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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

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OS SETE PECADOS CAPITAIS


Os Sete Pecados Capitais por Hieronymus Bosch.
Os sete pecados capitais são quase tão antigos quanto o cristianismo. Mas eles só foram formalizados no século 6, quando o papa Gregório Magno, tomando por base as Epístolas de São Paulo, definiu como sendo sete os principais vícios de conduta: gula, luxúria, avareza, ira, soberba, preguiça e inveja. Mas a lista só se tornou "oficial" na Igreja Católica no século 13, com a Suma Teológica, documento publicado pelo teólogo são Tomás de Aquino. No documento, ele explica o que os tais sete pecados têm que os outros não têm. O termo "capital" deriva do latim caput, que significa cabeça, líder ou chefe, o que quer dizer que as sete infrações são as "líderes" de todas as outras. E, do ponto de vista teológico, o pecado mais grave é a soberba, afinal é nesta categoria que se enquadra o pecado original: Adão e Eva aceitaram o fruto proibido da árvore do conhecimento, querendo igualar-se a Deus. A Igreja até tentou oferecer soluções para os pecados capitais, criando uma lista de sete virtudes fundamentais - humildade, disciplina, caridade, castidade, paciência, generosidade e temperança -, mas os pecados acabaram ficando mais famosos. Outras religiões, como o judaísmo e o protestantismo, também têm o conceito de pecado em suas doutrinas, mas os sete pecados capitais são exclusivos do catolicismo.

Os Sete Pecados Capitais são um tema antigo e ainda que chama a atenção para debates, seja de cunho teológico, filosófico, moral, social, cultural, histórico, psicológico, etc. No entanto, é interessante que pouca gente realmente conheça a complexidade destes pecados, e que os mesmos são mais amplos em seus sentidos, e que alguns estão correlacionados entre si, o que possibilita a pessoa a partir de um pecado, acabar cometendo outro desta lista de sete e até que não consta nesta lista.

AVISO: A ideia deste texto é apresentar um pouco da história dos Sete Pecados Capitais e sua caracterização. Ao mesmo tempo, friso que tal texto é de caráter histórico e não apologético a doutrina judaico-cristã e ao catolicismo. Indivíduos de outras crenças ou ateus, sintam-se a vontade em ler o texto.

Origens


Evágrio do Ponto
A origem dos Sete Pecados é anterior ao Cristianismo, de certa forma alguns de seus aspectos vieram do Judaísmo, e de outras crenças que foram adaptadas pelo Judaísmo e o Cristianismo. No entanto, a ideia de listar estes pecados surgira no século IV d.C, com o monge asceta Evágrio do Ponto (c. 346-399/400). O ascetismo é um estilo de vida, onde o indivíduo procura se afastar dos "prazeres mundanos" ou das "tentações", vivendo sob rígidos votos sacramentais, levando uma vida simples e em alguns casos, vivendo em locais afastados dos centros urbanos; dedicando-se a disciplina do corpo, da mente e o trabalho espiritual. Foi neste contexto de vida e disciplina, que o monge Evágrio escreveu seu livro Origens Sagradas de Coisas Profundas (Sacred Origins of Profound Things) onde listava as tentações e males que facilmente corrompiam os homens e as mulheres, e deveriam ser evitados. Tais pecados não eram desconhecidos antes de Evágrio, no entanto, não havia uma lista que os enumerasse, embora já existi-se por parte de alguns a ciência de que tais atos deveriam ser evitados.

Os Dez Mandamentos recebido por Moisés, já listava alguns pecados e crimes que as pessoas deveriam evitar de cometer. A partir disso desenvolveu-se a chamada Lei de Moisés (ou Lei Mosaica), conhecida entre os judeus como Torá (o termo também é usado para se referir ao Antigo Testamento). Tal código legislativo que imperou sobre o povo judeu, ditava em vários aspectos as normas e regras que este povo deveria seguir. Dos Dez Mandamentos, originaram-se mais de seiscentas leis, sendo estas criadas pelos homens, mas com inspiração divina, como salientado na época.

No caso do monge Evágrio, em sua lista, ele enumerou pecados comuns cometidos mais facilmente pelas pessoas. E pelo fato de serem mais ocasionais, deveria-se ter uma atenção redobrada. Para entendermos o porque disso, devemos compreender o que seria pecar no entendimento cristão.

De acordo com 1 João, 3:4 "Todo aquele que pratica o pecado transgride a Lei; de fato, o pecado é a transgressão da Lei". A "Lei" que São João e outros dos apóstolos se referiam, dizia respeito a Lei de Deus, neste caso, código este dado a Moisés através dos Dez Mandamentos, e desenvolvido pelo mesmo, por alguns profetas, e revista por Jesus Cristo. Pois em seus sermões, Cristo lembrava aos seus seguidores a obediência a Lei de Deus, e não apenas obedecer, mas ter ciência em se viver sob tais desígnios.

De fato o papel da lei é gerar ordem, atribuir direitos, deveres, penas e servir de guia para a convivência. Pecar é como cometer um crime, é descumprir, desobedecer as regras, as leis. E errar perante este código que você responde através de seus atos e ações.

O Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, consideram que pecar é ir de encontro a Lei Divina, a Palavra de Deus. É ofender a ordem e o amor gerados pelo Criador. No entanto, em ambas as religiões, existe o fato de que toda a humanidade está sujeita a cometer pecados.

De acordo com a Bíblia, Adão e Eva que foram o casal primordial da espécie humana, viviam no Jardim do Éden, em uma vida sem pecados. Viviam em alegria e paz. No entanto, foi a partir da tentação que o Diabo impôs a Eva, que ela acabou se corrompendo e incentivou Adão a fazer o mesmo, logo ambos haviam cometido do chamado "Pecado Original".


Pecado original
A "doutrina do pecado original", é específica do Cristianismo com ênfase no catolicismo
(protestantes, ortodoxos, coptas, espíritas, etc., não interpretam da mesma forma essa ideia). Tendo sido criada pelo bispo, Santo Irineu de Lyon (c. 130-202), e modificada nos séculos seguintes. A ideia do bispo era que a humanidade estava fadada ao pecado, devido ao crime cometido por Adão e Eva, e o mal que o homem vivenciava no mundo era consequência deste ato primário. Daí as necessidades dos sacramentos e comunhões vigentes na doutrina católica, o ato do batismo e a vinda de Cristo ao mundo para expiar este "pecado original".

Pintura retratando o Pecado Original, onde Eva aceitara o fruto dado pelo Diabo.
No entanto, existe uma outra linha de raciocínio que sugere que o pecado surgiu no mundo, não no ato de Adão e Eva em terem desobedecido a ordem de Deus, mas o pecado teria surgido com a revolta de Lúcifer (também chamado de Satã, Satanás, Diabo, Capeta, Príncipe do Mal, Príncipe das Trevas, etc.). Lúcifer foi o primeiro anjo a contrariar as ordens de Deus, e se posicionar contra a sua vontade.

No livro de Ezequiel, capítulo 28, o mesmo menciona a respeito do "Anjo Caído", embora que originalmente na constava o nome Lúcifer na obra, e ainda hoje em algumas versões da Bíblia, este nome não consta ou é mudado para Diabo ou Satã. De qualquer forma, diz-se que o pecado cometido por Lúcifer foi a soberba, que levou a inveja e a ira. Logo, ele conseguiu convencer outros anjos a se unirem a sua causa, então Deus os baniu do Céu, os jogando nas profundezas do Inferno. Os demais "anjos caídos" se tornaram os demônios.



Queda de Lúcifer
A queda de Lúcifer. Ilustração de Gustavo Doré para o livro Paraíso Perdido, de John Milton.
"Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas". (Ezequiel 28:14)

"Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti". (Ezequiel 28:15)

"Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas". (Ezequiel 28:16)

Com a queda de Lúcifer, este passaria a ser chamado de Satã, Satanás, Diabo, Capeta, demônio, etc., pois para alguns teólogos, Lúcifer era seu nome enquanto anjo, mas agora caído, já não merecia ser chamado de "O portador da Luz", a "Estrela do Amanhã", "A Estrela D'alva", significados de seu nome em latim e hebraico. Mas, passou a ser chamado de Satã e os outros nomes, que significam: acusador, caluniador, traidor, enganador.

Tomando este ponto de vista, Lúcifer teria trazido consigo o pecado à Terra, em sua passagem para a sua prisão no Inferno. E em vingança a Deus, teria atentado contra suas duas criações humanas, Adão e Eva. Ao conseguir corromper o casal, Lúcifer instaurava no mundo o pecado e a maldade.

Para Santo Irineu e Santo Agostinho (354-430), o ser humano nasceria com uma semente do pecado original, legado do crime cometido por Adão e Eva, no entanto, outros teólogos e filósofos descordaram desta ideia ao longo dos séculos. De fato, os judeus, muçulmanos, protestantes, espíritas, etc., não concordam com essa ideia que o homem nasça com esta nefasta herança em seu espírito, mas pelo contrário, todas as pessoas nascem puras, e são os seus atos que os fazem pecar e se corromperem. Pois Deus concedera o livre arbítrio.

Além disso, como fala no Novo Testamento, a crucificação de Cristo foi um ato de rendição, um ato de misericórdia e salvação, tendo expurgado os pecados do mundo naquela época. E a partir desse ato, crê em Cristo como caminho para a salvação (no caso dos cristãos) ou voltar a seguir o caminho correto da Lei de Deus (no caso dos judeus e muçulmanos).

Passado essa breve recapitulação da origem do Pecado e do Mal, pode-se vê que o pecado são atos, são escolhas que contrariam a Lei de Deus. Como Deus prega o bem, tudo que é ruim, é contrário a sua vontade. O diabo aproveita o livre arbítrio para agir com seus demônios para influenciar as pessoas a errarem. Embora que Deus esteja de braços abertos para acolher todos os seus filhos perdoando seus pecados, desde que aja profundo ressentimento, se não como se diz no judaísmo, cristianismo e islamismo: aqueles que não se arrependerem perante seus atos, ou que mentirem em julgamento ou mentirem em falso arrependimento, serão jogados ao Inferno.

"Pela graça sois salvos, por meio da fé...". (Efésios 2.8)

"Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça". (I João 1.9)

Listando os pecados capitais

Em seu livro Origens Sagradas de Coisas Profundas (Sacred Origins of Profound Things) Evágrio do Ponto listara oito pecados ou crimes, que comumente tentavam as pessoas. Estes pecados eram:

• Gula
• Avareza
• Luxúria
• Ira
• Melancolia
• Preguiça
• Orgulho
• Vangloria

Os pecados do Orgulho e Vangloria eram diferentes neste caso; onde Orgulho dizia-se respeito ao egocentrismo, excesso de confiança; por sua vez Vangloria seria a falta de humildade, a vaidade exacerbada. Porém, pelo fato de os dois conceitos serem similares, eles foram fundidos posteriormente.


Melancholia por Albrecht Dürer.
No caso da Melancolia essa é uma questão interessante. A Melancolia é o estado agudo de tristeza.
A tristeza é algo comum da vida humana, todos nós vivenciamos um momento triste, no entanto a melancolia advêm da depressão, levando o indivíduo a um estado depressivo, pessimista e enfermo. A Melancolia era vista como um pecado, pois ia de encontro aos desígnios de Deus, pois Deus vive pela alegria, pelo amor e pela paz; o melancólico perde a alegria, se torna pessimista, perde o amor ao próximo e por si, as vezes acaba se isolando, se torna revoltado, agressivo e em último caso comete suicídio.

No entanto, o fato da Melancolia ter sido excluída das listas posteriores dos pecados, ditos capitais, deveu-se por ser uma questão complexa de ser definida e julgada naquela época; além de não ser um ato, mas uma condição, um estado psicológico. Logo, como é dito que os pecados são atos e ações, assim a Melancolia não poderia ser vista como um pecado, pois não era um ato. Você não comete a Melancolia, você  a vivencia. Você pode até fazer algo para deixar uma pessoa triste, mas isso não significa que tal pessoa se tornará melancólica.

Deste ponto de vista, o Papa Gregório I (540-604), conhecido como São Gregório Magno, foi o responsável por atualizar a lista de Évagrio e de fato, originar o que hoje conhecemos como os Sete Pecados Capitais. Em sua lista, São Gregório retirou Melancolia, a substituindo pela Inveja, unificou Vangloria e Orgulho, em Vaidade ou Soberba, reduzindo para sete ao invés de oito pecados.


