O EREMITA
«São seus haveres pessoais que ele (o Eremita) não deixa brilhar assim, senão na medida útil para guiar a si mesmo. Ele é modesto, e não se faz nenhuma ilusão sobre sua própria ciência, que sabe ínfima em relação àquilo que ignora. Igualmente, renunciando a muitas orgulhosas ambições intelectuais, contenta se em recolher com humildade as noções que lhe são indispensáveis para a realização de sua tarefa terrestre.
(…) A claridade da qual dispõe o solitário não se limita, de resto, a iluminar as superfícies: ele penetra, inspeciona e revela o interior das coisas (…).
O manto desse personagem é exteriormente de cor sombria, tirante ao marrom (austeridade), mas o forro é azul, como se se tratasse de uma veste de natureza aérea, dotada das propriedades isoladoras atribuídas ao famoso MANTO DE APOLÔNIO. Os FRANCO-MAÇONS sabem que é preciso estar A COBERTO para trabalhar utilmente, e a Alquimia exige que as operações da Grande Obra tenham lugar no interior de um balão de ensaio hermeticamente fechado. Sem isolamento, nada se concentra; e, sem concentração prévia, nenhuma ação mágica saberia ser exercida. As energias silenciosamente acumuladas com paciência, ao abrigo de toda infiltração perturbadora, manifestarão um irresistível poder, quando chegar a hora. Tudo aquilo que deve tomar corpo se elabora em segredo, no antro obscuro das gestações onde se processa a obra secreta de misteriosos conspiradores.
O EREMITA conspira ao abrigo de um ambiente psíquico austero que o isola de toda frivolidade mundana. Em seu retiro, ele amadurece suas concepções, intensificando sua vontade que ele retém, imantando suas aspirações generosas de todo amor desinteressado do qual é capaz. Assim esse sonhador pode preparar formidáveis acontecimentos, porque para seus contemporâneos, ele se torna o artista efetivo do amanhã. Afastado das contingências presentes, ele tece com abnegação a trama sutil daquilo que deve se realizar. MESTRE SECRETO, ele trabalha no invisível para condicionar o amanhã em gestação. Agente transformador, ele não cuida dos efeitos imediatos e não se fixa senão às energias produtoras das formações futuras.»
Oswald Wirth
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