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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

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DISSECANDO ATHENA

O local de nascimento da deusa foi às margens do Lago Tritônio, na Líbia, o que explicaria um dos múltiplos epítetos da filha querida de Zeus: (Tritoguéneia) que é interpretado modernamente como nascida no mar ou na água.
Tão logo saiu da cabeça do pai, soltou um grito de guerra e se engajou ao lado do mesmo na luta contra os Gigantes, matando a Palas e Encélado. O primeiro foi por ela escorchado e da pele do mesmo foi feita uma couraça; quanto ao segundo, a deusa o esmagou, lançado-lhe em cima a ilha da Sicília. O epíteto ritual, Palas Atena, não se deve ao Gigante, mas a uma jovem amiga da deusa, sua companheira na juventude e que foi morta acidentalmente pela mesma. Daí por diante, Atena adotou o epíteto de Palas e fabricou, consoante uma variante tardia, em nome da morta, o Paládio, cujo mito é deveras complicado, porque se enriqueceu com elementos diversos, desde as Epopéia Ciclias até a época romana. Homero o desconhece. Na Ilíada só se faz menção de uma estátua cultual da deusa, honrada em Tróia, mas sentada, enquanto o Paládio é uma pequena estátua, mas de pé, com a rigidez de um ksóanon, isto é, de um ídolo arcaico de madeira. Seja como for, o importante é que se saiba ser o Paládio grandemente apotropaico, pois tinha a virtude de garantir a integridade da cidade que o possuísse e que lhe prestasse uma culto. Desse modo, toda e qualquer pólis se vangloriava de possuir um Paládio, sobre cuja origem miraculosa se teciam as mais variadas e incríveis narrativas. O de Tróia, conta-se, caíra do céu e era tão poderoso que, durante dez anos, defendeu a cidadela contra as investida dos aqueus. Foi preciso que Ulisses e Diomedes o subtraíssem. Tróia, sem sua defesa mágica, foi facilmente vencida e destruída.

O mais famoso e sacrossanto dos Paládios, porém, era o de Atenas, que, noite e dia, lá do alto da Acrópole, o lar de Atena, vigiava Atenas, a cidade querida da "deusa de olhos garços".
Preterida por Páris no célebre concurso de beleza no monte Ida, pôs-se inteira, na Guerra de Tróia, ao lado dos aqueus, entre os quais seus favoritos foram Aquiles, Diomedes e Ulisses. Na Odisséia, diga-se de passagem, a deusa augusta se transformará na bússola do nóstos, do retorno de Ulisses a Ítaca, e, quando o herói finalmente chegou à pátria, Palas Atena esteve a seu lado até o massacre total dos pretendentes e a decretação de paz, por inspiração sua, no seio das famílias da ilha de Ítaca. Sua valentia e coragem comparam-se às de Ares, mas a filha de Zeus detestava a sede de sangue e a volúpia de carnificina de seu irmão, ao qual, aliás, enfrentou vitoriosamente.
Sua bravura, como a de Ulisses, é calma e refletida: Atena é, antes de tudo, a guardiã das 

Acrópoles das cidades, onde lá reina e cujo espaço físico defende, merecendo ser chamada Polías, a "Protetora", como ilustra o mito do Paládio. É sobretudo por essa proteção que é ainda cognominada Nike, a vitoriosa. Uma tabuinha da Linear B, datando de mais ou menos 1500 a.e.c., faz menção de uma A-ta-na po-ti-ni-ja, antecipando-se, assim, de sete séculos à (Pótnia Athenaíe) de Homero e demonstrando que a "Atena Soberana" era realmente a senhora das cidades, em cuja Acrópole figurasse o seu Paládio.
Sem se esquecer de suas antigas funções de Grande Mãe, deixando inteiramente de lado seu denodo bélico, Atena Apatúria, além de presidir nas Apatúrias à inscrição das crianças atenienses em sua respectiva fratria, favorecia, enquanto (Hyguíeia), Higiia, enquanto deusa das "boas condições de saúde", a fertilidade dos campos, em benefício de uma população a princípio sobretudo agrícola. É com esse epíteto que a protetora de Atenas se associava a Demeter e a Core/Perséfone numa festa denominada (Prokharistéria), que se poderia traduzir por "agradecimentos antecipados", porque tais solenidades se celebravam nos fins do inverno, quando recomeçavam a brotar os grãos de trigo. Estava também ligada a Dionisio nas (Oskhophória), quando solenemente se levavam a Atena ramos de videira carregados de uvas. Uma longa procissão dirigia-se, cantando, de um antigo santuário do deus do vinho, em Atenas, até Falero (nome de um porto da cidade), onde havia um nicho da deusa.