São Gregório Magno, o redator dos Sete Pecados Capitais.
São Tomás de Aquino (1225-1274) um dos maiores doutores da Igreja Católica, foi um dos responsáveis por realizar uma revisão na lista dos Sete Pecados. São Tomás não modificou a lista, mas voltou a interpretar os pecados, dissertando de forma mais profunda sobre seus aspectos. Outros teólogos também fizeram isso. Mas, para entendermos melhor essas mudanças e debates, é necessário conhecermos os aspectos que designam cada um destes males.

Os Sete Pecados Capitais

Cada autor listou em ordem crescente a gravidade dos pecados capitais, neste caso, a lista de São Tomás ficou idêntica a de São Gregório, mas os dois diferiram em relação a ordem destes pecados com a lista de Évagrio. No entanto, seguirei uma ordem aleatória.

GULA (Glutoneria)

Erroneamente as pessoas pensam que a Gula trata-se apenas em se comer em demasia, mas a gula também refere-se ao consumo de bebidas em demasia. A gula em si, é o descontrole na alimentação; e os alimentos são sólidos, líquidos e pastosos. Logo, comer e beber muito são atos que levam ao pecado da gula. Devemos ter em mente que o guloso não é apenas a pessoa gorda, os magros também pode ser gulosos. E há dois tipos de gula: a gula ocasional, onde uma pessoa excede-se em comida e bebida, geralmente por causa de uma festa ou evento do tipo; e a gula regular, a qual diz respeito ao indivíduo que a comete com frequência.

O pecado da Gula (detalhe do quadro Os Sete Pecados Capitais) de Hieronymus Bosch.
A obesidade, a embriaguez, a alcoolismo, etc., são consequências geradas pela Gula. Embora milhões de pessoas padeçam de fome diariamente, em alguns países como os Estados Unidos e o Brasil, o número de pessoas obesas vem aumentando nos últimos dez anos, e o fato é que em alguns casos tal tendência está começando ainda cedo, com as crianças.

A embriaguez é consequência da gula, embora que em alguns casos dependendo do organismo da pessoa, essa possa se embriagar com menos doses ou mais rapidamente, mas em geral as pessoas tendem a extrapolar para alcançar a embriaguez, e mesmo que tenha iniciado este estado, continuam a beber, a agravá-lo. O alcoolismo é atingido quando o indivíduo se torna dependente do álcool, quando se torna viciado, e necessita diariamente consumir tais bebidas e se embriagar para manter o vício. O alcoolismo é considerado uma doença, assim como a obesidade, e ambos possuem tratamento.

A Gula também pode gerar outros problemas de saúde como: hipertensão, problemas cardíacos, colesterol alto, problemas hepáticos, problemas nos rins, no estômago, pâncreas, intestino, diabetes, etc. Embora a gula seja neste caso encarado como um pecado, nosso dever não é descriminar os gulosos, mas orientá-los e ajudá-los a combater este problema.

No entanto, a Gula não resume-se apenas a este descontrole, ela também pode levar a pessoa a cometer outros pecados. Pois como São Gregório e São Tomás haviam alegado, os pecados podem conduzir para outros pecados, sejam eles capitais, viniais (pecados leves) e os mortais (pecados graves).

Gula e Avareza: A Avareza como será visto adiante, diz respeito ao ato descontrolado de tomar posse de algo, ganância, cobiça. Neste caso, algumas pessoas tendem a ter um descontrole em se apossar por alimentos, isso gera a "avareza da gula". Já conheci pessoas que tinham o hábito de esconder comida dos familiares e amigos, geralmente faziam isso com doces e bebidas alcoólicas. Em alguns casos, pessoas chegam a roubar outras para comer, mas não digo fazer isso quando se está padecendo de fome, mas fazer isso por causa de gula.

Gula e Preguiça: É visível que as pessoas obesas tendem a se tornar preguiçosas, pois o peso excessivo afeta a estrutura muscular e óssea do corpo, isso leva as pessoas a sentirem desconforto, a se cansarem mais facilmente e até mesmo dor, quando tem que andar por muito tempo, correr, ou fazer alguma atividade física. Logo, tais pessoas preferem evitar isso, e neste caso, a gula está contribuindo para a preguiça. Em alguns casos mais graves, a pessoa acaba se tornando profundamente sedentária, o que é chamado de obesidade mórbida. Nessa situação os indivíduos tendem a ficar presos a suas casas e até mesmo em seus quartos. As pessoas chegam a um estado que de tão pesadas não conseguem andar.

Gula e Ira: A Gula pode levar a Ira através da embriaguez. Os estado da embriaguez afeta as pessoas de diferentes formas: umas se tornam mais alegres, risonhas; outras ficam caladas, tristes; outras ficam sonolentas, com dor de cabeça; outras ficam tontas, desorientadas; mas, em alguns casos, alguns acabam ficando agressivos, perdem a paciência facilmente, irritam-se por questões simples e banais, e isso os leva a se enfurecerem. Algumas brigas em bares são causadas pela irritabilidade gerada pela embriaguez. A gula levou a ira.

Gula e Soberba: A Gula se torna Soberba, quando a pessoa passa a esbanjar a fartura de alimentos não como uma benção, mas como status social, como motivo de soberba, esnobação, ostentação. Ou seja, o indivíduo que tem dinheiro para comer e beber muito, e que esbanja isso.

Mas, até aqui eu expliquei o que seria a Gula e suas consequências e ligações com outros dos pecados capitais. Mas, afinal, por que comer muito e beber muito é considerado pecado?

Para Evágrio e Santo Agostinho, a Gula era um pecado, pois representava o excessivo gosto por questões materiais. Os alimentos são matéria terrena, na qual sua função é nutrir o organismo de forma a mantê-lo em funcionamento, em outras palavras, pessoas, animais e vegetais se alimentam para poderem sobreviver. Mas, quando esta questão é extrapolada, quando a necessidade é substituída pelo excesso, pelo prazer em se comer e beber, isso se torna um pecado.

Para Evágrio as pessoas deveriam evitar os vícios e de se apegarem as coisas mundanas. Se alimentar é essencial, porém, naquela época se entendia que a pessoa que se dedicava a passar parte do seu dia apenas comendo e bebendo, acabava esquecendo de outros afazeres, negando obrigações, e de certa forma esquecendo-se de Deus.

O se "esquecer" de Deus refere-se a duas linhas de entendimento: a primeira, é que o glutão ou guloso, não passaria a dedicar parte de seu tempo a orar para Deus, e ao mesmo tempo não realizaria outras atividades de comunhão. Segundo, a Gula vai de encontro a ideia pregada por Cristo durante a Última Ceia, onde o mesmo compartilhou com os apóstolos o pão e o vinho, e realizou o simbolismo de que o pão seria sua "carne" e o vinho o seu "sangue".

Quando a pessoa come de forma gulosa, é considerado uma afronta a essa metáfora de Cristo e ao ensinamento da temperança e da partilha. Ou seja, aquele que come muito e bebe muito, de certa forma está tirando o acesso a tais alimentos de outras pessoas, está agindo de forma gananciosa e egoísta.

"E dez jeiras de vinha não darão mais do que um bato; e um ômer de semente não dará mais do que um efa". (Isaías 5:10)

"Ai dos que se levantam pela manhã, e seguem a bebedice; e continuam até à noite, até que o vinho os esquente!" (Isaías 5:11)

"E harpas e alaúdes, tamboris e gaitas, e vinho há nos seus banquetes; e não olham para a obra do Senhor, nem consideram as obras das suas mãos". (Isaías 5:12)

"Então os cordeiros pastarão como de costume, e os estranhos comerão dos lugares devastados pelos gordos". (Isaías 5:17)

“Não estejas entre os bebedores de vinho nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza; e a sonolência vestirá de trapos o homem". (Provérbios 23:20-21)

A Gula também vai de encontro ao jejum imposto durante a Quaresma para os cristãos, e no caso dos muçulmanos no Ramadã. No caso dos cristãos, hoje nota-se que as celebrações da Páscoa e do Natal, tenham em parte perdido seu lado religioso, fraterno e amoroso, em detrimento a outras questões. As crianças aguardam a Páscoa por causa dos ovos de chocolate, embora que alguns adultos também fazem isso. Na ceia natalina, as pessoas aguardam para comerem muito e beberem muito. Já tive a triste visão de passear na noite de Natal e vê pessoas se embriagando em bares, restaurantes, lanchonetes, etc. A ceia é para simbolizar a comunhão, a prosperidade e a dá graças ao alimento, e não para ser um dia no qual todos cometem a gula.

Em 1589 o padre, teólogo e demonologista alemão, Peter Binsfeld (ca. 1540 - ca. 1598) escreveu uma lista onde associava cada um dos Setes Pecados Capitais a um demônio específico, os quais ele chamou de "Sete Príncipes do Inferno". Cada um deste demônios seriam os responsáveis por gerar as tentações nos humanos.


Belzebu
No caso da Gula, o demônio responsável era Belzebu. Hoje o nome Belzebu é sinônimo de demônio e até mesmo do Diabo, mas na nomenclatura de Binsfeld, este era uma entidade diferente. Belzebu era associado as moscas, a pestilência (ou seja, aquele que transmite doenças) e a gula. Neste caso, há uma analogia interessante entre as moscas e a gula. É comum vermos comida estragada estar repleta de moscas, vermes, baratas, ratos, etc., para algumas crenças antigas, as moscas eram enviadas por Belzebu para se apossarem daquele alimento estragado ou de carniça, e enquanto se alimentavam, poderiam "transmitir através do ar" algumas doenças. Pelo fato das moscas estarem associadas a esta analogia, algumas pessoas evitavam chegar perto destes insetos, temendo serem contagiados com alguma doença ou serem tentados a pecarem praticando a gula.

Representação do demônio Belzebu no Dicionário Infernal de Collin de Plancy. Século XIX.
O nome Belzebu foi mal apropriado pelos antigos cristãos, advindo do nome de duas divindades tidas pagãs para o Cristianismo, mas de origem fenícia. O nome Belzebu seria uma união dos nomes Baal e Zebub, os quais eram os nomes de dois deuses fenícios. Baal era o deus dos trovões, da agricultura, da ordem, do governo, mas também estava associado a morte. Por sua vez, Zebub ou Zebul, era o deus das moscas e da peste. A partir deste dois deuses, os primeiros demonologistas os associaram como sendo uma divindade infernal.

Na Divina Comédia, famoso poema italiano escrito por Dante Alighieri (1265-1321), Dante abordara os pecados em seu fantástico livro, onde ele realizara uma viagem através do Inferno, Purgatório e o Paraíso, a fim de reencontrar sua amada e falecida, Beatriz. Durante sua ousada e perigosa travessia pelo Inferno e o Purgatório, onde foi guiado pelo poeta Virgílio, Dante encarou o horror nestes locais, e descrevera segundo sua concepção, como alguns pecados, o que incluía os sete pecados, seriam castigados no Inferno e no Purgatório.

Dante concebe o Inferno dividido em nove ciclos e o Purgatório em oito terraços. Neste caso os pecadores da gula eram castigados no Terceiro Ciclo do Inferno, onde se encontravam sob uma forte tempestade com chuva, neve e granizo, além de serem arranhados e devorados por Cérbero, o cão de três cabeças que na mitologia grega era o guardião dos Portões do Inferno.

No Purgatório, a gula é castigada no sexto terraço. Neste caso, os gulosos se encontravam nus e com aparência esquelética, aparência de pessoas passando fome e com sério grau de desnutrição; com os ossos salientados sob a carne magra. Aqui a pena para a gula é oposto do que os gulosos fizeram em vida, ou seja, em quanto vivos, abusaram da comilança e da bebedeira, e agora no Purgatório passariam fome, na tentativa de se redimirem de seus pecados e conseguirem o perdão, senão, cairiam no Inferno, onde seriam atacados por Cérbero.

No mundo de hoje onde há abundância de fast-food, doces, salgadinhos, guloseimas, e diversos tipos de bebidas como refrigerantes, sucos industrializados, bebidas alcoólicas, etc. A Gula é tentadora. E diariamente os comerciais de alimentos e bebidas nos bombardeiam com informações para consumir seus produtos. A ONU em um relatório publicado no ano de 2013, estimava que pelo menos 1,3 bilhões de pessoas passavam fome no mundo, assim como, pelo menos 1 bilhão de pessoas, não possuíam acesso a água potável.

