CRENÇA
O sol frita a terra seca e rachada, as árvores estão sem folhas e a pouca vida que resiste, caminha sem rumo.
O calor insuportável, provoca irritação no pequeno bando que caminha buscando alguma carniça para devorar. Este bando é formado por animais com formas humanas, que estão aprendendo duramente as regras da sobrevivência. Estes seres ainda não conhecem o amor, são movidos pelo instinto da sobrevivência. De repente o céu se faz negro em plena metade do dia, os trovões estremessem a terra e os raios rasgam as nuvens com uma fúria aterrorizante. A chuva se faz dona da natureza, varrendo toda a seca cruel que se abateu sobre a região. A água cai com força na forma liquida e sólida, ferindo assim a cabeça e as carcaças do pequeno bando. Instintivamente a sobrevivência emerge do interior daqueles seres, que utilizando suas últimas forças correm amedrontados, correm sem parar, buscando abrigo. Depois de muito buscar, encontram uma caverna e assim aquele pequeno grupo de homens primitivos, podem descansar suas carcaças secas e famintas. O bando é formado por quatro machos, duas fêmeas e uma criança. Entre os machos há um mais velho que comanda, dois jovens e um adolescente. Entre as fêmeas, há uma adulta prenha e uma adolescente.
A criança vive no bando como um fardo, que não caça e não reproduz. No dia seguinte, o chefe do bando acorda cambaleando de fraqueza, estava a muito tempo sem alimentação; vai até a entrada da caverna e pode constatar que a água tomou conta de tudo e mesmo assim continuava caindo de forma brutal. Olha a inundação desolado, pois não entendia bem o que estava acontecendo, num relance pode observar ao longe, um animal boiando; é uma espécie de anta. A alegria é repassada ao bando através de urros, acordando a todos. O chefe do bando sinaliza com as mãos e todos os machos vão em busca do alimento. Com muito sacrifico conseguem pegar o animal morto e voltarem para a caverna. Tudo esta alagado e a água forma uma correnteza, dificultando assim a caminhada de volta para caverna com o alimento; o que antes era um caminho seco e rachado, agora é um rio corrente.
Todos se reúnem em volta do animal (alimento) e alimentam-se, até que estejam cansados de tanto comer aquela carne morta. O bando pula, grita e dança em volta do animal, tentando extravasar a satisfação pela fome saciada.
A chuva é implacável e permanece dias, semanas; gritando a todos os viventes que limpava as mazelas de antes e revolvia a terra para que a vida renascesse. O bando passou todo o tempo dentro daquele local fundo e escuro, alimentando-se de animais mortos que encontravam próximo da entrada da caverna. O céu permanece negro por um longo período. O grupo começa a feder, tamanha a sujeira da caverna. Há restos de animais em decomposição, fezes e muito mofo, devido a grande umidade das paredes. A escuridão da gruta incomoda e o bando passa a maior parte do tempo dormindo, até que um dia, o menor do bando acorda e não escuta barulho de água, curioso vai até a entrada da caverna e fica extasiado com tanta beleza. O céu tornou-se azul e parecia acariciar sua cabeça fétida, a claridade do dia iluminava seus olhos remelentos, o chão úmido acariciava seus pés rachados, pelas rochas da caverna, o ar fresco batia em seu corpo nu causando uma sensação confortável de caricia, as arvores de antes, secas e retorcidas, agora possuíam pequenas folhas verdes que poderiam ser comidas. Aquela criança primitiva, transborda sua felicidade emitindo sons, assim como um canto de alegria. Seu canto é tão alto que acorda o chefe do bando. Sem entender o que aconteceu, resolve acordar o grupo para que escutem o barulho, que vinha de fora causando espanto e medo; todo o bando fica curioso e sorrateiramente deslocam-se até a entrada da caverna. Todos ficam perplexos com tanta beleza fora da caverna. A luz tomou conta de tudo. O ar tornou-se agradável. Tudo estava colorido e brilhante. Imediatamente todos urram e pulam de alegria. A chuva fecundou a terra para um novo ciclo de vida e a claridade iluminou fundo a alma daqueles seres tão primitivos. Naquele momento, há o recomeço do solo e de almas. O chefe do bando, pode observar a uma certa distância da caverna, o pequeno do grupo, dançando e gritando com os braços para o alto. Todo o grupo relaciona aquela cena de dança e urro, com a grande mágica capaz de chamar a enorme bola de fogo de volta para o céu. Todos correm na direção do pequeno e dançam juntos, urram juntos, pois a vida estava de volta trazendo algo novo para todos. A união está de cara nova para com todos do grupo. A partir daquele dia, o pequeno que antes havia sido desprezado por todos, passou a ser cuidado e tratado com respeito; ele podia trazer a bola de fogo de volta para o céu com danças e urros. Assim é adquirida a primeira crença entre os homens primitivos; o bando passou a cuidar melhor dos pequenos que vieram depois, pois ficou associado para os mais velhos, que os pequenos poderiam agradar aos que estavam lá no alto azul. No céu... Fim
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