Dois jovens, com longas vestes femininas, o que trai um rito de passagem, encabeçavam a procissão, transportando um ramo de videira com as melhores uvas da safra.
É bom não se esquecer ainda que na disputa com Posídon pelo domínio da Ática e, particularmente, de Atenas, Atena fez brotar da terra a oliveira, sendo, por isso mesmo, considerada como a inventora do "óleo sagrado da azeitona".
Deusa guerreira, na medida em que defende "suas Acrópoles", deusa da fertilidade do solo, enquanto Grande Mãe, Atena é antes do mais a deusa da inteligência, da razão, do equilíbrio apolíneo, do espírito criativo e, como tal, preside às artes, à literatura e à filosofia de modo particular, à música e a toda e qualquer atividade do espírito. Deusa da paz, é a boa conselheira do povo e de seus dirigentes e, como Têmis, é a garante da justiça, tendo-lhe sido mesmo atribuída a instituição do Areópago. Mentora do Estado, ela é também no domínio das atividades práticas a guia das artes e da vida especulativa. E é como deusa dessas atividades, com o título de (Ergáne), "Obreira", que ela preside aos trabalhos femininos da fiação, tecelagem e bordado. E foi precisamente a arte da tecelagem e do bordado que pôs a perder uma vaidosa rival de Atena. Filha de Ídmon, um rico tintureiro de Cólofon, Aracne era uma bela jovem da Lídia, onde o pai exercia sua profissão.

Ainda como (Ergáne), "Obreira", a grande deusa presidia aos trabalhos das mulheres na confecção de suas próprias indumentária, pois que ela própria dera o exemplo, tecendo sua túnica flexível e bordada. E na festa das (Khaikeia), festas dos "trabalhadores em metais", duas ou quatro meninas, denominadas Arréforas, com auxílio das "Obreiras" de Atena, iniciavam a confecção do peplo sagrado, que, nove meses depois, nas Panatenéias, deveria cobrir a estátua da deusa, substituindo o do ano anterior.
Associada ainda a Hefesto e Prometeu, no Ceramico de Atenas, ainda por ocasião das (Khalkeia), era invocada como a protetora dos artesãos. Foi seu espírito inventivo que criou o carro de guerra e a quadriga, bem como a construção do navio Argo, em que velejaram os heróis em busca do Velocino de Ouro.

A maior e mais solene das festas de Atena eram as Panatenéias, em grego (Panathénaia), solenidade de que participava Atenas Inteira, e cuja instituição se fazia remontar a um dos três maiores heróis míticos de Atenas: Erictônio, Erecteu ou Teseu, este último realizador mítico do sinecismo. A comemoração era primitivamente anual, mas, a partir de 566-565 a.e.c. as Panatenéias tornaram-se um festival pentetérico, a saber, que se realizava de cinco em cinco anos e que congregava a cidade inteira. Um banquete público, que "re-unia" e unia todos os membros da pólis, dava início à grande festa. Seguiam*se jogos agonísticos, cujos vencedores recebiam como prêmio ânforas cheias de azeite, proveniente das oliveiras sagradas de Atena. Havia ainda corrida de quadrigas e um grande concurso de pirricas, danças guerreiras, cuja introdução em Atenas passava por ter sido da filha querida de Zeus. Precedendo a solenidade maior, realizava-se a (Lampadedromía), "corrida com fachos acesos", uma verdadeira course aux flambeaux, quando se transportava o fogo sagrado de Atena, dos jardins de Academo até um altar na Acrópole. 