AVAREZA (Ganância, Cobiça)

O pecado da avareza deve ser reinterpretado, pois para alguns teólogos, o conceito seria Ganância e não Avareza. O conceito de avarento de certa forma se difere do conceito do pecado da Avareza. Uma pessoa avarenta é aquela que possui um possessivo apego por bens materiais, seja dinheiro, objetos, etc.

No entanto, quando analisamos o conceito histórico deste pecado ele se origina da palavra hebraica mammon que significa literalmente "dinheiro". A ideia de mammon era que a pessoa passava a se tornar gananciosa por dinheiro. Na Bíblia há citações sobre tal aspecto.

"Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom". (Mateus 6:24)

"Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores". (1 Timóteo 6:10)

"Então Jesus, olhando em redor, disse aos seus discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!" (Marcos 10:23)

"E os discípulos se admiraram destas suas palavras; mas Jesus, tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!" (Marcos 10:24)

"Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo". (Êxodo 20:17)

"Mas ai de vós, ricos! porque já tendes a vossa consolação". (Lucas 6:24)

Por estas citações da Bíblia, nota-se que a avareza e a ganância eram criticadas por Cristo, pois a avareza leva ao egoísmo pela posse de algo, e não querer que alguém compartilhe daquilo, e também leva ao ponto de não emprestá-lo. Por sua vez, a ganância motiva a pessoa a querer sempre ter mais, sempre enriquecer. No entanto, com o tempo, a avareza e a ganância deixaram de referirem-se apenas ao dinheiro e passaram a personificar outras questões da vida.

O pecado da Avareza (detalhe do quadro Os Sete Pecados Capitais) de Hieronymus Bosch.
Se originalmente a avareza e a ganância ou cobiça referiam-se apenas a posse do dinheiro, hoje tal pecado compreende um leque mais amplo. Hoje já podemos falar em ganância por poder, ganância por propriedades (casas, apartamentos, fazendas, etc.), ganância por fama, status social, etc.

Avareza pelos mais diversos tipos de objetos e até mesmo aparelhos e máquinas (avareza pelo carro, pelo celular, computador, etc.). Os chamados colecionadores compulsivos, são avarentos, pois acabam se viciando em acumular cada vez mais distintos objetos, e além de serem avarentos, pois não se livram deste objetos, onde alguns nem possuem utilidade. Tais pessoas também se tornam gananciosas e sempre querem comprar mais, coletar, aumentar suas coleções. Tais aspectos hoje são encarados como um distúrbio comportamental.

Avareza com alimentos, algo já comentando anteriormente, e ao mesmo tempo, a cobiça por alimentos, pode levar a Gula. No entanto, a avareza e a ganância também pode incidir na coisificação de sentimentos, ou seja, enxergar uma pessoa como se fosse um "objeto".

Por exemplo, o ciúmes é um sentimento avarento, onde o indivíduo passa a conceber o alvo de seu ciúmes como se fosse uma posse, logo, o ciumento passa a interferir na vida desta pessoa, a isolando de certas companhias, lhe impondo restrições e proibições. Neste ponto o ciúmes personifica a avareza pelo outro. O ciúmes pode se dá entre casais, irmãos, amigos, mães e filhos, pais e filhos, etc.

Não obstante, a ganância também pode ser aplicada as pessoas. Certos indivíduos cobiçam certas pessoas, sejam homens ou mulheres, geralmente no intuito ligado a sexualidade, o que perfaz uma ligação a Luxúria e a Inveja.

Outro aspecto a salientar, é que avareza e a ganância também podem se referir a ter poder, controle e conhecimento. Certas pessoas são ávidas por querer mais autoridade e não largarem seus cargos de chefia, de comando. Por outro lado, algumas pessoas são gananciosas pelo conhecimento, querem saber de tudo, se empenham em estudar, mas no fim guardam todo aquele conhecimento para si mesmos, se tornam avarentos.

A usura também é um crime ligado a este pecado. O pecado da usura durante a Idade Média e Moderna, basicamente referia-se a cobrança indevida, geralmente associada com juros, ou através de outra forma de valor. Por exemplo, se uma pessoa empresta-se dinheiro, ela deveria recolher apenas o mesmo valor que havia emprestado, jamais cobrar juros em cima disto, ou pedir algo a mais do que o valor emprestado.

Esse algo não necessariamente seria dinheiro, mas algum objeto, alimento, propriedade, favor, etc. Além disso, recomendava-se evitar emprestar-se dinheiro e viver da cobrança de juros, pois tal prática estaria associada ao pecado da Preguiça. A usura também era interpretada como uma ideia de impor valores a algo desnecessário; por exemplo, em certas épocas a Igreja Católica chegou a cobrar dos fiéis uma "taxa contribuinte", quando os mesmos iam se confessar. A taxa não era optativa, mas obrigatória, e tal fato foi um dos fatores que levou Martinho Lutero a criticar a Igreja Católica em suas 95 teses.

Mas devemos ter em mente que sonhar, desejar e almejar algo, não é propriamente cobiça. Todos os humanos possuem sonhos, possuem expectativas para o futuro, possuem esperanças de conseguir um bom emprego, uma boa casa, um companheiro amoroso, poder criar os filhos de forma justa e saudável; ter estudo; passar para algum  concurso público; viajar para tal lugar, etc. Isso não é pecado. Mas, quando tais sonhos e desejos se tornam egoístas, saem fora do controle e a pessoa tende até mesmo a agir de forma inescrupulosa, isso se torna pecado.

Avareza e Soberba: A avareza já é considerada um ato egoísta, possessivo e obsessivo por algo, alguma coisa ou alguém. Quando o avarento passa a se esnobar por suas posses, ou repudiar críticas as suas atitudes, ele acaba se tornando soberbo.

Avareza e Gula: Neste caso, algumas pessoas tendem a ter um descontrole em se apossar por alimentos, isso gera a "avareza da gula". Já conheci pessoas que tinham o hábito de esconder comida dos familiares e amigos, geralmente faziam isso com doces e bebidas alcoólicas. Em alguns casos, pessoas chegam a roubar outras para comer, mas não digo fazer isso quando se está padecendo de fome, mas fazer isso por causa de gula.

Ganância e Inveja: A Inveja que se tem pelas posses de outra pessoa, pode servir de catalisador para o ganancioso querer superar aquela pessoa. Seja se tornando mais rico, possuindo mais casas, apartamentos, tendo mais carros, conseguindo um cargo de trabalho superior ao do outro; tendo mais autoridade, poder, etc.

Cobiça e Luxúria: Como foi dito, a cobiça não se limita apenas a questões materiais, mas a outros aspectos, e neste caso, a cobiça por mulheres e homens, isso passa a ser chamar de promiscuidade. Ou seja, o indivíduo que possui relações com vários indivíduos visando apenas o prazer sexual, e nenhum compromisso ou preocupação com os sentimentos do outro.

Avareza/Ganância e Ira: Os avarentos quando questionados ou confrontados, podem se irar facilmente, pois se sentem ameaçados, encurralados, pois em alguns casos não se reconhecem como estando errados. Por sua vez, a ganância pode levar o indivíduo que almeja conquistar algo, usar a força, violência, trapaça, dissimulação, etc., como forma de conquistar seu objetivo de se apoderar daquilo que cobiça.


Mamon
Peter Binsfeld definiu que o demônio que representa a Avareza era Mamom. Originalmente Mamon
não era uma divindade, mas se tornou um demônio pela demonologia, passando a ser o responsável por este pecado, por incentivar o apego e a ganância as coisas materiais, e até mesmo chegar a ser idolatrado, como foi sugerido antigamente.

Retratação de Mamon, o demônio da Avareza/Ganância, por Collin de Plancy. Mamon normalmente é retratado como um homem usando boas vestes, mas de aparência grotesca.
Na Divina Comédia os avarentos são castigados no Quarto Ciclo do Inferno. O castigo proposto por Dante foi baseado no castigo de Sísifo, um rei na mitologia grega, o qual foi sentenciado a ter que carregar uma pedra montanha acima, mas antes de chegar ao topo, a pedra caia e retornava até a base, então Sísifo descia e começava tudo novamente. Dante descreve que os avarentos ficavam vagando pelo quarto ciclo, empurrando pesadas pedras. As pedras simbolizavam o apego pelos bem materiais, o resultado de suas possessões e obsessões.

No Purgatório, os avarentos se encontravam no Quinto Ciclo, onde os mesmos ficavam deitados de bruços no chão, agarrando-se a arranhando a terra. Neste caso, o apego a terra, seria uma referência ao apego aos coisas mundanas.

Na atual sociedade capitalista que muitos países vivenciam, a avareza, a ganância e a cobiça se tornaram crescentes. A própria ideia de capitalismo por si só é gananciosa. Somos levados e influenciados a enriquecer a todo custo, e termos bons padrões de vida, iguais aos modelos que servem de referência, modelos estes divulgados pelas mídias. Se não conseguirmos alcançar tais padrões, somos excluídos e marginalizados.

Algumas pessoas que almejam alcançar estes padrões acabam vivendo cheias de dívidas, apenas para manter o status social de possuir um bom celular, smartphone, um bom carro, uma boa casa, viajar muito, usar roupas caras, etc. Tais pessoas vivem de aparência. Tornando-se avaras para algumas coisas e esnobes para outras. Em outros casos, certos indivíduos partem para a criminalidade para sobreviver ou para enriquecer. Somos forçados a consumir cada vez mais, a nos apegarmos ao dinheiro e aos bens materiais.

PREGUIÇA (Indolência, Acídia)

A preguiça, indolência ou acídia é um estado físico ou mental de lentidão, morosidade e falta de ação. Normalmente a preguiça é associada ao ato de trabalhar, seja nos mais diversos tipos de trabalho. No entanto, a preguiça não é algo apenas do ser humano, alguns animais também compartilham a preguiça, não falo do bicho-preguiça em si, mas animais como cães, gatos, ursos, vacas, porcos, etc., apresentam estados de preguiça.

Além disso, devemos ter em mente que nem toda a preguiça é pecado. Por exemplo, a preguiça gerada por cansaço ou fadiga, seja corporal e mental; a preguiça gerada por alguma enfermidade; a preguiça gerada por sonolência, pois a pessoa não dormiu direito, ou está com insônia, etc. Tais condições não podem ser consideradas como pecado da preguiça, pois estão sendo geradas por outros fatores, e não consistem numa escolha. Devemos nos lembrar que todos os pecados são atos, são escolhas, são ações, são decisões. O preguiçoso escolhe agir desta forma.

Consumir certos tipos de drogas que retardam a faculdade de raciocinar ou geram relaxamento muscular, é encarado como Preguiça. Pois em certos casos, devemos consumir determinados remédios como tranquilizantes, calmantes, relaxantes, etc., para tratar de determinados problemas de saúde, porém, quando as pessoas utilizam drogas legalizadas e ilícitas para sentir a reação de tais substâncias, isso é considerado como Preguiça, pois o indivíduo está escolhendo reagir a aquele estado não comum, e ao mesmo tempo está se viciando naquilo. O vício está relacionado a Cobiça. A droga pode levar o viciado a atos de Ira, Luxúria, Inveja, Cobiça, Preguiça, e até a outros atos como roubar, furtar, enganar, mentir, agredir, fugir, ameaçar, etc.

Mas, afinal, por que a Preguiça é um pecado capital? Originalmente a Preguiça era entendida como a falta de desempenho dos cristãos em orar para Deus, em participar da comunhão, em servir a Deus, etc. Ainda hoje tal contexto é válido.

Mas, hoje a Preguiça também é entendida como a falta de disposição não apenas com Deus, mas para com o outro e para consigo. Pois algumas pessoas podem ter disposição para certas atividades, mas para outras se mostram preguiçosas, pois aquilo não lhe atenderia alguma necessidade. Visar trabalhar, ajudar e agir ao bel-prazer ou em causa própria, é caminhar para o orgulho e a cobiça.

