ARMAS LENDÁRIAS QUE EXISTIRAM
Fonte ótimo blog Mundo Tentacular
Espadas não são apenas armas, elas são símbolos de poder, usadas ao longo dos séculos como oferendas, em cerimônias para investir pessoas com títulos, para coroações reais, e como preciosos objetos de troca. Ao longo dos anos, certas espadas foram encontradas ou desenterradas, trazendo com elas séculos de lendas e histórias incríveis. Elas são a ligação entre figuras famosas que realmente existiram e as lendas que se formaram ao redor desses personagens.
Aqui estão cinco espadas do mundo antigo e algumas lendas a respeito delas.
• Joyeuse: A Legendária Espada de Carlos Magno:
A Espada de Joyeuse, que atualmente se encontra no Museu do Louvre em Paris, é uma das mais famosas espadas de todos os tempos.
Registros históricos relacionam a espada com o reinado de Charlemagne (Carlos Magno), o Grande, Rei dos Francos. Se ela realmente pertenceu ao famoso Rei que governou a França há cerca de 1200 anos atrás não é possível precisar, mas sem dúvida é uma arma digna de um monarca. A Espada de Joyeuse teria sido usada em incontáveis cerimônias de coroação, sua lâmina tocando o ombro e a testa de monarcas franceses, como uma forma de trasmitir o direito de governar com o aval de Deus. A espada é cercada por mitos e lendas ancestrais que atestam ser ela dotada de muitos poderes mágicos.
A mais antiga menção a Joyeuse data do ano de 802. Segundo a lenda a espada, cujo nome significa "Rejubilante" em francês, foi forjada pelo famoso ferreiro Galas, que levou três anos para completar seu trabalho. Durante a construção, Galas teria recebido em sua oficina indivíduos que supostamente infundiram no metal propriedades místicas que tornaram a arma mágica. As lendas sobre essas propriedades mágicas são muitas. Uma das mais antigas estórias afirma que a lâmina quando erguida por um rei valoroso resplandece com um brilho tão forte que é capaz de cegar os inimigos em batalha. "O brilho de uma dúzia de sóis", escreveu um cronista medieval. Há também a crença que a espada protege seu portador contra venenos e doenças tanto naturais quanto mágicas. A espada seria capaz de romper maldições e malefícios e apontar na direção de qualquer um que conspira contra o rei.
O Imperador Charlemagne, teria recebido a espada como presente quando retornava da Espanha. Ele foi procurado por Galas e outros três homens misteriosos que desejavam uma reunião particular com o rei. Os homens teriam feito algumas perguntas para avaliar a honra e a lealdade do monarca e uma vez satisfeitos com as respostas, lhe entregaram a espada como presente.
Charlemagne (742-814), também chamado de Carlos Magno, foi o governante dos Francos e um dos mais influentes Imperadores Cristãos do Ocidente. Ele foi uma das principais personalidades de sua época, ajudando a definir o formato da Europa Medieval ao presidir o período que ficou conhecido como Renascimento Carolíngeo. Após a queda do Império Romano, ele foi o primeiro a reunir a Europa Ocidental sob um mesmo Império. Carlos Magno governou um vasto reino que incluía terras nas atuais França, Alemanha, Itália, Austria e os Países Baixos, foi ele quem consolidou o cristianismo ao longo de seu império, empreendendo para isso conversões forçadas. Suas realizações no campo militar frequentemente envolviam extrema brutalidade, como por exemplo a ordem de decapitar mais de 2,500 chefes tribais francos e saxões.
Uma balada do século XI, escrita por Roland, narra a épica Batalha de Roncevaux em 778, e descreve o Rei cavalgando para o combate com Joyeuse:
"(Charlemagne) vestia uma armadura brilhante e uma tabarda branca imaculada com seu símbolo de armas no peito. Na cabeça um elmo com pedras incrustadas e filigramas de ouro; na cintura pendia Joyeuse, a espada inigualável. Quando tirada da bainha, sua lâmina mudava de cor. Os homens bradavam confiantes quando ele passava à caminho da guerra".
