são quase inacessíveis. Apenas magias e rituais extremamente potentes - e consequentemente complexos - são capazes de invocá-los. E em geral, o surgimento de um Deus Exterior não acarreta em nada a não ser caos e destruição. Cultistas que se juntam para invocar tais seres raramente sobrevivem à experiência. Os resultados tendem a ser catastróficos. Alguns pesquisadores dos Mythos conjecturam que a Grande Explosão de Tunguska, por exemplo, fenômeno que devastou uma extensa área na Sibéria possa ter sido deflagrada por uma invocação - acidental ou não - de Azathoth.
A aparição de um Outer God é um evento indescritível.
Mesmo que por poucos segundos, o lugar tocado por um Deus Exterior estará alterado para sempre. Isso decorre da própria natureza desses seres que impregna o ambiente e o meio com sua essência. Quando Shub-Niggurath é invocado o solo experimenta um pulso de crescimento acelerado: campos florescem, plantas desabrocham em frutos, animais crescem e se multiplicam em velocidade alarmante. Até mesmo mulheres podem engravidar espontaneamente. Mas o crescimento de Shub-Niggurath é tudo menos natural e pode dar lugar a tragédias: enxames de insetos, animas grotescos, frutos de sabor nauseante, nascimentos de gêmeos siameses.
Da mesma forma uma invocação de Yog-Sothoth ocasiona um efeito inesperado no tempo e no espaço em toda uma área. Isso pode explicar os fenômenos de "tempo perdido", quando pessoas acreditam ter transcorrido alguns minutos quando na verdade horas se passaram. Uma área tocada por Yog-Sothoth também pode gerar bolsões de deslocamento que transportam objetos de um lugar para o outro através do espaço e até mesmo através do tempo.
Ao contrário de Shub-Niggurath uma área tocada por Azathoth não deixa nada senão um ambiente estéril e cinzento. Rios e lagos se convertem em piscinas de água alcalina, montanhas são reduzidas a poeira e escombros, florestas são transformadas em gravetos fumegantes. O solo é causticado ao ponto de nada mais crescer ali por anos, décadas, séculos. A presença de Azathoth se traduz em uma cólera digna dos deuses.
Lembre-se de que os Outer Gods não devem jamais ser usados em vão. Eles são e sempre serão forças universais e devem ser tratadas como tal. Esqueça que qualquer um deles possui estatísticas, as capacidades deles não podem ser quantificadas.
Um Outer God é o Poder Encarnado e NADA no Universo pode se comparar a Eles.
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''Lembre-se de que os Outer Gods não devem jamais ser usados em vão. Eles são e sempre serão forças universais e devem ser tratadas como tal''
ResponderExcluiressa parte do final me deu medo ;--;
mas dv ser pra dar medo msm