A Preguiça também já foi entendida como vadiagem. Neste sentido, a pessoa que não queria trabalhar ou queria viver ociosa, era considerada um vadio, um vagabundo, pois estaria vivendo a custas de outros. Ou se dedicaria a outros afazeres como se divertir ou cometer crimes. Pois consideraria o crime um caminho mais fácil para se conseguir o que desejava. Ainda hoje, algumas pessoas possuem esta noção.

No entanto, não podemos julgar que todo mendigo, pedinte, morador de rua, seja um vagabundo, um preguiçoso. Não conhecemos a realidade de vida daquela pessoa. De fato, uns podem ser preguiçosos mesmos, mas outros vivem naquela condição, pois a sociedade lhes foi negligente, não lhes dera meios para poder trabalhar, se sustentar, ter uma moradia, estudar, viver de forma digna.

Preguiça e mentira: Em alguns casos a Preguiça está relacionada com a mentira. Algumas pessoas que são preguiçosas, mas não querem ser chamadas assim, inventam mentiras para justificar sua condição. Dizem que possuem alguma doença ou problema de saúde que não os permite trabalhar em algum emprego ou afazer; ou em outros contextos, inventam pequenas mentiras para não realizar outros tipos de atividades. Mentir para não ter que lavar a louça, ter que ir ao mercado, ter que ir ao banco, para pagar as contas, etc. Isso são mentiras rotineiras que acredito que muitos já devem ter dito ou ouvido, mas aqui, a mentira esta relacionada a Preguiça. Pois você não está querendo ajudar, e além disso estas mentindo. Embora a mentira não seja um pecado capital, e as vezes são necessárias, de qualquer forma, é melhor evitá-las.

Preguiça e negligência: A Bíblia prega que os cristãos devem viver de forma harmoniosa e pacífica, e devem ajudar o próximo. Por exemplo, se você se encontrar diante de um acidente de carro, e simplesmente negar-se a socorrer os acidentados, você estará sendo negligente, estará cometendo o pecado da Preguiça, pois foi indiferente a outro, ainda mais num momento de perigo. Se você vê alguém sendo agredido na rua por injustiça, e não ajudar, é negligência. A ajuda não precisa ser direta, hoje telefonar para a polícia, já é uma forma de ajudar.

Preguiça e desleixo: Ser desleixado com sua vida, com sua saúde; ser desleixado com seus compromissos, afazeres e deveres, etc. É entendido como Preguiça, pois a pessoa está negligenciando a si mesmo, e como Cristo mesmo disse: "Amai o próximo como a si mesmo". Ou seja, se você não cuida de si mesmo, não tem responsabilidade com seus deveres, como pretendes cuidar e ajudar o outro? Alguns poderão dizer que conseguem fazer isso, que com os outros se desempenham. Então vos falo, que é menos mal. No entanto, também devemos cuidar de nós. E o cuidar de nós, não significa sermos vaidosos ou egocêntricos, mas simplesmente dá atenção necessária para o nosso bem-estar, desde que não façamos mal a alguém, para se ter isso.

Preguiça e Soberba: A Preguiça se torna Soberba quando a pessoa passa a desejar algo ou querer receber algum mérito, mas não se empenhou em conseguir o que queria, no entanto, tal indivíduo se sente como se estivesse certo, como se fosse de seu direito. Querer algo e não fazer nada para conseguir, é visto como Preguiça. Por outro lado, a Preguiça também se torna Soberba, quando a pessoa passa a se reconhecer tendo mérito sobre algo que não fez, mas que lhe fora proporcionado por outros. E num terceiro aspecto, A Soberba surge da preguiça, quando você se nega a fazer algo por motivos egoístas, vaidosos, etc.

"E, saindo perto da hora undécima, encontrou outros que estavam ociosos, e perguntou- lhes: Por que estais ociosos todo o dia?". (Mateus 20:6)

"Disseram-lhe eles: Porque ninguém nos assalariou. Diz-lhes ele: Ide vós também para a vinha, e recebereis o que for justo". (Mateus 20:7)

Preguiça e Gula: É visível que as pessoas obesas tendem a se tornar preguiçosas, pois o peso excessivo afeta a estrutura muscular e óssea do corpo, isso leva as pessoas a sentirem desconforto, cansaço mais facilmente e até mesmo dor, quando tem que andar por muito tempo, correr, ou fazer alguma atividade física. Logo, tais pessoas preferem evitar isso, e neste caso, a gula está contribuindo para a preguiça. Em alguns casos mais graves, a pessoa acaba se tornando profundamente sedentária, o que é chamado de obesidade mórbida. Nesta situação, os indivíduos tendem a ficar presos a suas casas e até mesmo em seus quartos. As pessoas chegam a um estado que de tão pesadas não conseguem andar.

Preguiça e Inveja: A Preguiça interage com a Inveja quando uma pessoa deixa de ajudar outra por ter inveja desta pessoa, e querendo vê o mal para aquela pessoa, se torna negligente ou mentirosa.


Belfegor
Segundo Peter Binsfeld, o demônio que representava a Preguiça era Belfegor. Originalmente Belfegor era uma divindade moabita, relacionada ao fogo e outras características. O mesmo era retratado de várias formas, mas os moabitas o representavam com um homem velho e barbudo, com uma língua em forma de pênis.

Belfegor era o responsável por atiçar a preguiça nas pessoas, levando elas se afastarem de Deus, deixando de orar, de ir a missa ou ao culto, de participar da comunhão; incentivava as pessoas a se tornarem ociosas, vagabundas, a serem desleixadas, negligentes, etc.

Na Divina Comédia, os preguiçosos eram castigados junto aos irados, no Quinto Ciclo do Inferno, onde ambos se debatiam e lutavam dentro do rio Estige, neste poema representado por um lago lamacento.

Já no Purgatório, os preguiçosos eram castigados no Quarto Ciclo, onde eram sentenciados a ficaram dando voltas na montanha, com os pés doendo, cheio de calos e até sangrando. Enquanto faziam essa difícil caminhada, uns choravam e outros rezavam pedindo perdão.

Embora vivemos numa sociedade onde somos forçados a trabalhar constantemente para nos adequarmos ao sistema e conseguirmos sobreviver neste mundo de competição acirrada, a Preguiça impera nos aspectos anteriormente mencionados. Muitas pessoas querem enriquecer, mas não querem trabalhar; algumas agem de forma negligente; algumas pessoas partem para o crime; algumas preferem o ócio; algumas preferem se acomodar sob o vício das drogas, viver sob a preguiça destas substâncias, e assim por diante. E não podemos esquecer, que algumas pessoas se esquecem do lado espiritual, do dever com Deus. Tornam-se negligentes com a religião.

LUXÚRIA


Detalhe do quadro O Jardim das Delícias de Hieronymus Bosch, 1504.
O sexo e a nudez não são pecados. De fato Adão e Eva viviam nus no Jardim do Éden, eles não possuíam malícia por causa da condição que se encontravam. Foi depois do "Pecado Original", que passaram a ter vergonha da nudez, e desenvolveram a malícia. O sexo é o meio pelo qual os seres vivos se reproduzem, principalmente os animais. De fato, a Igreja por longos séculos concebeu o sexo para fins de reprodução, embora que nem todos os cristãos seguissem isso, e ainda hoje não seguem tal referência.

A nudez por si é um aspecto pessoal, embora tal particularidade varei de pessoa para pessoa, alguns são mais libertinas do que outras, e isso leva a Luxúria. Atualmente nossas culturas e sociedades são moldadas sob o princípio do uso de roupas, pois a nudez pública é atentado ao pudor, é um crime. Isso é um legado de milhares de anos, no entanto, ainda hoje existem certos povos que vivem nus, em alguns lugares da América do Sul, África e Oceania, e entre eles não existe a malícia e libertinagem pelo fato de estarem nus. Tais pessoas, enxergam a nudez como algo natural.

Na história do Brasil, quando os portugueses chegaram em 1500 e viram os indígenas nus, eles relataram que tais homens e mulheres não sentiam vergonha de sua nudez, eram ingênuos para a libertinagem e a malícia.

Se tomarmos outro exemplo, os gregos antigos possivelmente foram os primeiros a definir a ideia de "nu artístico". Os gregos costumavam fazer estátuas, pinturas, desenhos, etc., de homens e mulheres nus. Até os indianos também possuem imagens do tipo. Os Jogos Olímpicos da Antiguidade eram competidos nus. A nudez entre os gregos antigos não era totalmente proibida publicamente, havia determinadas condições para a mesma. Os romanos que adotaram a arte grega como modelo, também enxergavam o "nu artístico", embora de forma mais conservada, pois os esportes não eram praticados nus.

No período do Renascimento entre os séculos XIV e XVII, o nu artístico voltou à tona. As pinturas de Michelangelo para a Capela Sistina, estão cheias de personagens nus ou semi-nus. O Davi de Michelangeo está nu.

Detalhe do quadro O Jardim das Delícias de Hieronymus Bosch, 1504.
Ora, se a nudez e o sexo não são pecados, embora sejam infrações morais e sociais, desde que sejam cometidos em locais públicos ou de forma imprudente, por que a Luxúria seria um pecado?

A Luxúria é um pecado, pois diz respeito aos excessos pela sexualidade, tornando-se libertina, devassa, lasciva. A Luxúria é o apego excessivo aos prazeres mundanos que leva os homens e mulheres afrontarem seu lado espiritual e a desrespeitarem Deus e outras pessoas. O luxurioso não é apenas aquele que prática alguns atos que será visto adiante, mas também se encontra no indivíduo que gosta de assistir, conversar e pensar sobre isso regularmente.

"Tendo os olhos cheios de adultério, e não cessando de pecar, engodando as almas inconstantes, tendo o coração exercitado na avareza, filhos de maldição". (2 Pedro 2:14)

"Nem te deitarás com a mulher de teu próximo para cópula, para te contaminares com ela". (Levítico 18:20)

"A nudez de uma mulher e de sua filha não descobrirás; não tomarás a filha de seu filho, nem a filha de sua filha, para descobrir a sua nudez; parentas são; maldade é". (Levítico 18:17)

"Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério". (Mateus 5:27)

"Fugi da fornicação. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo". (1 Coríntios 6:18)

"E eles te tratarão com ódio, e levarão todo o fruto do teu trabalho, e te deixarão nua e despida; e descobrir-se-á a vergonha da tua prostituição, e a tua perversidade, e as tuas devassidões". (Ezequiel 23:29)

"A luxúria, e o vinho, e o mosto tiram o coração". (Oséias 4:11)

A Luxúria ao longo da História foi considerada motivo para que algumas práticas imorais, abusivas e cruéis fossem feitas. Dentre algumas estão:

