A ESTELA DA FOME
No Sul da Ilha de Sehel (ilha do rio Nilo), região meridional do Egito, foi encontrada a Estela da Fome, que nada mais é do que uma rocha bruta com inscrições.
Esta rocha ou Estela como alguns chamam, descoberta em 1889 por Wilbour. A autenticidade dos fatos narrados nunca foram comprovados. Acredita-se que o rei Ptolomeu V, tentou comparar-se com Djoser no combate a fome.
Provavelmente, o relato da luta contra a fome tenha sido transmitido por via oral ou Ptolomeu V teve acesso a algum documento antigo. Não podemos deixar de citar que entre Ptolomeu V e Djoser há um espaço de tempo de 2.000 anos, .
As inscrições foram feitas na fase final da história do Antigo Egipto, época ptolomaica. Sua confecção é atribuídas a Ptolomeu V.
Na parte superior da estela é possível observar a representação de três deuses da mitologia egípcia, o deus Khnum, e as deusas Satis e Anuket. Em frente deles encontra-se o faraó Djoser realizando uma oferenda aos deuses, posição confirmada pelas mãos da figura. Estes três deuses eram importantes na região próxima da ilha, formando em Elefantina, uma tríade ou agrupamento de três deuses. A própria ilha de Sehel estava dedicada a Satis.
De acordo com o texto, Djoser mantinha-se em seu palácio com sentimentos de tristeza profunda. Seu país era abatido por uma seca que já durava sete anos, o Nilo não transbordava, conseqüentemente, não depositava o lodo que fertilizava as terras para a prática agrícola.
Djoser recorre aos sacerdotes de Imhotep, que investigam nos documentos do templo de Tot uma razão para tão longa seca. Um sacerdote informa ao rei que o Nilo é controlado pelo deus Khnum, que está irado e por esta razão não permite que as águas do Nilo circulem. Para agradar ao deus, Djoser realizar oferendas, como forma de agradar ao deus.
Na noite seguinte Djoser sonha com Khnum, que lhe promete um fim para a fome. Após o sonho o rei emiti um decreto que oferece um templo com riquezas ao deus em Elefantina, região compreendida entre Assuão e Takompso.
Outra inscrição em rochedo.
Outro rochedos da ilha de Sehel, com inscrições, esta ilha do Nilo fica situada entre a primeira e a segunda catarata, ao sul.
A ilha de Sehel é dedicada à deusa Satis, mas Anuket também era adorada na mesma ilha. Estas duas deusas e o deus Khnum formam a tríade local.
Os rochedos da ilha de Sehel, possuem numerosas inscrições. A mais famosas é a Estela da Fome.
Fica a pergunta. Qual teria sido a fonte de Ptolomeu V, para a confecção da estela ?
A Estela da Fome
Antes de nos interessarmos por Sakkarah e seu mestre-de-obras, Imhotep, convém que nos interroguemos acerca dos acontecimentos que marcaram o reinado de Djoser. Na verdade, estanãos pouco informados sobre este assunto. Graças a uma inscrição encontrada em Uadi Hammamat, vale por onde passa a estrada que vai da cidade de Coptos ao mar Vermelho, sabemos que o faraó enviou expedições ao Sinai. Nos rochedos do Uadi Maghara, na peninsula do Sinai, estão representados vários soberanos, entre os quais Djoser, que bate com sua maça piriforme num chefe beduíno prostrado em sinal de submissão.
Mais do que um acontecimento particular, devenãos ver nisso o símbolo do poder exercido por Djoser sobre as tribos nômades que já não ousam transpor as fronteiras do “Duplo País” e perturbar a serenidade dos egípcios. E talvez devanãos igualmente compreender que Djoser já mandava explorar as minas de cobre do Sinai. Seja como foi, a cena clássica do faraó derrubando o inimigo assume aqui um valor especial: trata-se da vitória da ordem sobre o caos, de Djoser, o Magnífico, sobre as forças obscuras do mal, Outro fato parece pertencer mais à lenda do que à História, mas a sua importância merece que o assinalenãos com alguns pormenores. No reino de Djoser teria havido uma grande fome.