Certo dia, durante uma grande batalha, Charlemagne alegadamente perdeu Joyeuse e prometeu uma recompensa para quem a encontrasse. Após várias buscas infrutíferas, empreendidas por nobres e cavaleiros, um humilde soldado descobriu a arma caída no campo coalhado de mortos. Ele a trouxe para o Rei e prostado de joelhos a entregou. Na ocasião, o Imperador teria feito um juramento solene: "Neste local será construída uma cidade da qual você será o lorde e senhor, e seus descendentes receberão o nome de minha magnífica espada". Em seguida, Charlemagne teria ordenado a construção de uma cidade naquele ponto. De acordo com as lendas, essa é a origem da cidade francesa de Joyeuse in Ardéche, nomeada dessa forma por decreto do rei.
|Não existem registros históricos que atestem o que aconteceu com a Espada Joyeuse após a morte de Charlemagne. Entretanto em 1270, uma espada identificada como a verdadeira Joyeuse foi usada na cerimônia de coroação do Rei francês Phillip, o ousado, que foi sagrado na Catedral de Reims. A espada teria ficado sob a proteção do Monastério de Saint-Denis, que possui um famoso cemitério que recebe os restos mosrtais dos Monarcas Franceses. Lá ela teria permanecido sob a proteção dos monges até 1505.
Joyeuse foi levada para o Louvre em 1793, após a Revolução Francesa. Ela teria sido encontrada nas câmaras do tesouro do Palácio Real e reclamada pelas autoridades revolucionárias com um símbolo. Rumores atestam que ela por pouco não foi destruída, visto que representava um símbolo da monarquia recém derrubada, mas ao invés disso ela foi posta em exposição. Ela foi usada novamente em 1824 na coroação de Carlos X e é a única espada utilizada oficialmente para a coroação de Reis da França desde os tempos medievais.
Atualmente, a arma que acredita-se ser Joyeuse está em exposição no Louvre atrás de uma parede de vidro à prova de balas. Ela é uma típica espada de lâmina larga, condizente com as armas que eram forjadas no século XII. Há no entanto algumas partes que datam de outros períodos: a empunhadura por exemplo é do século X ou XI, a bainha de veludo é do século XII e a cruz dourada usada como guarda mão é reminiscente do século XIII. É provável que a espada tenha recebido o acréscimo de partes de outras espadas ao longo dos séculos, uma prática relativamente comum. As pedras e jóias cravejadas que adornam a espada e sua bainha foram inseridas por diferentes governantes.
A espada de Joyeuse talvez seja uma das armas mais famosas do mundo, um artefato excepcional ligado intimamente a história da França. Visualmente deslumbrante, a espada se tornou o modelo padrão de espada que se imagina, quando se fala de espadas medievais.
• A Espada das Sete Ramificações: A Mítica Espada Cerimonial do Japão
Acredita-se que o Templo Shinto de Isonokami foi construído no século IV da Era Cristã. Localizado no sopé da Montanha Tenri no distrito de Nara, no Japão, este templo possui um importante significado cultural já que guarda vários tesouros nacionais. Dentre estes tesouros inestimáveis encontra-se uma lendária espada que é tratada como uma regalia imperial do Japão. Ela é chamada de Nanatsusaya no Tachi, ou "Espada das Sete Ramificações".
A espada é assim chamada porque sua lâmina possui ramificações, semelhantes a protusões que se projetam de seu corpo principal. Juntas com a ponta da lâmina principal, elas totalizam sete ramificações. A espada mede 74.9 cm de comprimento, e é feita totalmente de ferro. Uma vez que as ramificações parecem ser muito delicadas, e sua funcionalidade em combate parece duvidosa, é pouco provável que a Espada das Sete Ramificações tenha sido forjada com fins militares. Ao invés disso, ela provavelmente tinha função cerimonial. Uma inscrição gravada em ouro na lâmina central também depõe a favor dessa suposição.
De um lado está escrito:
"Em 16 de maio, no quarto ano de Tae-hwa, no final da tarde do dia de Byeong-O, esta espada de sete ramificações foi forjada com ferro revestido uma centena de vezes. Uma vez que a espada possui poderes mágicos, capazes de indicar a presença de inimigos, ela foi presenteada a um rei por um vassalo”.
Do outro lado, lê-se o seguinte:
"Nunca uma espada como essa foi forjada. Para que haja paz e prosperidade entre os Reinos de Baekje e Wa".
Esta é a grande polêmica. A inscrição não deixa claro qual é o estado suserano e qual o estado dominado.
