MARIA DEGOLADA
Maria Francelina Trenes, mais conhecida como Maria Degolada (Alemanha, c. 1878 - Porto Alegre, 12 de novembro de 1899), foi uma prostituta que, após ser morta pelo namorado, se tornou parte do folclore de Porto Alegre, no Brasil, e centro de um culto popular.
Quase nada se sabe sobre sua vida. O que consta nos autos do processo judicial subsequente ao seu assassinato é que tinha origem alemã e ganhava a vida como prostituta. Seguindo, declara-se que em 12 de novembro de 1899 ela e o namorado, um soldado da Brigada Militar chamado Bruno Soares Bicudo, estavam fazendo um piquenique com amigos no Morro do Hospício. A certa altura o casal de afastou dos outros e começou a discutir. Maria atacou o namorado com um pedaço de lenha e depois com um cano de ferro, após o que ele a matou cortando seu pescoço com uma faca. Disso vem seu apelido.
O assassinato ganhou grande destaque na imprensa e pela sua brutalidade causou horror na população. O soldado foi preso e condenado. Circularam várias versões sobre o caso e logo os locais passaram a venerá-la. No local onde foi morta ergueu-se uma pequena capela em sua homenagem, identificando-a com Nossa Senhora da Conceição e, por isso, sendo também chamada de Maria da Conceição.
A passagem de prostituta a santa não é inédita na tradição católica, e, segundo o antropólogo José Carlos Pereira, "ela faz parte do grupo das chamadas 'santas de cemitério' que corresponde, na maioria dos casos, a alguém que sofreu morte violenta, seja por acidente, assassinato ou tortura seguida de morte". Para a historiadora Sandra Pesavento, "ao ser morta ela pode virar santa pois é vítima, e era a loura mártir de um mestiço analfabeto e mal encarado, personificando o drama de uma realidade de excluídos da qual ambos faziam parte.... em uma Porto Alegre muito violenta". A transformação foi facilitada pela crença de muitos populares de que ela na verdade não era uma prostituta, mas uma moça de boa família.
Seus devotos a consideram uma santa milagrosa, mas de acordo com a tradição ela não atende a preces de policiais. Seu nome batiza o antigo Morro do Hospício, hoje chamado Morro da Maria Degolada sobre o qual formou-se uma comunidade, a Vila Maria da Conceição, que se identifica com sua santa.
O folclore que a cercou desde o início continua em desenvolvimento, e novas versões sobre seu assassinato continuam a surgir, acrescentando muitos detalhes fantasiosos sobre sua vida. Ao mesmo tempo, sendo morta por um policial, ela se tornou um símbolo de resistência contra a exclusão social e a opressão do poder público, numa comunidade pobre que se autodefine como "periférica" e "marginal".
O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul lançou uma publicação sobre o personagem, Maria Degolada: mito ou realidade (1998); foi tema de um livro de Hércules Grecco, intitulado Maria Degolada (2002), adaptado como peça de teatro, e de outro escrito por Caio Riter para o público infantil, Maria Degolada: santa assombrada (2010). Também deu nome a uma cerveja da cervejaria Anner Bier, foi tema de músicas e de um cordel escrito por Gilbamar de Oliveira.Em 2012 a sua capela foi reconhecida como patrimônio da comunidade.
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