As dez tribos atenienses participavam com seus atletas.
Atena é a deusa virgem de Atenas e é, por isso mesmo, que seu templo gigantesco da Acrópole se denomina até hoje, o Partenon, já que, em grego, virgem se diz (parthénos).
É bem verdade que a deusa chamava a Erictônio, o filho da Terra, de seu filho, mas a concepção desse "filho da Terra" foi muito estranha. Tendo Atena se dirigido à forja de Hefesto, para lhe encomendar armas, o deus, que havia sido abandonado por Afrodite, se inflamou de desejo pela deusa virgem e tentou prendê-la em seus braços. Esta fugiu, mas embora coxo, Hefesto a alcançou. A filha de Zeus se defendeu, mas, na luta, o sêmen do deus lhe caiu numa das pernas. Atena retirou-o com um floco de algodão, que foi lançado na terra, que, fecundada, deu à luz um menino que aquela recolheu, chamando-o Erictônio, quer dizer "filho da Terra". Sem que os deuses soubesse, a deusa fechou-o num cofre e o confiou secretamente às filhas de Cécrops, antigo rei mítico da Ática e fundador de Atenas. 

Apesar da proibição de Palas, as jovens princesas, Aglauro, Herse e Pândroso, abriram o cofre, mas fugiram apavoradas, porque do mesmo havia uma criança, que, da cintura pra baixo, era uma serpente, como normalmente acontece com os seres nascidos da Terra. Uma outra versão relata que ao lado de Erictônio rastejava medonha serpente. Diz-se que, como punição de três princesas enlouqueceram e precipitaram do alto do rochedo da Acrópole. A partir de então, Atena se encarregou de educar seu filho no recinto sagrado de seu templo na Acrópole. Quando Erictônio atingiu a maioridade, Cécrops entregou-lhe o poder. Casado com uma ninfa náiade, Praxítea, foi pai de Pandión, que o sucedeu no poder. ao rei Erictônio se atribui a introdução na Ática do uso do dinheiro e a organização das Panatenéias. Algumas de suas inovações são igualmente atribuídas a seu neto Erecteu.

Além de haver dirigido os trabalhos de seus colegas, Ictino e Calícrates, na construção do Partenon, Fídias (séc. V a.e.c.), o gênio da escultura ateniense, foi o autor das duas mais célebres estátuas da deusa da inteligência, a Parthénos Criselefantina no interior do Partenon e, ao ar livre, o bronze colossal de Atena Prómokhos.
A ave predileta da deusa era a coruja, símbolo da reflexão que domina as trevas; sua árvore favorita, a oliveira.
Alta, de traços calmos, mais solene e majestosa que bela, Atena era a deusa de olhos garços...
Palas Atena, Atena Polías, era a defensora e a garante de Atenas. Lá de cima da Acrópole, contemplando sua Cidade, transmitiu-lhe pelos lábios de Ésquilo, seu discurso de paz, de liberdade, de justiça e de democracia. Era o fecho do julgamento de Orestes, perseguido pelas Erínias. Vencendo-as, Atena, mais uma vez, dessa feita com o escudo da razão, restabeleceu o domínio da ordem sobre o Caos, da luz sobre as trevas, do primado do ius fori (do direito do homem) sobre o ius poli (o direito das trevas).
Eis seu discurso:

Ouvi agora o que estabeleço, cidadãos de Atenas, que julgais a primeira causa de sangue. Doravante o povo de Egeu conservará este conselho de Juízes, sempre renovado, nesta Colina de Ares. Nem anarquia, nem despotismo, esta é a norma que a meus cidadãos aconselho observarem com respeito.
Se respeitardes, como convém, esta augusta instituição, tereis nela baluarte para o país, salvação para a Cidade, Incorruptível, venerável, inflexível, tal é o Tribunal, que aqui instituo para vigiar, sempre acordado, sobre a Cidade que dorme.
O perfil de Atena, como o de Zeus e o de Apolo, evoluiu consideravelmente no mito, de maneira constante e progressiva, no sentido de uma espiritualização.
Dois de seus atributos configuram os termos dessa evolução, a serpente e a ave (cojura), 

