SHUB-NIGGURATH - A Mãe Negra - Mythos de H.P. Lovecraft
Na mitologia do Cthulhu Mythos a fertilidade é representada por Shub-Niggurath, ela é a entidade cósmica que simboliza o ciclo da vida, sobretudo no que diz respeito a nascimento, reprodução e fecundidade.
O tempo e local de origem de Shub-Niggurath são desconhecidos, mas uma vez que ela evoca todo um princípio universal - de mãe cósmica, talvez sua gênese tenha se dado com o próprio surgimento do Universo. Para muitos teóricos do Mythos, Shub-Niggurath se formou pouco depois que a explosão resultante do nascimento universal fosse deflagrada pela vontade de Azathoth. Dentre as forças constitutivas do Universo, Shub-Niggurath surgiu depois apenas de Azathoth, que é o representativo Alfa e Ômega de todas as coisas e de Yog-Sothoth que simboliza o conceito de tempo e espaço. Os teóricos dizem ainda que, seu surgimento deflagrou a primeira onda fecunda que se espalhou pelo cosmos possibilitando o surgimento de formas de vida tão variadas quanto as estrelas no firmamento. Ela seria portanto, o ser do qual decorre toda a vida original.
Em virtude de seu papel como "mãe", Shub-Niggurath é tratada genericamente como uma fêmea, portanto uma deusa. Entretanto, existem passagens em tomos esotéricos do Mythos que se referem a ela pelo título de "O Bode com milhares de filhotes" o que a difere do seu epíteto mais famoso, "a Cabra Negra com mil crias".
Uma referência do Chaat Aquadingen afirma que Shub-Niggurath não possui um gênero, ela é ambos: macho e fêmea, fundidos em um único corpo. Essa androgenia parece estar relacionada com o princípio que ela engloba todo processo da criação em seu ser. Mais marcante que o gênero, é o tamanho da prole que a segue, aludida em todos os títulos. O elemento marcante é o caráter plural. "Mil filhos" certamente denota uma grande quantidade e não um número exato, sendo a prole dela incontável.
Segundo a maior parte das fontes, o lar atual de Shub-Niggurath é o planeta Yaddith, covil dos gigantescos Dholes que desde o início dos tempos veneram a Deusa Exterior como sua divindade única. Shub-Niggurath teria ordenado aos fiéis dholes que conquistassem esse vasto mundo para que ela pudesse se estabelecer em seu subsolo e modelar o planeta na forma de uma espécie de planeta vivo, cuja superfície ela pode moldar ao seu bel-prazer. Há também a hipótese que ela permanece ocupando um lugar de destaque na legendária Corte de Azathoth, no centro do Universo. Lá, dançando e evoluindo ao redor de Azathoth, ela continua originando formas de vida que são lançadas nos recessos do universo para semear planetas estéreis.
Não há um consenso a respeito do tema. Para alguns escribas do Mythos, a deusa teria adotado a Terra como seu lar, construindo a cidade inumana de Harag-Kolath em algum ponto no sul da Península arábica, local que ela ainda habita, aguardando a chegada de seu consorte Hastur, o Impronunciável. É pouco provável que esses escribas estejam corretos em suas suposições de que Shub-Niggurath habite a Terra, mas é aceito que em vários momentos da existência de nosso planeta, ela tenha sido invocada fisicamente.
Em culturas primitivas, sabe-se com certeza que Shub-Niggurath foi honrada como uma Deusa Matriarcal de enorme importância e influência. O culto de Shub-Niggurath no seio de sociedades humanas, talvez tenha sido o mais difundido dentre todas entidades do Mythos.
Sabe-se que ela, em algum momento da história, foi reverenciada pelos Tcho-Tcho, pelo povo da Hiperbórea, pelos Muvianos e Atlantes, bem como egípcios, cretenses e etruscos. Também foi glorificada pelos sumérios, fenícios e babilônios que lhe rendiam inúmeras homenagens. Os romanos tiveram contato com esses cultos ao longo de suas conquistas e a levaram a todos os cantos do Império, do leste europeu, ao coração da Europa, até a Britânia onde ela foi abraçada pelos druidas. Na África ela já era conhecida pelos povos negros, bem como pelas civilizações pré-colombianas na América. Ocorrendo o mesmo no oriente distante.
Para esses cultos, a vida só existia pelos desígnios da Deusa. Ela abençoava a união carnal e permitia a perpetuação da espécie. Para garantir a concepção, o nascimento sadio e o crescimento, a "Deusa" era reverenciada e honrada em complexos rituais. Diferentes civilizações adotaram concepções diversas e formas distintas para Shub-Niggurath, todas elas tendo em comum os princípios de fertilidade e fecundidade. Dos ritos de Artemis e Ephesus, a Hécate e Deméter na Grécia, a deusa Astarte na Mesopotâmia, Amun, a progenitora de todas as coisas no folclore do Egito passando pelas celebrações de Baal entre os cananitas, o deus cornudo Cernunnos dos celtas e a divindade Nórdica Freyr...