• Fornicação: A fornicação é um antigo termo usado para se referir ao sexo fora do casamento e ao sexo sem compromisso. Num sentido mais antigo e conservador, os namorados não poderiam fazer sexo, pois isso seria fornicar. Ainda hoje, algumas pessoas pensam assim.
• Adultério: Traição carnal e sentimental em relação ao cônjuge.
• Prostituição: Uso do corpo como forma de ganhar algo (geralmente dinheiro). Ao mesmo tempo, a disponibilidade de prostitutas e gigolôs, incentivam algumas pessoas mais libertinas a fornicação, ao adultério e a promiscuidade.
• Orgia: Sexo grupal.
• Ninfomania e Satiríase: A ninfomania (desejo excessivo por mulheres) e a satiríase (desejo excessivo por homens) compreendem o que se chama de Desejo Sexual Hiperativo (DSH), onde os médicos consideram como uma doença comportamental e psicológica, que leva a obsessão e a compulsividade pelo sexo. O DSH também possui outros aspectos que o compõe. Mas todos são reconhecidos como uma doença e devem ser tratados.
• Pedofilia: Abuso sexual de crianças.
• Corrupção de menores: Abuso sexual de adolescentes.
• Zoofilia: Relação sexual entre pessoas e animais.
• Necrofilia: Relação sexual com cadáveres.
• Incesto: Relação entre parentes próximos. Irmãos com irmãs, pais com filhas, mães com filhos, tios com sobrinhas, tias com sobrinhos, etc.
• Estupro: Ato sexual violento e abusivo contra alguém.
• Pornografia: Exibição de imagens e vídeos de pessoas nuas que conotem a relação sexual ou incentivem o desejo sexual. A pessoa que gosta de vê pornografia ou que trabalhe com isso, é considerado um luxurioso.
• Masturbação/Onanismo: Ato de auto-simulação do prazer sexual. Alguns psicólogos consideram uma prática normal, embora que em algumas épocas, tal prática foi proibida pela Igreja e a sociedade, e considerada ofensiva e estimuladora da luxúria.
• Voyeurismo: Consiste em atiçar o desejo sexual através de se observar fotos de pessoas nuas, de vê filmes pornográficos, de vê pessoas transando, e até mesmo de vê pessoas usando roupas sensuais ou fazendo movimentos sensuais. O voyeurismo as vezes está relacionado a masturbação.
• Homossexualismo: Por um bom tempo a homossexualidade foi considerada como um estado que se gerava a partir da Luxúria, onde levava pessoas do mesmo sexo a se relacionarem entre si, gerando um desvio comportamental. Hoje em dia não há provas que relacionem a Luxúria com a escolha da opção sexual das pessoas.
• Fetichismo: Tendência psicológica sexual que atiça a líbido através de "fantasias".
• Striptease: O striptease é o ato de se despir com sensualidade, atiçando o desejo sexual. Normalmente é usado como um "produto" que é vendido em prostíbulos, boates, bares, etc. O striptease comercial geralmente está associado a encenação, dança e uso de fantasias. No entanto, alguns casais praticam o striptease entre si.
• Malícia sexual: A palavra malícia está ligada a se fazer o mal, seja através de palavras, atos, gestos, imagens, etc. No entanto, malícia pode significar astúcia, esperteza. Todavia, é mais utilizada no sentido negativo. A malícia sexual, consiste no uso de palavras, gestos, atos, imagens, etc., que insinuem a relação sexual, a sexualidade, a sensualidade, os órgãos sexuais, etc. A malícia nem sempre aparece de forma direta, geralmente vem através de "símbolos" que associados levam a tal pensamento, como usar imagens que conotem alguma ligação com os órgãos sexuais, ou usar palavras conotando duplo sentido, pois a gíria a a linguagem popular possuem essa liberdade de explorar a construção semântica.
Sadismo sexual: A pessoa tende a sentir prazer em infringir dor ao parceiro. Neste caso a um consenso entre ambas as partes.
• Masoquismo sexual: A pessoa tende a sentir prazer em ser de alguma forma machucada. Neste caso a um consenso entre ambas as partes.
• Promiscuidade: Relação sexual sem compromisso. Geralmente é comum entre indivíduos luxuriosos. Os promíscuos são bastante libertinos, e socialmente são vistos como depravados.
• Persevões sexuais: Práticas consideradas estranhas e imorais para alguns. Sexo anal e sexo oral são exemplos. Contudo, no passado em dadas épocas, a Igreja considerou tais práticas como abusivas, imorais e passíveis de pena, pois não seriam "naturais".
• Assédio sexual: Consiste num ato onde alguém inflige através de palavras, sinais, imagens, gestos, etc., um comportamento abusivo e perturbador que gera desconforto, constrangimento, ou de alguma forma se torna hostil e intimidador. Geralmente a pessoa que pratica o assédio tende a querer ter relação sexual com a vítima, ou apenas faz isso por outro motivo que gere problemas para aquela pessoa. O assédio é mais comum nos locais de trabalho, de homens para mulheres.

Até aqui vimos como as situações onde a Luxúria se emprega são muitas. Mas até aqui mostrei algumas condições onde a Luxúria ocorre ou se expõe, mas agora falarei da ligação da Luxúria com alguns dos pecados capitais.

Luxúria e Inveja: A Luxúria se alia a Inveja quando você inveja alguém que possua como namorado(a), noivo(a), marido ou esposa, alguém que lhe atraia sexualmente. Sendo assim a pessoa tem inveja por causa disso. E tal inveja pode levar a cobiça. Essa inveja também pode se manifestar ao se invejar a vida sexual de outra pessoa.

Luxúria e Cobiça: Como foi dito, a cobiça não se limita apenas a questões materiais, mas a outros aspectos, e neste caso, a cobiça por mulheres e homens, isso passa a ser chamar de promiscuidade. Ou seja, o indivíduo que possui relações com vários indivíduos visando apenas o prazer sexual, e nenhum compromisso ou preocupação com os sentimentos do outro.

Luxúria e Ira: A Ira surge com a Luxúria de duas formas: a primeira, quando alguém é traído e evidentemente se chateia e se revolta pela traição, embora que dependendo do indivíduo essa ira poderá ser mais intensa ou não, no que as vezes leva até mesmo a violência ou o assassinato. A segunda forma vem do abuso, quando uma pessoa luxuriosa ou movida pela luxúria acaba violentando alguém. O estupro, pedofilia, corrupção de menores, são tipos de luxúria associado a ira. No caso da pedofilia e da corrupção de menores, mesmo que não aja violência física, pode haver violência psicológica, sob a forma de ameaças. Isso leva a vítima a ficar calada, temendo a ameaça e até mesmo a mentir para não entregar a pessoa que está abusando dela.

Luxúria e Soberba: A Luxúria pode ser vaidosa quando o homem ou a mulher utilizam sua beleza para atiçar o desejo sexual em outras pessoas, e ao mesmo tempo se regojizam por causa disso, pelo fato de serem almejados. A Luxúria se une a Soberba também, quando a pessoa passa a se gabar de suas proezas sexuais, contando que fez isso, fez aquilo, que teve relações com tantos homens ou mulheres e até com ambos. O luxurioso orgulhoso não se vê como culpado de seus atos, mas sente admiração pelo que faz, e em alguns casos gosta de se esnobar.


Asmodeus
Na lista de Peter Binsfeld o demônio da Luxúria era o terrível Asmodeus, um demônio representado
tendo três cabeças: uma cabeça de touro, uma cabeça humana que cuspia fogo e uma cabeça de carneiro. As vezes seu corpo possuia asas e ele possuía um corpo metade humano e metade animal, como um carneiro, touro, cavalo, etc. Dependendo do relato, sua aparência muda, mas geralmente é retratado parecendo com a Quimera (monstro da mitologia grega com três cabeças diferentes).

Asmodeus o demônio da Luxúria. Asmodeus já era conhecido e temido pelos antigos judeus, era uma criatura que existia em sua mitologia, considerado um depravado que corrompia os homens e mulheres através da incitação da Luxúria. Na demonologia ele teria sido um dos anjos caídos, em outros relatos, apontam outra origem para o mesmo.

Um fato a salientar é que nas Idades Média e Moderna na Europa, em alguns lugares as pessoas temiam demônios chamados de íncubos e súcubos. Os íncubos eram demônios masculinos e as súcubos eram demônios femininos. Ambos atacavam à noite e possuíam a vítima, fazendo sexo com esta, sugando sua energia vital, chegando as deixar em estado de quase morte ou até mesmo as matando. As vezes tais demônios atacavam durante o sonho ou pesadelo. Alguns alegavam que tais criaturas era servas de Asmodeus.

Na Divina Comédia, os luxuriosos eram punidos no Segundo Ciclo do Inferno, onde viviam num turbilhão, sendo arremessados um contra os outros, contra o chão e as paredes. Seus corpos era torcidos, quebrados, esticados, esmagados, etc.

No Purgatório, a Luxúria era sentenciada no Sétimo Ciclo, onde os luxuriosos eram queimados vivos em extrema agonia, até que se arrependessem ou fossem jogados de vez ao Inferno.

Hoje em dia somos constantemente tentados pela Luxúria. Não precisamos vê revistas pornográficas, assistir filmes e desenhos pornôs ou acessar sites de pornografia para sermos tentados pela Luxúria. Filmes, novelas, seriados, desenhos, livros, revistas, jornais, jogos eletrônicos, comerciais e outros programas de tv, trazem cenas de nudez, cenas de insinuação de sexo ou retratação de sexo; cenas eróticas, sensuais, ou que tenham algum apelo sensualista ou erótico. Alguns estilos musicais, hoje possuem uma forte conotação sensual e sexual nas suas letras e na própria dança.

Além disso não é preciso você ir a praia para vê sensualidade em alguns casos. Basta andar pela rua, e verás homens e mulheres trajando roupas que insinuam a sensualidade. Isso atiça a líbido e pode levar ao voyeurismo e o fetichismo.

A Luxúria também é responsável pelo aumento das traições, dos adultérios, da falta de infidelidade, principalmente nas gerações mais recentes, onde crescem assistindo nas mídias que a traição já não é algo tão escandaloso assim, e em alguns casos, o adultério é tratado com deboche, onde personagens de novelas traídos, chamados popularmente no Brasil de "cornos", são motivos de deboche e comicidade.

Além disso, algumas novelas, seriados, filmes, etc., também incentivam os adolescentes a não darem tanta atenção ao namoro e caminharem para a promiscuidade, ou terem relações sem compromisso, apenas pelo prazer sexual, que em alguns casos é considerado um ato de masculinidade. Ou seja, aquele homem que tem relações com várias mulheres e se vangloria disso.

Outro problema que a Luxúria gera, é o aumento da gravidez indesejada, especialmente entre os adolescentes, que em muitos casos levam os pais a não querem saber dos filhos ou levam as mães a cometer o aborto. Mas, além do problema da gravidez que se torna um problema social, pelo crescimento de casos de aborto e de mães jovens e solteiras, onde os pais pouco aparecem na vida dos filhos, a Luxúria também serve como catalisador para espalhar as doenças sexualmente transmissíveis.

Embora os preservativos sejam baratos e em alguns lugares podem ser conseguidos de graça, como em postos médicos; muitas pessoas tendem a não usá-los ou preferirem as pílulas, e outros meios para não engravidar. O problema é que a pílula e estes outros meios evitam a gravidez, mas não protegem das doenças, sendo hoje a AIDS a mais mortífera destas e a mais contagiosa.

INVEJA


Representação da Inveja por Sebastian de
Covarrubias, século XVI.
O pecado da Inveja é talvez o pecado com o maior número de possibilidades e motivo para acontecer. Quase qualquer coisa pode ser motivo para alguém sentir inveja do outro. E hoje num mundo consumista e competitivo, estes motivos são inúmeros e crescentes. Mas devemos ter em mente que há dois tipos de invejosos: os invejosos passageiros, que sentem inveja momentânea, e os invejosos rancorosos, que vivem constantemente com inveja, e esta inveja pode beirar a ira ou o ódio.

Como foi dito, a Inveja é um pecado bastante abrangente, podemos invejar bens materiais, a beleza, o talento, o conhecimento, a riqueza, o amor,  a amizade, o emprego, um presente, uma surpresa recebida,  a harmonia e a paz de outros, e assim por diante.

A Inveja consiste num sentimento onde a pessoa se sente rancorosa, triste e as vezes irada e cobiçosa por algo que outra pessoa ganhou ou possui. Em alguns casos a inveja começa com pessoas próximas a você. Amigos, familiares e conhecidos podem te invejar. Nem sempre o invejoso mostra que é invejoso, em alguns casos é visível tal ato. Mas, se por um lado o invejoso cobiça o que tu tens, ele também pode agir para destruir o que você tem.

A Inveja se faz um pecado, pois o invejoso passa a nutrir um rancor pela frustração de não possuir algo, e passa a alimentar este rancor, esta frustração, levando a gerar ódio ou uma profunda lástima. O invejoso vive constantemente procurando se sobressair ou se equiparar ao invejado, e as vezes tenta derrubá-lo de alguma forma. Neste caso o amor ao próximo é deixado de lado, e as vezes o invejoso até mesmo culpa a Deus por não possuir aquilo que deseja.

Se voltarmos a Bíblia, o primeiro assassinato cometido entre humanos, se deu com os irmãos Caim e Abel. Caim ficou com inveja do irmão, irou-se e matou Abel. A Inveja foi o estopim para este horrendo ato, o primeiro assassinato entre pessoas e o primeiro fratricídio (assassinato entre irmãos).

"E Abel também trouxe dos primogênitos das suas ovelhas, e da sua gordura; e atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta". (Gênesis 4:4)

"Mas para Caim e para a sua oferta não atentou. E irou-se Caim fortemente, e descaiu-lhe o semblante". (Gênesis 4:5)

"E Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores". (Gênesis 37:3)

"Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles, odiaram-no, e não podiam falar com ele pacificamente". (Gênesis 37:4)

Inveja e Cobiça: A Inveja que se tem pelas posses de outra pessoa, pode servir de catalisador para o ganancioso querer superar aquela pessoa. Seja se tornando mais rico, possuindo mais casas, apartamentos, tendo mais carros, conseguindo um cargo de trabalho superior ao do outro; tendo mais autoridade, poder, etc.