Baekje é um antigo nome de um reino localizado na Península da Coréia, quanto a Wa, é uma antiga designação do Império do Japão. O artefato é bastante importante pois atesta o contato entre Baekje e o Japão em tempos antigos. Isso não é exatamente uma novidade, já que é consenso para muitos historiadores que estudiosos de Baekje levaram o budismo, confucionismo e o sistema de escrita chinês para o Japão. Mais importante, entretanto é que a inscrição lança uma luz sobre a natureza da relação estabelecida entre os reinos.
De acordo com alguns estudiosos (japoneses em sua maioria), a espada teria sido ofertada como uma espécie de tributo, uma vez que Baekje seria um reino vassalo do Império do Japão. Outros pesquisadores (coreanos obviamente), afirmam que o sentido da inscrição é inverso e que o Japão seria o reino vassalo de Baekje. Uma vez que os dois reinos alternaram momentos de poder e sujeição um sobre o outro, não há como dizer ao certo qual dos dois está certo em suas suposições.
De acordo com o Nihon Shoki, tido como o segundo livro mais antigo escrito no Japão, a espada de sete ramificações, bem como vários outros tesouros teria sido presenteada ao Imperador como tributo de Baekje no quinquagésimo segundo ano de reinado de Jingu. Após essa oferta, Baekje teria acertado entregar um tributo anual. Os historiadores coreanos no enatnto contestam essa afirmação e dizem que a espada foi feita pelos japoneses e entregue como presente ao seu rei, um monarca de direito que extendia seu poder além do Mar até o Japão.
Essa discussão vigora há séculos e foi motivo de muita polêmica tanto no Japão, quanto na Coréia e um motivo de discórdia entre os dois países que vigorou até o século XX.
Ao longo da história Japão e Coréia tiveram períodos conturbados e guerras ocasionais. Durante esses enfrentamentos, a espada era sempre o pomo da discórdia com soldados de ambos os lados afirmando que a história da espada os favorecia.
Quando o Japão invadiu a Península da Coréia pouco antes do início oficial da Segunda Guerra Mundial, uma de suas motivações de seus generais era provar de uma vez por todas que o Império do Japão era o suserano do antigo reino de Baekje. Muitos militares japoneses, movidos pelo patriotismo alardeavam que era questão de honra provar que o Japão era o verdadeiro Senhor da Coréia. Incontáveis jovens se alistaram no exército imperial apenas com o intuito de invadir a Coréia e provar seu ponto. A maneira brutal como o Japão invadiu a Coréia na década de 1930, se deve, em parte, a essa longa disputa. As tensões entre Coréia e Japão perduraram por muito tempo e a dúvida sobre a espada veio à tona inúmeras vezes. Mesmo hoje, a Coréia do Norte, não considera o Japão uma nação amiga.
Em tempo, a espada alegadamente encontra-se em poder do Japão desde o século V. Os japoneses afirmam que a espada pertence a eles uma vez que foi ofertada por Baekje. Já os historiadores coreanos continuam afirmando que a espada foi roubada pelos japoneses em uma guerra e levada como espólio. Essa disputa aparentemente, jamais terá fim...
• A lendária espada na Pedra de San Galgano:
Uma das mais famosas lendas britânicas diz que o jovem Arthur Pendragon sagrou-se Rei ao remover uma espada presa em uma pedra. De acordo com várias versões da estória, a espada só poderia ser removida da rocha pelo único e verdadeiro rei da Inglaterra. Uma estória similar, mas muito menos conhecida, pode ser encontrada na Itália, mais especificamente na região da Toscana, e para alguns estudiosos poderia até mesmo ser a fonte de inspiração para a lenda inglesa. Esta é história da Espada de San Galgano.
San Galgano ficou conhecido por ter sido o primeiro santo cuja canonização se deu através do processo formal realizado pela Igreja Católica até os dias atuais. Muito da vida de San Galgano é sabido através de documentos sobre seus milagres que teriam ocorrido em meados de 1185, apenas alguns anos após a sua morte. Alguns historiadores escreveram a respeito de sua história e de suas realizações.
San Galgano nasceu em 1148 na cidade de Chiusdino, na moderna província italiana de Siena. Sua mãe Dionisia e seu pai Guidotti pertenciam a nobresa de Siena e tinham uma vida confortável. Na juventude, San Galgano se preocupava apenas com os prazeres da vida. Na qualidade de nobre, ele recebeu treinamento de guerra e se tornou cavaleiro, ele era descrito como um rapaz arrogante e violento. Tudo isso mudou quando ele experimentou uma visão que mudaria sua vida para sempre.