Todas essas entidades, idênticas em um único simbolismo podem ser personificações de Shub-Niggurath, a Magna Mater (Grande Mãe).
Além do aspecto de mãe, a deusa era vista como uma divindade agrária, capaz de promover a fecundidade do solo da mesma forma que promovia a bonança do útero feminino. A fim de agradar Shub-Niggurath, a ela, eram dedicadas oferendas: parte da colheita, celebrações e a observância de dias especiais devotados exclusivamente ao seu louvor. Mas as ofertas também incluíam sacrifícios de sangue para irrigar o solo duro e pedregoso tornando-o receptivo às sementes. O sacrifício de ovelhas e cordeiros passados pela lâmina de facas, sobre um altar de pedra, trazia também a benção da fartura. O precioso sangue decorrente da morte, se transformava em vida e fartura.
Não é de se estranhar que Shub-Niggurath, em seus muitos aspectos, recebesse também sacrifícios humanos. Tanto para favorecer a fecundidade de mulheres e animais, quanto dos campos. Inúmeras vítimas foram sacrificadas em rituais sagrados visando agradar a deusa.
Na Sicília, lar de um dos últimos baluartes de cultistas, ativo até o século nono, uma virgem era levada até um altar e sacrificada todo verão. Seu sangue oferecido a Shub-Niggurath que abençoava a congregação. Os homens com uma semente forte e as mulheres com um ventre receptivo. Na orgia que se seguia ao ritual de sacrifício, os casais entregues ao frenesi da deusa, copulavam ensandecidos até que todas as mulheres estivessem impregnadas. E seus filhos nasciam fortes e saudáveis graças a benção da deusa.
No Peru pré-colombiano, os nativos incas semeavam os campos e deixavam um espaço vago entre as fileiras onde deveria crescer o plantio. Cavavam naquele ponto uma vala ou trincheira em que depositavam oferendas para Pachamama, a deusa da fertilidade. Se a colheita fosse fraca, eles realizavam sacrifícios de sangue nos quais crianças e mulheres tinham a garganta cortada e eram enterradas no solo. O sangue das vítimas era coletado e dispersado sobre o campo para que o sacrifício estimulasse o crescimento.
Entretanto, aos poucos, as sociedades matriarcais foram sendo substituídas pelo modelo patriarcal e o culto da Grande Mãe sofreu um enorme revés. Talvez os homens se ressentissem no seu papel diminuto em rituais, já que os sacerdotes que presidiam as cerimônias eram sempre do sexo feminino.
Além disso, em muitos lugares, a prática do sacrifício foi sendo abandonada, diminuindo assim a efetividade dos rituais e a crença neles. Gradativamente povos matriarcais foram se tornando cada vez mais raros e empurrados cada vez mais para os limites da civilização, persistindo apenas em algumas poucas sociedades primitivas.
Da mesma forma, o crescimento da religião cristã foi instrumental para desarticular a crença nos vários aspectos da deusa da fertilidade. Banido em inúmeras culturas, as divindades foram demonizadas como blasfemas em seu furor sexual e bestiais na sua dependência de sacrifício. A representação de Shub-Niggurath como um bode ou cabra negros, passou a ser associada intimamente ao demônio e os seus sacerdotes vistos como feiticeiras e bruxas. As orgias, rituais e sacrifícios, não ajudavam em nada a aliviar essa presunção. Os padres e sacerdotes cristãos viam em cada um desses ritos a presença satânica e se esforçaram em acabar com cada um dos cultos.
Mas enganam-se aqueles que acreditam que o culto desapareceu por completo. Embora bem menos atuantes na atualidade, as deusas da fertilidade continuam presentes em alguns recantos sombrios do mundo moderno. Em lugares isolados como no outback australiano, onde aborígenes dançam nus em templos naturais, nas profundezas da Amazônia brasileira onde tribos que jamais tiveram contato com a civilização entregam-se a ritos de passagem selvagens e até nos limites árticos dos montes urais, em que feiticeiras conduzem celebrações tão antigas quanto as coníferas da gelada Sibéria.
E é no soturno Vale de Severn, no sul da Inglaterra, que se encontra o decadente vilarejo de Goatswood, onde persiste o maior e mais temido enclave de adoração de Shub-Niggurath. A população, composta de homens e mulheres degenerados, é inteiramente devotada a deusa e segue as antigas convenções há séculos. Nessa terra negra, conspurcada por forças nefastas, Shub-Niggurath galopa livremente como no princípio dos tempos.
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