Estela da Fome - lnfelizmente, não o sabemos por meio de um documento contemporâneo, mas sim por uma estela da época ptolomaica separada da terceira dinastia por um bem considerável número de anos. A estela intitulada “da fome” está gravada num rochedo descoberto ao sul da ilha de Sebel, na região de Elefantina, na extremidade meridional do Egito. Fato extraordinário: os sacerdotes que gravaram esse texto dataram-no da época de Djoser! É evidente que não tencionavam enganar quem quer que fosse com um documento falso. Podemos, portanto, considerar que um dos Ptolomeus se identificou com o seu remoto e glorioso antepassado, Djoser, a fim de dar um caráter sagrado à sua própria luta contra a fome. Também é possível supor que tenha sido transmitido um documento histórico que evocava acontecimentos muito antigos.
O que nos conta a estela da fome? Ela nos diz que Djoser está profundamente triste. Sentado em seu trono, na solidão do seu palácio, sente um verdadeiro desespero. A seca já data sete anos. O Nilo Não voltou a transbordar e a depositar na terra do Egito o lodo fértil. É a miséria e a fome para todos. Os corpos mais vigorosos perdem a força; em breve sequer terão força para andar. As crianças choram, os velhos fatalistas estão sentados no chão a espera da morte. Mesmo os cortesãos passam privações. Os templos vão sendo fechados um a um. O serviço dos deuses já não é seguro.
Qual a razão desta desgraça?, pergunta Djoser. Volta-se para os sacerdotes do culto de Imhotep, o filho do deus Ptah, sábio entre os sabios. O que se passa? Por que motivo o Nilo, O sinuoso, aquele que serpenteia, já não cumpre a sua missão? Os sacerdotes procu¬ram nas salas dos arquivos do templo de Thot, na cidade santa de Heliópolis. Desenrolando os livros sagrados, recolhem preciosas informações, que transmitem a Djoser. No meio das águas existe uma cidade: Elefantina. É uma cida¬de notável, sede de Rá, o deus Sol, quando este decide conceder a vida.
Ora, existem lá duas tetas que dispensam todas as coisas. “O Nilo”, diz a estela, “acasala saltando do chão um rapaz que fecunda uma mulher e recomeça a ser um jovem cujo coração está vivo.” Mas este renascimento anual depende de um deus: Khnum, homem com cabeça de carneiro, cujas duas sandálias são colocadas sobre as ondas. Se Khnum não as levantar, não será libertado. O Nilo não rejuvenescerá, e o vale estará condenado a seca. Djoser compreende que o deus Khnum está irado. Manda, pois, realizar purificações e procissões em honra do deus, faz-lhe oferen¬das de pão cerveja, aves e vacas.
Khnum aparece-lhe num sonho: “se o rei continuar a honrá-lo como merece, levantará as sandálias, libertará O Nilo e fará voltar as inundações. Ao despertar, Djoser emite um decreto a favor de Khnum. O milagre realiza-se: graças à sabedoria do rei e à intervenção de Imhotep, as flores voltam a florir, a abundância regressa, a fome desaparece, a terra resplandece e a alegria volta a habitar o coração dos homens. Terá essa narrativa um conteúdo histórico preciso? De fato, não é impossível que conserve a memória da soberania exercida por Djoser sobre toda a região da primeira catarata e, mais particular-mente, sobre a Núbia.
Para apaziguar Khnum e obter seus favores, Djoser oferece-lhe a região compreendida entre Assuã e Takompso, O Dodecasceno, segundo o nome grego. Este território gozou de um estatuto especial durante toda a história do Egito, estatuto esse que lhe deve ter sido concedido durante o reinado de Djoser. A estela salienta a sabedoria e a piedade de Djoser. Desafiado por um dos flagelos mais graves — a fome — , a sua primeira reação não é de ordem econômica, mas religiosa. Volta-se para os sacerdotes mais sábios e mais competentes. Não restabelece a ordem das coisas adotando medidas materiais, mas aplacando o furor divino que está na origem da desventura da terra. Djoser, o Magnífico, foi um homem de fé, mas não se abandonou a uma mística estéril. A sua grande obra era de ordem arquitetônica. Para conseguir criar o conjunto de Sakkarah, recorreu a um arquiteto genial, Imhotep.
Elise Schiffer
Nov/2009
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