LOVIATAR
Conhecida como a Entidade cega na Mitologia Finlandesa, Loviatar é a temida Deusa da Morte e da Doença. Nascida da união entre Tuoni, o Deus da Morte, e sua Rainha do Submundo, Tuonetar, Loviatar é discutida em vários trechos do folclore finlandês em textos que a relacionam aos seus filhos - todos seres absolutamente malignos e assustadores.
A mais confiável fonte existente a respeito de Loviatar é o Kalevala, um documento escrito no século IX que é considerado a maior saga épica da Finlândia. No Kalevala, Loviatar ocupa a maior parte do quadragésimo-primeiro capítulo onde muitos detalhes sobre ela podem ser pinçados.
De acordo com a saga, Loviatar é descrita com as palavras mais sinistras. Ela é considerada a filha mais miserável e com o coração mais negro - um "ser de extrema maldade e comisseração, que existe apenas para disseminar o mal e consumir tudo o que é bom e puro. Também é responsabilidade da Deusa maligna soprar maldições e doenças na boca dos mortais, fazer com que eles adoeçam e percam a saúde, seja ela física ou mental. A presença de Loviatar seria tão tóxica que a mera proximidade dela, segundo o Kalavela causava surtos e epidemias em povoados. A Deusa se deliciava ao contaminar velhos e crianças enquanto estes dormiam, fazendo com que os vapores nocivos de doenças penetrasse em seus corpos. Ela também amaldiçoava mulheres grávidas, sendo a culpada por abortos espontâneos e nascimentos de fetos com má-formação. Ela sussurrava no ouvido das pessoas, ocasionando surtos de paranóia, loucura e depressão. Loviatar também era a culpada por motivar suicídios e acidentes fatais, graças ao seu legendário mau olhado.
A descrição física da Deusa coincide com o grande leque de tragédias que ela patrocina. Ela é uma velha odiosa, alquebrada e cega, feia e coberta de pústulas e marcas de idade por todo o corpo. Uma virgem amargurada, à despeito dos textos afirmarem que ela possui filhos. Ninguém é capaz de gostar dela, de ficar perto ou mesmo de falar com Loviatar. A velha bruxa é incapaz de ouvir ou entender as línguas humanas. O folclore afirma que ela tinha várias irmãs, cada uma represnetando um diferente aspecto de morte, contudo Loviatar era de longe a mais temida pela sua reputação irascível e cólera. Sua irmã Kalma, por exemplo, era uma deusa da corrupção que fazia com que os cadáveres apodrecessem, já Kipu-Tyttö, uma deusa maligna responsável por causar doenças respiratórias. Mas enquanto, essas deusas versavam sob um único aspecto negativo, a influência perniciosa de Loviatar se enquadrava em tudo que era ruim.
As descrições de Loviatar sempre são aterrorizantes, uma mulher velha que simboliza a mortalidade,a desolação e a morte. A forma é o extremo oposto das mães virginais das mitologias, a pureza cedendo lugar a corrupção em seu estado cru.
É claro, Loviatar não era uma Deusa venerada, muito pelo contrário: as tribos bárbaras da antiga Finlândia a temiam e evitavam até mesmo falar seu nome. Ela não tinha templos ou capelas, quando muito seu nome era proferido por loucos e proscritos. Alguns poucos sacerdotes ofereciam a ela sacrifícios com o intuito de aplacar sua fúria e fazer com que ela olhasse em outra direção. Quando uma doença grave afligia uma pessoa, um sacerdote era chamado e este tentava de todas as maneiras livrar a vítima do Sopro da Deusa. Existiam diversos rituais de purificação, dentre os quais alguns que buscavam expurgar a doença do corpo através do suor - os finlandeses do passado se notabilizaram por criar saunas primitivas.
Loviatar raramente concedia seu favor. Se por alguma razão, um sacerdote desejasse amaldiçoar uma pessoa com uma doença, ele próprio estaria se arriscando a contrair também a moléstia. Não obstante, alguns bruxos se notabilizaram por lançar maldições e chamar Loviatar para criar venefícios implacáveis. Alguns reis e senhores finlandeses teriam sido amaldiçoados dessa forma, padecendo de males encomendados por indivíduos que lhes queriam mal.
O Kalevala institui que Loviatar teve nove filhos, conhecidos pelos nomes das maiores aflições conhecidas pelo homem. Eram eles: Cólica, Pleurisia, Febre, Úlcera, Praga, Tuberculose, Gota, Senilidade, Esterilidade e Câncer. Entretanto, como pode-se perceber, estão listados apenas oito nomes. O nono filho é considerado o mais tenebroso e horrendo da sua prole, ele não possui um nome segundo o texto, tendo sido banido pela própria mãe . Ele é chamado em alguns textos de "Aquele que Destrói", uma força de entropia pura e destruição sem sentido que um dia surgirá e acabará com tudo que existe de uma única vez. Segundo o Kalevala, sua chegada fatídica marcará a grande luta e o último fôlego da raça humana.
Os fragmentos conhecidos do Kalevala falam como se deu a impregnação e o subsequente nascimento das terríveis crianças de Loviatar. Ela teria engravidado através do vento leste que trouxe o sopro de terras distantes e proibidas, povoadas por demônios e espíritos malignos. Cada vez que esse vento maligno soprava do outro lado do mundo, Loviatar engravidava de uma dessas entidades e logo paria um horror para o mundo.
O folclore institui que quando o mundo ainda era jovem, Loviatar andou livremente pelo mundo dos homens fomentando a tragédia através das "dádivas" de seus oito filhos até o dia em que ela foi banida por Louhi, um feiticeiro humano que rezou para o Grande Deus Ukko mandar a bruxa para o mundo do além. Ela passou a habitar a fronteira com as terras proibidas de gelo negro no leste onde se prostou para dormir e aguardar o dia em que retornaria. De lá, ela ainda podia soprar suas doenças, mas estaria proibida de tocar os mortais.
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