Inveja e Luxúria: A Luxúria se alia a Inveja quando você inveja alguém que possua como namorado(a), noivo(a), marido ou esposa, alguém que lhe atraia sexualmente. Ou se inveja a vida sexual de alguém. Tal inveja pode levar a cobiça, a lástima, ao rancor ou ao ódio.

Inveja e Preguiça:  A Preguiça interage com a Inveja quando uma pessoa deixa de ajudar outra por ter inveja desta pessoa, e querendo vê o mal para aquela pessoa, se torna negligente ou mentirosa.

Inveja e Ira: Como já foi dito, a inveja pode levar a Ira. No Antigo Testamento temos o caso dos irmãos Caim e Abel, o caso de José que foi largado por seus irmãos dentro de um buraco. Temos o caso da inveja do rei Saul contra Davi, onde Saul tentou matar Davi. E outros episódios que contam como a Inveja se tornou Ira. E tal aspecto é bem real. Existem pessoas que invejam tanto que passam a nutrir um ódio e até a desejar ou fazer o mal.

Inveja e Soberba: A Inveja leva a Soberba quando o invejoso não aceita que está errado, quando não aceita que sua inveja seja algo ruim, mas a nutre na tentativa de ambicionar conquistar o que o invejado possui.


A destruição do Leviatã.
Gravura de Gustavo Doré, 1865.
Segundo a lista de Peter Binsfeld o demônio da Inveja era o Leviatã, criatura essa mencionada no
Livro de Jó (41) e em outras passagens do Antigo Testamento. O Leviatã antes de se tornar um demônio propriamente, era um monstro de origem ainda desconhecida. Ainda hoje existem debates sobre a origem desta criatura que os antigos hebreus e outros povos se referiam, pois o Leviatã não possui uma aparência específica, ora é descrito como um crocodilo, como uma lula gigante (similar ao Kraken), uma serpente marinha, uma baleia, um dragão, um ser que assume a forma humana, etc. De qualquer forma é dito que o Leviatã vive no mar e é uma criatura gigantesca e muito forte.

Jó descreve a imensidão da fera e alguns de seus atributos como cuspir fogo, causar grande ondas, terremotos, etc. No entanto, no livro é dito que o Leviatã era uma criatura além de cruel, ele era soberbo. Neste caso a soberba mencionada no relato refere-se tanto ao orgulho como a inveja. Na demonologia medieval, o Leviatã ganhou algumas características que passaram a defini-lo como o responsável pela inveja, e possivelmente um dos motivos era que o Leviatã invejava Deus.

Na Divina Comédia, no Canto do Inferno, Dante não específica claramente onde os invejosos eram punidos no Inferno. Uma das respostas para isso, é que a inveja levaria a outros pecados, e a partir disto, o invejoso seria condenado no Ciclo onde tais pecados eram sentenciados. No entanto, no Canto do Purgatório, existia um local específico para os invejosos, era o Segundo Ciclo, onde os invejosos tinham os olhos costurados com fios de ferro.

Hoje a Inveja possui vários motivos para acontecer, mas isso dependera da escolha de cada um. Além disso, a Inveja além de se relacionar e levar a alguns dos outros pecados capitais, ela pode gerar rancor, ódio, frustração, pessimismo, tristeza, melancolia, etc.

Ira (Cólera, Fúria)


Um rosto de areia irado, furioso, colérico.
A Ira também é tido como um dos piores pecados capitais, pois em muitos casos é através da Ira que ocorre certos males, nesse caso o uso da violência. No entanto, devemos ter em mente que a raiva é um sentimento não apenas dos homens, mas também dos animais. A raiva pode surgir por vários fatores, mas no caso dos animais, geralmente está associada a circunstâncias de perigo, defesa e combate. Animais sentem raiva quando são ameaçados, tentam fugir ou atacar seu agressor; animais sentem raiva quando tem que lutar para defender seu grupo, sua família, sua comida, seu território, então partem para a luta. Animais sentem raiva quando são incomodados ou perturbados, etc.

Tudo isso é raiva. Mas no caso das pessoas a raiva provêm de outros fatores, e em alguns estudiosos salientam que a raiva não é a mesma coisa que ira. A ira é um estado psicológico e emocional de grande estresse, onde o irado em muitos casos perde ciência de seus atos, se descontrola. A raiva é um sentimento, que possui similaridades, mas não significa que a raiva exploda na mesma intensidade da ira, da fúria, da cólera. Todavia, alguns dicionários listam raiva como sinônimo de ira, mas independente de ser a mesma coisa ou não, ambos os casos expressam a revolta, a violência.

Os homens se iram pelos mais diversos motivos, mas geralmente é algo que lhe irrita, lhe aflige, lhe frusta, lhe ameaça, lhe mágoa, lhe machuca, etc. Uma pessoa pode se irar por que foi xingada, porque bateram no seu carro; porque foi roubada; porque perdeu um jogo; pode se irar porque falhou; por inveja, por ciúmes, por traição, etc. Os motivos que levam o ser humano se irritar e acabar ficando com raiva são muitos.

A irritação não é Ira, mas raiva. No entanto, quando essa raiva extrapola ela se torna Ira. Mas em ambos os casos em um estado de raiva ou de ira, é comum a pessoa perder a paciência, a não querer ser ajudada, se revoltar mais ainda, a partir para agressão verbal ou até mesmo agressão física. Eu costumo dizer que todos nós podemos passar por uma situação que nos gera irritação e raiva, mas na hora que você perde controle de seus atos, você comete o pecado da Ira.

Em alguns casos, a raiva pode se tornar rancor e o rancor leva ao ódio. O ódio é um sentimento funesto, onde o indivíduo guarda profundo rancor e ressentimento contra alguém ou um grupo de pessoas. A Ira e a raiva são passageiras, mas o ódio pode durar a vida toda, e em muitas vezes é o ódio que leva a vingança.

"E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?" (Gênesis 4:6)

"Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar". (Gênesis 4:7)

"E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel, e o matou". (Gênesis 4:8)

"Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal". (Salmos 37:8)

"Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus".  (Tiago 1:19-20)

"Mas, agora, abandonem todas estas coisas: ira, indignação, maldade, maledicência e linguagem indecente no falar". (Colossenses 3:8)

Ira e Gula: A Gula pode levar a Ira através da embriaguez. Os estado da embriaguez afeta as pessoas de diferentes formas: umas se tornam mais alegres, risonhas; outras ficam caladas, tristes; outras ficam sonolentas, com dor de cabeça; outras ficam tontas, desorientadas; mas, em alguns casos, alguns acabam ficando agressivos, perdem a paciência facilmente, irritam-se por questões simples e banais, e isso os leva a se enfurecerem.

Ira e Ganância/Avareza: Os avarentos quando questionados ou confrontados, podem se irar facilmente, pois se sentem ameaçados, encurralados, pois em alguns casos não se reconhecem como estando errados. Por sua vez, a ganância pode levar o indivíduo que almeja conquistar algo, usar a força, violência, trapaça, dissimulação, etc., como forma de conquistar seu objetivo de se apoderar daquilo que cobiça.

Ira e Luxúria: A Ira surge com a Luxúria de duas formas: a primeira, quando alguém é traído e evidentemente se chateia e se revolta pela traição, embora que dependendo do indivíduo essa ira poderá ser mais intensa ou não, no que as vezes leva até mesmo a violência ou o assassinato. A segunda forma, vem do abuso, quando uma pessoa luxuriosa ou movida pela luxúria acaba violentando alguém. O estupro, pedofilia, corrupção de menores, são tipos de luxúria associado a ira. No caso da pedofilia e da corrupção de menores, mesmo que não aja violência física, pode haver violência psicológica, sob a forma de ameaças. Isso leva a vítima a ficar calada, temendo a ameaça, e até mesmo a mentir.

Ira e Inveja: A inveja pode levar a Ira. No Antigo Testamento temos o caso dos irmãos Caim e Abel, o caso de José que foi largado por seus irmãos dentro de um buraco, deixado para morrer. Temos o caso da inveja do rei Saul contra Davi, onde Saul tentou matar Davi. E outros episódios que contam como a Inveja se tornou Ira. E tal aspecto é bem real. Existem pessoas que invejam tanto, que passam a nutrir um ódio e até a desejar ou fazer o mal contra o invejado ou invejados.

Ira e Soberba: Em alguns casos quando os soberbos tem seu orgulho afrontado ou "ferido", eles reagem com fúria, com violência, eles se iram. Alguns não se iram no momento, mas passam a nutrir ódio e planejar uma vingança. Alguns soberbos até mesmo agem com agressão (não precisa ser necessariamente física) contra outras pessoas, através da descriminação, preconceito, etc.


Azazel o demônio da Ira. Collin de Plancy,
Peter Binsfeld descrevera que o demônio responsável pela Ira era Azazel, antiga criatura ligada a alguns ritos judaicos como o Yom Kipur (Dia do Perdão). Para os antigos judeus, Azazel seria o nome do bode expiatório (al-aza'zeyl) onde todo o ano durante o rito do Yom Kipur, dois bodes eram oferecidos a Deus, um lhe era sacrificado e o outro era enviado ao deserto, onde-se dizia que no bode que fora enviado ao deserto residiria todos os pecados daquele ano. Tal rito é mencionado nos Levítico, no Antigo Testamento.

Contudo, existe certos problemas com a definição desta entidade. Para alguns Azazel seria apenas o bode expiatório lançado durante o Yom Kipur, no entanto, Azazel é também o nome de um lugar, o Monte Azazel em Israel, local que recebeu este nome pois supostamente um Azazel viveria por ali.

Para o profeta Enoque, Azazel era o nome de um anjo que junto com outros anjos passaram a viver na Terra para auxiliar os seres humanos, no entanto Azazel e os outros anjos que o seguiram acabaram se apaixonando pelas mulheres e tiveram filhos com estas. Além disso, também começaram a se corromper pelos pecados dos seres humanos. Enoque também contara em seu livro (o qual não consta na Bíblia) que Azazel foi o responsável por ensinar os homens a fabricar armas e a guerrear. Daí sua relação com a Ira.

Depois que Deus teria visto que Azazel e os demais anjos que o seguiram, haviam se corrompido, ele os proibiu de retornar ao Céu, e tais anjos se aliaram a Satã. No entanto, em algumas interpretações antigas da Bíblia e do Alcorão, Azazel é comparado a Satã, daí que em alguns livros de demonologia, o demônio da Ira ser Azazel ou Satã. No Alcorão não consta o nome de Azazel, e é dito que o bode expiatório era enviado a Satã, pois no bode ia a essência pecaminosa daquele ano, e Satã era o fruto de todo o Mal.

Na Divina Comédia, Dante conta que os irados eram punidos no Quinto Ciclo do Inferno, junto com os preguiçosos. Ambos que cometeram tais pecados eram atirados no Lago Estiges, e se agrediam violentamente tentando sair do lago que parecia um pântano. Contudo tais pecadores nunca conseguiriam sair do lago e passariam a eternidade se agredindo dentro dele. Além disso, Dante conta que o Sétimo Ciclo, era o local onde os violentos eram castigados. Neste caso não era apenas a violência motivada pela Ira, mas por qualquer outro motivo.

Já no Purgatório, Dante conta que os irados eram punidos no Terceiro Ciclo, onde viviam em meio a uma densa fumaça e cantavam o hino da misericórdia. A fumaça seria uma alusão a "cegueira" causada pela Ira.

Hoje os motivos para levarem as pessoas a se irarem são muitos, e alguns simples e banais. Em alguns lugares onde a vida é estressante isso ocorre mais facilmente. Discussões de trânsito que leva uma pessoa a matar a outra, porque bateu em seu carro, porque arranhou seu carro, etc. Agressões que surgem por causa de discussões banais como defender qual foi o melhor time de futebol, beisebol, basquete, ou quem fora o melhor jogador, etc., levam pessoas a se irritarem e até brigarem. Pessoas que brigam por causa de um pacote de biscoito, um pedaço de bolo, por causa de um brinquedo, por causa de dinheiro, etc. Pessoas que se enfurecem por serem contrariadas, por não aceitarem o seu próprio erro, ou por não terem paciência.