A conversao se deu quando Galgano foi derrubado de seu cavalo em uma disputa e desmaiou. Ele alegava que enquanto estava ferido foi protegido pelo Arcanjo Miguel - que incidentalmente é um padroeiro dos guerreiros. O arcanjo disse que ele deveria mudar sua vida dramaticamente, abandonar os exageros e se tornar um eremita em busca de iluminação. Recobrado de seus ferimentos, San Galgano abandonou suas armas e passou a viver em uma caverna isolada. Como seria de se esperar, Galgano foi ridicularizado pelos seus amigos e família, que acreditavam que ele havia simplesmente enlouquecido. Sua mãe Dionísia chegou a visitar o filho e tentou convencê-lo a retornar para casa e por um curto período ele acabou cedendo aos pedidos da família.
Meses depois, Galgano passava pelo vale de Montesiepi, que fica próximo de Chiusdino. Ele teve uma nova visão na qual ouviu uma voz dizer que ele deveria escalar a montanha e chegar ao topo. Lá, experimentou uma visão com uma Grande Igreja e os Santos Apóstolos. A misteriosa voz o comandou a abandonar a vida frívola e se tornar um eremita cuja existência seria devotada a religião. Galgano respondeu que não tinha forças para tanto e que mudar dessa maneira era virtualmente impossível, tanto quanto partir uma rocha com um golpe de espada. A voz o comandou então a sacar sua espada e desferir um ataque na rocha mais próxima. Atendendo a ordem, Galgano investiu contra um pedregulho e para sua surpresa, a lâmina não se partiu, mas penetrou na rocha enterrando-se em seu interior mantendo-se entretanto intacta. Caindo de joelhos diante do milagre, Galgano se dedicou a construir uma igreja naquele exato local.
Por séculos, a espada na pedra permaneceu no alto de Montesiepi como uma atração para a Igreja que posteriormente foi erguida. Ela era considerada uma farsa moderna bem engendrada. Contudo, uma pesquisa recente atestou que a espada realmente é do século XII, baseada em sua composição de metal e estilo da lâmina. Os pesquisadores também descobriram com o auxílio de um radar de profundidade, que existe um nicho a aproximadamente dois metros de profundidade e um metro abaixo da espada, onde alegadamente foi depositado o corpo de San Galgano. Por fim, um exame de radio-carbono descobriu outra curiosidade na Igreja - um par de mãos mumificadas, também do século XII, guardadas em um nicho da parede da igreja. De acordo com uma lenda muito difundida, o diabo enviou um assassino disfarçado de monge até Montesiepi com o intuito de roubar a espada e incendiar a Igreja quando esta estava sendo construída. San Galgano teria sido avisado pelo Anjo Miguel, e para se defender do criminoso recebeu a permissão de remover a espada presa na rocha. De posse da arma, cujo fio ainda estava perfeito, ele deu cabo do assassino cujas mãos foram decepadas e expostas na Igreja ao longo dos anos.
Após a morte de San Galgano, a obra da Igreja foi concluída por alguns seguidores que criaram uma Ordem de Cavalaria devotada a ajudar os pobres e necessitados. No século XIII, um dos descendentes de Galgano teria sido investido pelo Arcanjo Miguel a remover a espada da pedra e usá-la na Cruzada para libertar a Terra Santa. A espada teria sido retornada após a jornada e conquista de Jerusalém.
Hoje em dia, a espada permanece na igreja construída por Galgano atraindo inúmeros fieis. Diferente de outras relíquias sacras, até pouco tempo atrás, indivíduos que aformavam terem experimentado visões com o Arcanjo tinham permissão para tentar remover a espada da rocha. Até onde se sabe, ninguém conseguiu repetir a façanha.
• Goujian: A Espada Chinesa que desafia o tempo
Cinquenta anos atrás, uma rara e misteriosa espada foi encontrada em uma tumba na China. A despeito de ter mais de dois mil anos de idade, a lâmina, conhecida como Goujian, não apresentava qualquer traço de ferrugem. A lâmina estava em tão boas condições que o arqueólogo que a testou produziu um corte no próprio dedo ao testar o fio. Ela estava em perfeito estado, a despeito de tanto tempo ter passado. A qualidade da arma era tão superior a qualquer outra criada na mesma época, que os pesquisadores cogitaram que ela havia sido coocada na tumba como uma espécie de farsa. Tratada como um tesouro nacional, a espada é tão lendária para o povo da China quanto a Excalibur para os ocidentais.