Antiga Grande Mãe minóica, proveniente de cultos ctônios, domínios da serpente, elevou-se, com o sincretismo creto-micênico, a uma posição dominante nos cultos urânios e olímpicos, domínios da ave, como deusa da fecundidade e da sabedoria; virgem, protetora das crianças; guerreira, inspiradora das artes e da paz.
Seu nascimento foi como um jorro de luz sobre o cosmo, aurora de um mundo novo, atmosfera luminosa, semelhante à hierofania de uma divindade emergindo de uma montanha sagrada. Sua aparição marca um transtorno ha história do mundo e da humanidade. Uma chuva de neve de ouro caiu sobre Atenas, quando de seu nascimento: neve e ouro, pureza e riqueza, tombando do céu com a dupla função de fecundar, como a chuva, e de iluminar, como o sol. E é, por isso mesmo, que em certas festas de Atena se ofereciam bolos em forma de serpente e de falo, símbolos da fertilidade e da fecundidade.

Para Relembrar o nascimento de Erictônio, o instituidor das Panatenéias, e que Atena escondera num cofre em companhia e sob a proteção de uma serpente, se oferecia aos recém-nascidos atenienses um amuleto representando uma pequena serpente, símbolo da sabedoria intuitiva e da vigilância protetora. Como "Palas Atena", ela é defensora, no sentido físico e espiritual, das alturas, das Acrópoles, em que se estabelece. A cabeça de Medusa colocada no centro de seu escudo é como um espelho da verdade, para combater seus adversários, petrificando-os de horror, ao contemplarem sua própria imagem. Foi graças a tal escudo que Perseu levou de vencida a terrível Górgona, mostrando assim que Atena é a deusa vitoriosa pela sabedoria, pelo engenho e pela verdade. Sua lança é uma arma de luz: separa, corta e fere, como o relâmpago rasga as nuvens. A proteção concedida a heróis como Aquiles, Héracles, Perseu e conseqüente transformação da personalidade do herói.

Deusa da fecundidade, deusa da vitória e deusa da sabedoria, Atena simboliza mais que tudo a criação psíquica, a síntese por reflexão, a inteligência socializada.
A coruja em grego (glaúks), etimologicamente, "brilhante, cintilante", porque enxerga nas trevas; em latim noctua, "ave da noite", era, como se viu, consagrada a Atena. Ave noturna, relacionada, pois, com a lua, a coruja não suporta a luz do sol, opondo-se desse modo, à águia, que a recebe de olhos abertos. Deduz-se, daí que o mocho, em relação a Atena, é o símbolo do conhecimento racional com a percepção da luz lunar por reflexo, opondo-se, destarte, ao conhecimento intuitivo com a percepção direta da luz solar. Explica-se talvez, assim, o fato de ser a coruja um atributo tradicional dos mânteis, dos adivinhos, simbolizando-lhes o dom da clarividência, mas através de sinais que os mesmos interpretam. Noctua, ave das trevas, ctônia portanto, a coruja é uma excelente conhecedora dos segredos da noite. Enquanto os homens dormem, ela fica de olhos abertos, bebendo os raios da lua, sua inspiradora. Vigiando os cemitérios ou atenta aos cochichos da noite, essa núncia das trevas sabe tudo o que se passa, tendo-se tornado em muitas culturas uma poderosa auxiliar da mantéia, da mântica, da arte de adivinhar. Daí a tradição segundo a qual quem come carne de coruja participa de seus poderes divinatórios, de seus dons de previsão e presciência.

No mito grego a coruja é representada por Ascálafo, que, tendo denunciado a Perséfone, foi transformado em mocho.
Para os astecas, a coruja configura o deus dos infernos, representada como a guardiã da morada obscura das entranhas da terra. Associada às potências ctônias, é um avatar da chuva, das tempestades e da noite.

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