Além disso, a própria sociedade hoje em dia está violenta. Não falo apenas dos criminosos que em alguns casos matam sem nenhum pingo de remorso ou compaixão, mas falo das pessoas em geral que por desentendimentos partem para a agressão verbal ou física, chegam até a matar por causa disso. Em alguns casos a mídia também influencia isso: filmes, seriados, desenhos, jogos eletrônicos, livros, histórias em quadrinhos, etc., exibem violência extrema, e há gente que gosta disso e reclama quando as cenas são cortadas por causa da censura.

Como historiador sei que a violência é bastante antiga e acompanha a humanidade desde seus primórdios, mas com a facilidade da transmissão da informação nos tempos de hoje, a violência se tornou algo banal, se tornou um produto que é comercializado, que é exibido. Do que dizer dos jornais policiais exibidos na televisão que mostram apenas crimes, atrocidades? Que exploram quase que descaradamente a violência e em alguns casos não tratam com respeito o assunto apresentado.

Certa vez vi uma reportagem de um homicídio, onde o repórter e a polícia se encontravam no local do crime; enquanto o repórter explicava o caso, havia várias pessoas em volta olhando para o corpo do homem morto, como se aquilo não fosse nada demais, como se não tivesse ninguém morto ali. E o que mais me chamou a atenção, foi o fato de crianças estarem na cena do crime. E essas estavam ali apenas para aparecer na televisão, ficando diante do foco da câmera, e algumas sorriam e acenavam para a câmera. Onde está o respeito nestes casos?

Será que a violência se banalizou ao ponto de que não nos importamos mais com as crueldades cometidas? Eu costumo dizer que devemos agradecer por não estarmos em guerra, pois quem está atualmente vivenciando um estado de guerra, deseja a paz a todo custo e não mais violência como entretenimento.

SOBERBA (Vaidade, Arrogância, Egocentrismo)


Desenho ilustrando a Soberba.
Evágrio do Ponto, Santo Agostinho de Hipona, São Gregório Magno e São Tomás de Aquino classificaram o Orgulho ou seus outros sinônimos, como o pior dos pecados contra Deus e contra o amor. Mas, antes de explicar porque tal pecado se encontra no topo da lista destes religiosos, explicarei primeiro que o orgulho, vaidade e a honra não são totalmente ruins, pecaminosos, desde que sejam moderados.

Anteriormente mostrei que a preguiça não é pecado em certos aspectos. Que o sexo e a nudez não são pecados, desde que não agridam moralmente, desde que não sejam feitos publicamente, e que não sejam utilizados como um produto ou forma a incentivar a Luxúria. A irritação também não é pecado, pois Deus se irritou algumas vezes com a humanidade, como se pode vê na destruição de Sodoma e Gomorra, e no Dilúvio. Você pode se irritar e ficar com raiva contra a injustiça, contra o mal, etc., desde que não haja com violência.

No caso do orgulho e da vaidade, tais aspectos não são pecaminosos desde que a pessoa haja de forma moderada. Por exemplo, quase todo mundo quer ter uma boa aparência, está bem vestido, está limpo, está arrumado. Isso é um preceito estético e de higiene. Eu não quero sair na rua ou está em casa, estando sujo, desarrumado, fedendo, etc. Em tal aspecto a vaidade não é pecaminosa. Todo mundo que se sentir belo em algum momento, quer sair arrumado para agradar a família, os amigos, os convidados, o namorado(a), o marido, esposa, etc.

No caso do orgulho, este não é um pecado desde que não transponha a humildade e se torne em arrogância. As vezes é comum você ouvir as seguintes frases: "estou orgulhoso porque você conseguiu seu diploma universitário", "estou orgulhoso porque consegui conquistar esta medalha no campeonato"; "tenho orgulho de ter bons filhos". "tenho orgulho de dizer que sou um bom pai e marido"; "estou orgulhoso, pois meu filho nasceu", etc. Nestes casos salientados, o orgulho exprime alegria, contentamento, satisfação, mas em momento algum ele se mostra pernicioso ou egocêntrico.

A honra consiste em duas formas de sentido: a primeira, onde honra significa respeito, seja esse respeito consigo ou com o próximo. Na segunda forma, honra consiste numa gratificação, num reconhecimento, numa parabenização por algo, geralmente está ligada a questões sociais. A honra não é algo ruim, desde que aquele respeito ou reconhecimento não leve o indivíduo a se tornar soberbo, esnobe, egocêntrico, etc.

Até aqui acredito que tenha deixado claro que o orgulho e a vaidade em porções moderadas não consistem em pecado. Mas agora mostrarei quando os mesmos se tornam pecado.

• Vaidade exacerbada: Neste caso, algumas pessoas cuidam da aparência no intuito de não apenas estarem belas, mas de quererem chamar a atenção, e fazer que outros a admirem por isso. Se tornar o centro das atenções. Pessoas muito vaidosas chegam a gastar horas e muito dinheiro para manter sua beleza. Chegam a se privar de certos hábitos para não abalar sua beleza, dedicam-se intensamente a cultuar e cuidar do estético, da aparência.
• Narcisismo: A pessoa narcisista tende a ter um amor-próprio excessivo por si, e ao mesmo tempo possui a necessidade que outros o admirem, seja pelo seu talento, beleza, poder, riqueza, etc. O mesmo desenvolve uma grande preocupação com sua aparência estética e social.
• Egocentrismo: Uma pessoa egocêntrica apenas valoriza suas ações, pensamentos e desejos. Para este tipo de pessoa, o "mundo gira em torno dela", apenas sua opinião é a certa, é que tem serventia; apenas seus propósitos são justos e dignos. O egocêntrico também se torna em alguns casos antipático e antissocial. Ele pode ser bastante vaidoso ou narcisista. Se tornar arrogante e se considerar superior aos demais. O egocêntrico também em alguns casos vive a vida de forma ilusória, algo que os psicológicos chamam de criar uma "fantasia". Neste caso ele não estaria ciente da realidade do mundo.
• Soberba/Arrogância: A soberba é considerada por alguns como o orgulho excessivo. Neste caso o orgulho perde seu lado de admiração e contentamento. Uma pessoa soberba não precisa ser narcisista ou egocêntrica, mas o soberbo se sente superior e melhor do que o outro ou um grupo de pessoas. O soberbo não possui humildade. Para o soberbo o que ele faz é sempre melhor do que o outro faz. A soberba pode ser um ato cometido por ricos ou pobres, pois não está ligada a condição financeira, mas no sentido que você dá a algo, e que passa a usar tal sentido como forma de discriminar, humilhar e se exaltar diante de outros indivíduos.
• Ostentação: Consiste em dar excessiva atenção e valor, a riqueza e ao luxo, a mostrar para outros suas posses. A palavra ostentar necessariamente não possui uma conotação ruim, mas quando ela é usada por motivos vaidosos e soberbos, ela se torna algo ruim.
• Egoísmo: Uma pessoa egoísta apenas se importa consigo, encara o mundo a partir de seus interesses e apenas por seus interesses, em muitos casos não considera a necessidade e o sentimento dos outros. O egoísta não é egocêntrico, pois o egoísta tem ciência da realidade do mundo, e tal percepção o leva a moldar suas ações para benefício próprio. O egoísta pode ser avarento, ganancioso, invejoso, etc. O mesmo também tende a ser antipático e as vezes antissocial.
• Descriminação: A descriminação pode provir de duas formas: primeiro, pela ignorância e desconhecimento; segundo, pela arrogância. Descriminação racial, sexual, social, religiosa, etc., quando se dão por motivos de arrogância, é considerado como Soberba. O racismo e o xenofobismo são exemplos desta descriminação, onde a justificativa oscila entre a ignorância e a arrogância.
• Fanatismo: Normalmente o fanatismo está associado a questões e causas religiosas e políticas, mas o mesmo pode se dá por outros aspectos. Em suma, os fanáticos tendem a ter um "apego" excessivo por algo, seja defendendo ideais, líderes, causas, etc. O problema é que o fanatismo pode levar a paranoia, e ao mesmo tempo, tornar a pessoa indiferente para as diferenças e outras opiniões. Os fanáticos são profundamente conservadores e arrogantes em sua crença, e em muitos casos se consideram como estando sempre certos ou em estarem apoiando o único e verdadeiro caminho para algo que eles defendam.
• Idolatria: Nas religiões abraâmicas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo) a idolatria é combatida, sendo considerada uma ofensa a Deus. Em outras religiões a idolatria não é vista como uma ofensa, mas parte do culto a alguma divindade. De qualquer forma, para os judeus, cristãos e muçulmanos, idolatrar significa tornar algo digno de ser cultuado, é dá vaidade a algo, seja um objeto, símbolo, animal ou pessoa. É enxergar no ídolo, uma espécie de "divindade". Embora nestas três religiões existam referências a anjos, profetas, santos, etc., apenas Deus deve ser adorado, deve ser cultuado. No Catolicismo embora exista o uso de imagens de santos, a Igreja diz que tais imagens são apenas símbolos, referências a tais pessoas, mas não devem ser idolatradas. Quando uma pessoa se sente merecedora de idolatria, está pecando duplamente: uma por ser soberba, e a outra por ser idolatrada.
• Vanglória/Esnobismo: Geralmente as pessoas se vangloriam ou se esnobam, após ganharem, conquistarem, receberem algo ou alguma coisa. E as vezes fazem isso por questões boas ou ruins. A vanglória e o esnobismo beiram a Soberba. Geralmente é um momento passageiro, mas o indivíduo se exalta e gaba-se profundamente pelo seu feito.
• Fama/Notoriedade/Glória: Para os antigos gregos e romanos a Fama era uma deusa, que comunicava deuses e mortais sobre algum acontecimento, fosse ele bom ou ruim. Hoje, entendemos fama como reputação, renome, notoriedade, glória, reconhecimento; embora que possa ser por algo bom ou ruim. A fama é um caminho para a Soberba e outros pecados, quando a mesma se torna vaidosa e arrogante, e o famoso perde a simplicidade e modéstia. Alguns famosos não se importam com sua fama, mas outros se esnobam com esta. E há algumas pessoas que a almejam. As pessoas que almejam fama e glória, estão despertando a cobiça e a soberba. Não há problema em ser reconhecido, em ser honrado e ter reputação, o problema está em como você trata e usa tais aspectos.
• Corrupção: O ato de corromper ou praticar a corrupção é considerado algo arrogante, egoísta, desonesto, ganancioso, avarento, etc. Aquele que burla as leis, que desvia dinheiro, que mente, que engana a justiça e os outros, está agindo em proveito próprio, está agindo de forma soberba, vaidosa, gananciosa. Em alguns casos o corrupto se considera melhor do que os outros, abusa de seu cargo, de sua autoridade, de seu dever, etc.
• Complexo de superioridade: O complexo de superioridade geralmente se origina de um trauma onde o indivíduo se sentia inferior ou desvalorizado, então tende a tratar de forma arrogante, descriminatória e injuriosa outras pessoas, para compensar este seu trauma. O indivíduo com este complexo tende a escolher a soberba como uma espécie de "armadura" para se proteger de seu trauma. Nestes casos os médicos aconselham terapia.
• Excesso de autoconfiança: A autoconfiança e a confiança são aspectos necessários para qualquer um de nós, mas em alguns casos, o excesso desta autoconfiança pode tornar as pessoas egocêntricas, prepotentes, negligentes e apáticas. A pessoa que tem excesso de autoconfiança vê que tudo irá dá certo e tem que dá certo. Se houver um erro, mesmo pequeno, ou que algo não saia perfeito, isso é motivo para ele discutir e até brigar com outras pessoas. O excesso de autoconfiança leva o indivíduo a não considerar a possibilidade de erro, de falha, e a se supervalorizar diante dos outros, em alguns casos chega a esnobação e ao perfeccionismo neurótico.
• Negligência: A negligência não está associada apenas ao pecado da Preguiça, mas a própria Soberba. As vezes uma pessoa nega-se a conceder ajuda, apoio, etc., devido a questões egoístas, descriminatórias, preconceituosas, apáticas, antipáticas, etc.
• Hipocrisia: A hipocrisia é mentir sobre algum aspecto, onde o hipócrita mostra que possui interesse, compaixão ou preocupação por algo ou por alguém, mas na verdade não possui. Não significa que todo o hipócrita seja soberbo, mas em alguns casos sim. O hipócrita pode ser um invejoso, um ganancioso, etc., que engana uma pessoas ou grupo.
• Prepotência: O prepotente geralmente está associado ao poder, ou seja, aquela pessoa que detêm algum tipo de autoridade, e usa esse direito para comandar de forma autoritária e/ou opressora. O soberbo em alguns casos gosta de mandar, não gosta de ser contrariado. Ele se sente superior aos demais. Os prepotentes em alguns casos podem está sendo soberbos.
Se até aqui vimos alguns aspectos que formam o pecado da Soberba, mas por que a Soberba seria um pecado, e considerado o pior de todos para alguns santos?