Goujian foi encontrada em um complexo subterrâneo de ruínas Jinan, próximo da cidade de Chu, junto com ela foram desenterrados mais de dois mil outros itens de grande valor arqueológico. A espada estava em uma cripta, guardada em um estojo de madeira laqueado no colo de um esqueleto trajando roupas nobres e uma armadura. Os arqueólogos ficaram sem palavras ao se deperar com a arma, cuja lâmina de bronze estava intacta, preservada em uma bainha de pele. Um teste conduzido pelos pesquisadores constatou que a espada era reminiscente dos demais itens descobertos na tumba.
A Espada de Goujian é a mais antiga Espada Jian encontrada até hoje. Esse estilo de lâmina reta com fio duplo foi largamente usada na China há pelo menos 2500 anos. As espadas Jian estão entre as mais antigas utilizadas e são intimamente associadas ao folclore nacional. Segundo as lendas, a espada é tratada como "a arma preferida dos heróis", considerada como a ferramenta dos grandes guerreiros junto com o cajado, a lança e o sabre leve.
Relativamente mais curta quando comparada a outras peças do mesmo período, Goujian possui uma alta concentração de cobre na sua liga, fazendo com que ela seja muito mais resistente. Os fios da lâmina são revestidos com uma camada de latão que a torna mais dura e permite manter sua borda muito mais afiada. Há também uma pequena concentração de ferro, chumbo e enxofre na espada, e uma análise mais elaborada conclui que havia Sulfito de Cobre, responsável por garantir as propriedades anti-oxidação. Na empunhadura, Goujian possui uma turquesa engastada e um fio de metal para não escorregar. A espada mede 55 centímetros de comprimento e tem uma lâmina com 4,5 centímetros de largura. Ela pesa apenas 875 gramas.
Ao longo da lâmina, há uma inscrição em caracteres chineses arcaicos que foram traduzidos como "O Rei de Yue ordenou a criação dessa espada para seu uso pessoal" e a abaixo o nome do ferreiro responsável pela magnífica obra. Desde seu surgimento em 510 aC, até sua destruição pelo Império Chu em 334 dC, nove reis governaram Yue, incluindo um que era chamado Goujian e que foi apontado como o dono original da espada.
Goujian foi um famoso imperador conhecido pelas suas expedições militares nas quais ele próprio tomava parte. Conhecido com um governante audacioso, Goujian travava as suas próprias lutas, cavalgava, disparava arco e flecha, dominava as artes da esgrima e outras perícias marciais. Incorporado ao folclore chinês, Goujian se tornou um personagem recorrente em várias estórias admirado pelo seu heroísmo, representado como um guerreiro poderoso e implacável. Apesar de ter sido derrotado pela Dinastia Zhou, Goujian retornou dez anos mais tarde a frente de um exército para retomar o seu trono e matar seus inimigos. Segundo as lendas, a mítica espada do Imperador tinha propriedades sobrenaturais: ela não podia ser retirada da bainha a não ser pelo Imperador ou por alguém de sua confiança, além disso a arma era tão afiada que podia cortar através de metal como se fosse seda, finalmente, a arma depois de provar o sangue de um inimigo adquiria vida própria, controlando o braço de seu portador desempenhando uma dança fatal.
Não à toa, a descoberta de uma lendária espada que pode muito bem ter pertencido a um herói igualmente lendário, é tida como uma das maiores descobertas arqueológicas da China. A espada é o mais importante item do Museu da Província de Hubei, atraindo milhares de visitantes anualmente.
Nesse caso, é possível ver com os próprios olhos uma arma que faz parte das lendas.
• A Maldição das Espadas Muramasa
Bushido, o famoso livro escrito por Nitobe Inazo em 1899 explora o mito dos samurais. Em um dos capítulos ele diz que a espada é a "alma do samurai", a ferramenta através da qual o guerreiro comunga com espíritos superiores. Com tamanha importância dispensada a essas magníficas armas, não é de se estranhar que o ofício de construtor de espadas gozasse de enorme influência. Mestres armeiros, em especial, aqueles que se dedicavam a criação de espadas para samurais eram tidos como verdadeiros artistas.
No Capítulo XII, Nitobe escreve:
"O construtor de espadas não é um mero artesão, mas um artista; sua oficina é seu santuário. O mestre inicia seu dia de trabalho com uma oração e um ritual de purificação, neste compromete sua alma e seu espírito na tarefa árdua de temperar o aço e forjar uma arma mortal nas mãos de um guerreiro. Cada golpe de martelo, cada mergulho na água, cada fricção na mesa de afiar não é um ato gratuito, está mais para uma atividade religiosa".
Alguns construtores de espadas se tornaram tão famosos quanto os próprios samurais. Seus nomes sendo compartilhados com um misto de admiração e reverência. Um dos maiores construtores foi Muramasa Sengo, que em importância no seu ramo de trabalho só era comparado a Muramasa Goro.
Muramasa Sengo viveu durante o período Muramachi (entre os séculos XIV e XVI). Em algumas lendas, Muramasa é descrito como um discípulo do lendário armeiro Masamune, ainda que historicamente seja impossível, já que o segundo viveu muitos séculos antes de seu alegado aluno. Segundo as lendas, Muramasa era um verdadeiro gênio no ramo, responsável por criar espadas quase perfeitas. Infelizmente, como muitos virtuosos, Muramasa tinha um gênio difícil... na verdade ele é retratado como um louco varrido, capaz de atos de violência extrema. Muramasa teria matado vários de seus ajudantes que falharam em atingir seu elevado grau de perfeição. Mais do que isso, ele exigia completa dedicação de cada aprendiz, chegando ao extremo de assassinar a noiva de um de seus empregados para que o rapaz não dividisse sua atenção entre o trabalho e a vida pessoal.
Muramasa era um verdadeiro maníaco: trabalhava de sol a sol, não dormia, comia pouco e passava os dias e noites na oficina em sua busca insana pela espada perfeita. Suas qualidades destrutivas, segundo as lendas, eram transmitidas para as espadas que ele temperava exaustivamente. As lâminas acabavam contaminadas pela loucura de Muramasa, embora fossem magníficas. Os samurais que as empunhavam terminavam se tornando desnecessariamente violentos, sanguinários, vingativos... para alguns as lâminas de Muramasa eram malditas, transmitiam parte de sua loucura para quem ousava empregá-las.
A despeito da má reputação e da superstição, mais e mais lâminas foram forjadas, tornando-as extremamente populares no Japão. Foi apenas durante o reinado da Dinastia Togugawa Ieyashu, o primeiro Shogun do período Edo, que as espadas Muramasa começaram a perder a sua influência. O pai do shogun, Matsudaira Hirotada, e seu avô, Matsudaira Kiyoyasu, foram mortos por assassinos portando lâminas Muramasa. O próprio shogun foi ferido (supostamente) por uma espada criada por Muramasa enquanto inspecionava o yari (lança japonesa) de um dos seus generais.
Essa série de coincidências envolvendo espadas Muramasa fez com que surgisse o rumor de que uma espada Muramasa estava destinada a matar o shogun e toda sua família. Convencido dessa estória, o shogun ordenou que todo samurai detentor de espadas Muramasa entregassem suas armas. Muitos guerreiros se negaram a entregar suas espadas e enfrentaram o édito imperial. O caso mais famoso de um samurai que se negou a entregar as armas foi o de Takanak Ume, o Magistrado de Nagasaki. Em 1634, foram encontradas nada menos do que 24 espadas Muramasa em sua casa. Como castigo Takanak foi obrigado a cometer seppuku (ritual de suicídio). A despeito das sérias punições, alguns samurais continuaram usando as espadas proibidas.
Quanto a Muramasa, ele acabou sendo preso depois de escorraçar os emissários do Shogun da sua oficina. Negando-se a encerrar seus trabalhos, o shogun ordenou que ele fosse preso e jogado na masmorra. Ainda assim, o armeiro disse que não deixaria seu trabalho de lado e como retribuição, o shogun ordenou que seus olhos fossem furados para ele não poder construir mais nenhuma espada. Supostamente, Muramasa ainda conseguiu criar outras espadas clandestinamente, algumas tão, ou até mais perfeitas, do que as forjadas quando ele enxergava.
Hoje em dia, as espadas criadas por Muramasa Sengo estão entre as mais raras e valiosas podendo atingir enormes somas em casas de leilão especializadas. Durante a Segunda Guerra mais de cinquenta dessas espadas lendárias foram recolhidas como espólio de guerra por soldados americanos, algumas delas foram compradas pelo governo do Japão em uma tentativa de reaver esse importante tesouro nacional.
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