Para os antigos judeus e cristãos, quando foi definido que a Soberba seria um pecado, o pensamento era que o indivíduo soberbo contrariava um dos ensinamentos de Deus: o amor ao próximo. O soberbo só se interessa consigo, tende a negar ajuda, tende a ser antipático, antissocial, tende até mesmo a afrontar os outros para conseguir o que deseja. O soberbo perde o altruísmo e a humildade, passa a se preocupar com sua beleza (no caso da vaidade), passa se preocupar apenas com seus sentimentos (narcisismo, egoísmo, egocentrismo), passa a apenas a dá interesse aos seus desejos, sonhos, ambições, não se preocupando com as consequências de tais atos e com o sentimento dos outros. O soberbo tende também a humilhar, descriminar e a ostentar. Tende a se considerar melhor e superior aos demais.

Mas, se por um lado um soberbo tende a afligir as outras pessoas, ele também aflige a Deus. Uma pessoa soberba pode chegar ao ponto de não dá importância a Deus, isso não significa que ele se torne ateu. O soberbo pode-se dizer cristão, judeu, muçulmano ou que possua outra religião, ou alegar ter fé, mas perde a comunhão, e não reconhece que seus atos são um pecado. Em alguns casos o soberbo pode iniciar uma idolatria a sua pessoa, gerar um fanatismo em um grupo de pessoas. O soberbo pode se considerar um deus.

"Mas prove cada um a sua própria obra, e terá glória só em si mesmo, e não noutro". (Gálatas 6:4)

"A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito precede a queda". (Provérbios 16:18)

"Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos". (Provérbios 16:19)

"A soberba do homem o abaterá, mas a honra sustentará o humilde de espírito". (Provérbios 29:23)

"Semelhantemente vós jovens, sede sujeitos aos anciãos; e sede todos sujeitos uns aos outros, e revesti-vos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes". (1 Pedro 5:5)

Soberba e Gula: A Gula se torna Soberba, quando a pessoa passa a esbanjar a fartura de alimentos não como uma benção, mas como status social, como motivo de soberba, esnobação, ostentação. Ou seja, o indivíduo que tem dinheiro para comer e beber muito, e que esbanja isso.

Soberba e Avareza: A avareza já é considerada um ato egoísta, possessivo e obsessivo por algo, alguma coisa ou alguém. Quando o avarento passa a se esnobar por suas posses, ou repudiar críticas as suas atitudes, ele acaba se tornando soberbo.

Soberba e Preguiça: A Preguiça se torna Soberba, quando a pessoa passa a desejar algo ou querer receber algum mérito, mas não se desempenhou em conseguir o que queria, no entanto, tal indivíduo se sente como se estivesse certo, como se fosse de seu direito. Querer algo e não fazer nada para conseguir, é visto como Preguiça. Por outro lado, a Preguiça também se torna Soberba, quando a pessoa passa a se reconhecer tendo mérito sobre algo que não fez, mas que lhe fora proporcionado por terceiros. E num terceiro aspecto, A Soberba surge da preguiça, quando você se nega a fazer algo por motivos egoístas, vaidosos, etc.

Soberba e Luxúria: A Luxúria pode ser vaidosa, quando o homem ou a mulher utilizam sua beleza para atiçar o desejo sexual em outras pessoas, e ao mesmo tempo se regojizam por causa disso, pelo fato de serem almejados. A Luxúria se une a Soberba, quando a pessoa passa a se gabar de suas proezas sexuais, contando que fez isso, fez aquilo, que teve relações com tantos homens ou mulheres e até com ambos. O luxurioso orgulhoso, não se vê como culpado de seus atos, mas sente admiração pelo que faz e em alguns casos gosta de se esnobar.

Soberba e Inveja: A Inveja leva a Soberba quando o invejoso não aceita que está errado, quando não aceita que sua inveja seja algo ruim, mas a nutre na tentativa de ambicionar conquistar o que o invejado possui.

Soberba e Ira: Em alguns casos quando os soberbos tem seu orgulho afrontado ou "ferido", eles reagem com fúria, com violência, eles se iram. Alguns não se iram no momento, mas passam a nutrir ódio e planejar uma vingança. Alguns soberbos até mesmo agem com agressão (não precisa ser necessariamente física) contra outras pessoas, através da descriminação, preconceito, etc.


O gênio do mal. Guillaume Geefs.
Diante destas descrições nos resta falar quem seria o demônio responsável por este terrível pecado.

Na lista de Peter Binsfeld, o responsável pela Soberba e seus demais aspectos era o próprio Satanás. Satã quando ainda era um anjo chamado Lúcifer, se tornou arrogante e desafiou Deus, promovendo uma revolta (alguns falam em uma guerra) contra o Criador e os anjos que lhe eram fiéis.

A partir da Soberba, Lúcifer caminhou para a inveja e a ira, convenceu outros anjos a se aliarem a ele, e confrontaram o Senhor. Isso lhes proporcionou a expulsão do Paraíso e ao confinamento no Inferno. Embora Satã seja o responsável pela Soberba e para alguns também da Ira, existe unanimidade entre os antigos demonólogos e teólogos que o mesmo é responsável por todo o Mal no mundo. Tudo seria obra sua, ele apenas enviaria seus servos para executá-las, mas a origem viria de seu pensamento diabólico.

Na Divina Comédia, Dante não específica o local exato onde os soberbos seriam castigados no Inferno. O mesmo acontece com os invejosos, como foi dito anteriormente. Todavia, acredito que embora ele não especifique claramente onde a soberba e a inveja seriam castigadas, se dermos uma olhada aos outros ciclos, talvez possamos encontrar sinais que aludem aos pecados da inveja e da soberba. Por exemplo, no Sexto Ciclo onde fica a capital do inferno, a cidade de Dite, os hereges são ali castigados. Se considerarmos que os soberbos e invejosos também são hereges, lá eles encontrariam sua sentença.

No Purgatório, Dante diz que os soberbos são punidos no primeiro ciclo, onde existem murais com a imagem de pessoas soberbas e do outro lado de pessoas humildes. Cada um dos soberbos era sentenciado a carregar pesadas pedras, pois estas pedras representariam seu "orgulho excessivo".

A soberba, vaidade, descriminação, egocentrismo, narcisismo, corrupção, fanatismo, idolatria, etc., estão bem vivos. A mídia da moda impõe padrões de beleza, que muitos acabam seguindo ou querem se igualar. A fama se torna soberba para alguns e até mesmo chega a ser idolatrada. A descriminação e o preconceito são recorrentes em diversos campos, em muitos casos nem estão atrelados a ignorância, mas a arrogância.

A indiferença e o egoísmo também são questões que afligem parte da sociedade, o apego as coisas materiais e os prazeres profanos ou mundanos, levam os indivíduos a se tornarem em alguns casos apáticos aos sentimentos e condições dos outros.

A concorrência de querer ficar rico, famoso, ter sucesso, poder, etc., leva a confrontamentos, a ostentação, egoísmo, vaidade, soberba, corrupção. A crença cega em certos ideias tornam pessoas fanáticas por aquilo, levam ao ódio a falta de compreensão. Negar-se a reconhecer o erro, o considerar a humildade sinônimo de miséria, levam as pessoas a preferirem a riqueza.

Mas existem algumas formas de combater estes pecados de procurar ajudar estes pecadores.

AS SETE VIRTUDES 

No século IV d.C um escritor romano chamado Prudêncio (348-c.410) escreveu um poema intitulado Psicomaquia (Psychomachia) no qual ele relatava a luta entre as virtudes e os pecados. Na época que ele escreveu seu poema os Sete Pecados Capitais ainda não haviam sido definidos, daí não haver relação direta com estes, pois os pecados que Prudêncio julgava em seu poema, não equivaliam a todos os pecados capitais, no entanto, clérigos e teólogos a partir deste poema, decidiram desenvolver a ideia de Prudêncio e listaram as Sete Virtudes que se opõem e combatem os Sete Pecados.

• Temperança (auto-controle, moderação, sensatez): Se opõe a Gula.

• Generosidade (modéstia, humildade, desprendimento material, ética): Se opõe a Avareza, Ganância e Cobiça.

• Diligência (ética, objetividade, decisão, presteza, compromisso): Se opõe a Preguiça.

• Castidade (auto-controle, moderação, fidelidade, pureza, respeito): Se opõe a Luxúria.

• Paciência (auto-controle, serenidade, paz, respeito, calma, amor): Se opõe a Ira.

• Caridade (Simpatia, amizade, modéstia, desprendimento, simplicidade, respeito): Se opõe a Inveja.

• Humildade (modéstia, simplicidade, respeito, amizade, ética, amor): Se opõe a Soberba.
Para outros clérigos, teólogos e religiosos, o Amor seria a forma para se combater todos estes pecados. 

É através do Amor que podemos mudar o mundo para melhor e salvá-lo da barbárie humana.

"Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus"; (Mateus 5:3)

"Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra"; (Mateus 5:5)

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos"; (Mateus 5:6)

"Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia"; (Mateus 5:7)

"Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus"; (Mateus 5:8)

"Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus"; (Mateus 5:9)

Referências da Internet:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Pecado_capital
http://www.universocatolico.com.br/index.php?/os-sete-pecados-capitais.html
http://www.estudosgospel.com.br/estudos/diversos/os-sete-pecados-capitais.html
http://www.bibliaonline.com.br/

NOTA: Na Idade Média a Igreja Católica desenvolveu uma expressão que lembraria os cristãos sobre os Sete Pecados. A palavra Saligia era uma espécie de sigla que referiria-se a superbia, avaritia, luxuria, invidia, gula, ira e acedia. 
NOTA 2: A palavra luxúria originalmente referia-se a "paixões", logo, entendia-se tal sentido relacionado aos "prazeres carnais" ou "prazeres terrenos", e nesse contexto, a palavra luxúria poderia ser usada como referência a todos os pecados capitais, embora que hoje a usemos mais para referir-se ao pecado relacionado a sexualidade e sensualidade desvairadas. 
NOTA 3: O jogo 7 Sins, explora a ideia dos pecados capitais, onde o jogador cria um avatar que vive na fictícia cidade de Apple City, onde seus habitantes são corrompidos por cada um dos pecados capitais. 
NOTA 4: No mangá/anime Fullmetal Alchimist, cada um dos sete homúnculos são chamados pelo nome de um dos pecados capitais, e tais seres esboçam alguns traços desses pecados. 
NOTA 5: No seriado Supernatural, na terceira temporada os protagonistas Dean e Sam Winchester confrontam sete demônios que personificam os Sete Pecados. 
NOTA 6: A novela brasileira Sete Pecados (2008) produzida pela Rede Globo, abordava de forma humorística os pecados capitais. Além disso, a novela fazia alusão a Divina Comédia, pois os protagonistas chamavam-se Beatriz e Dante. 

Referências audiovisuais:

Os Sete Pecados Capitas: Avareza (Seven Deadly Sins: Greed). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 
Os Sete Pecados Capitas: Gula (Seven Deadly Sins: Gluttony). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 
Os Sete Pecados Capitas: Luxúria (Seven Deadly Sins: Lust). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 
Os Sete Pecados Capitas: Preguiça (Seven Deadly Sins: Sloth). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 
Os Sete Pecados Capitas: Ira (Seven Deadly Sins: Wrath). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 
Os Sete Pecados Capitas: Inveja (Seven Deadly Sins: Envy). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 
Os Sete Pecados Capitas: Soberba (Seven Deadly Sins: Pride). [documentário-vídeo], History Channel, 2009, 45 min, DVD/1-7, Color, Som. 

Fonte: Aqui

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