quinta-feira, 23 de novembro de 2017

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A EXECUÇÃO DE KETCHUM - O mais medonho enforcamento do Velho Oeste. 

Post Original: Mundo Tentacular




O Velho Oeste não foi, de modo algum, uma época pacífica. Ele estava repleto de notórios foras da lei e pistoleiros que não pensavam duas vezes antes de sacar seus revólveres e disparar contra qualquer um que os provocasse.

Existem incontáveis histórias de crimes e mistérios que não foram solucionados no Velho Oeste, e Hollywood sem dúvida tentou romancear o período. Glorificado pelos filmes de cowboys, vários homens da lei, bandoleiros, caçadores de recompensa e mal feitores se tornaram parte da cultura pop e suas histórias, muitas vezes exageradas ou incrivelmente imprecisas, continuam a cativar audiências.

Hoje em dia existem lugares nos Estados Unidos onde é possível experimentar a mística lendária do Velho Oeste em cidades que servem como palco para encenações e reconstituições históricas bastante convincentes de como era viver na Fronteira. O Estado do Novo Mexico é um lugar especialmente propício a esse tipo de lugar, com direito a atores que se fazem passar por personalidades como Elfago Baca, Buckshot Roberts, Pat Garrett, Billy the Kid, Charlie Bowdre, e finalmente “Black Jack” Ketchum.

E esse artigo é justamente a respeito de Ketchum. Ele é o protagonista de uma história macabra e aterrorizante ocorrida no povoado de Clayton, Novo México, local que talvez tenha assistido um dos mais desastrados enforcamentos da história.

Thomas Edward Ketchum teve uma infância difícil. Ele perdeu seus pais quando ainda era muito jovem e teve de trabalhar como cowboy com seu irmão em vários ranchos do Texas e Novo Mexico. Entretanto, a carreira de cowboy não ia durar muito, já que Ketchum decidiu em 1892 abraçar o  perigoso caminho do crime. 

O tempo como cowboy, no entanto, foi bastante útil; ele aprendeu a montar e passou a conhecer como a palma da mão a maioria dos caminhos e trilhas no Território do Novo Mexico. Junto com seu irmão Sam e vários outros comparsas, ele criou uma quadrilha que foi bem sucedida em uma série de roubos a banco. A quadrilha chegou a roubar um cofre, explodindo-o para coletar mais de 20 mil dólares em seu interior - o que na época era uma fortuna considerável. 

Ketchum ganhou fama quando matou John “Jap” Powers, no Condado de Green, Texas. O incidente foi bastante noticiado uma vez que "Jap" era um notório pistoleiro, conhecido por ter liquidado três homens da lei em Yuma anos antes. Depois desse incidente, Ketchum e sua gangue decidiram deixar o Novo Mexico, temendo que suas cabeças tivessem sido colocadas à prêmio. A preocupação dele era bastante justificável, vários caçadores de recompensa estavam no seu rastro, sobretudo depois que a recompensa por ele, vivo ou morto, atingiu 5 mil dólares.

Antes porém, o bando planejou um último esquema que lhes garantiria uma "aposentadoria" com estilo no México. Em agosto de 1899, Ketchum e seus homens decidiram roubar um Trem de Passageiros que transportava uma valiosa carga de moedas de ouro. Infelizmente para a quadrilha, a fama de Ketchum colocou tudo a perder. Um dos condutores à bordo reconheceu o bandido de um cartaz de procurado que ele havia visto recentemente. O homem sacou sua arma e disparou acertando o cotovelo direito do pistoleiro. A reação da gangue foi a pior possível, todos puxaram suas armas e começaram a atirar para todo lado dentro do trem em movimento. O tiroteio resultante, conhecido com "Grande Tiroteio do Trem", deixou um saldo de quatro mortos e nove feridos. 

Mesmo atingido Ketchum conseguiu escapar, mas foi perseguido por uma posse fortemente armada que o encurralou. O bandoleiro havia perdido muito sangue e acabou se rendendo. Ele foi levado para a cidade de Clayton e julgado enquanto ainda se recuperava dos ferimentos. O juri decidiu que "Black Jack" Ketchum era culpado e ele foi sentenciado a morte por enforcamento.


Black Jack Ketchum
Parecia que o destino do fora da lei estava traçado e ele seria executado, como muitos outros homens que partilhavam de seu violento estilo de vida. Entretanto, a existência de Ketchum teria mais um capítulo que capturaria a imaginação de historiadores e entusiastas do Velho Oeste.

Os oficiais em Clayton não tinham muita experiência com a prática de executar criminosos através de enforcamento. Ketchum havia sido o primeiro criminoso na cidade sentenciado a morrer dessa maneira. A inexperiência deles fez com que o pobre criminoso morresse de uma forma incomum que assombrou a todos que testemunharam o horrendo incidente.

A morte por enforcamento pressupõe que o peso da vítima durante a queda no cadafalso, provoque um tranco, que é suficiente para quebrar a vértebra do pescoço. Como resultado, a vítima morre imediatamente. "Um estalo e é o fim", diziam os jornais na época, descrevendo esse tipo de execução comum em todo país.

As autoridades de Clayton adiaram o enforcamento várias vezes, pois não havia um carrasco com prévia experiência na cidade. Finalmente, alimentado por rumores de que os velhos amigos de Ketchum planejavam soltá-lo da cadeia, um delegado foi escolhido para fazer o papel de executor. Dizem que os delegados tiraram no palitinho para ver quem se ocuparia do serviço indesejado. O enforcamento foi marcado para abril de 1901.


Ketchum enfrenta o cadafalso em Clayton, New Mexico
Quando chegou o dia, o enforcamento havia se tornado a maior atração da região, com várias pessoas vindo de longe para assistir ao acontecimento. Jornais da época descreviam a execução como um verdadeiro acontecimento: hotéis lotados, jornalistas com máquinas fotográficas, a presenca de juízes distritais e até do governador do Território vindo para prestigiar a execução. O patíbulo foi montado na rua principal que mais parecia uma feira livre com barracas de frango frito, venda de lembranças e todo tipo de atividade comercial. Um formigueiro barulhento de pessoas ansiosas para ver a morte do perigoso criminoso Ketchum. Talvez eles não ficassem tão ansiosos se soubessem o que estava para acontecer.

Na noite anterior ao enforcamento, o oficial designado para a tarefa testou a corda com um saco de areia de 100 quilos, mas esqueceu de removê-lo. O peso fez com que a corda ficasse rígida como um arame. O tipo de corda usado também não era o mais adequado para aquela função, ela era fina demais, embora fosse extremamente resistente.

Quando chegou o grande momento, as pessoas se colocaram diante do patíbulo e prenderam a respiração. Ketchum dispensou a venda e proferiu suas últimas palavras enquanto a corda era amarrada em volta de seu pescoço. Ele teria dito que não se arrependia de sua vida e que estava apenas sobrevivendo. Alguns afirmaram que ele criticou a presença de mulheres e crianças na execução: "isso não é uma festa de igreja", teria dito.

O Juiz que emitiu a sentença leu os altos e houve uma salva de palmas. Precisamente às 12 horas, o chão abaixo de Ketchum se abriu e ele caiu no cadafalso. Mas então algo saiu muito errado: a combinação da corda inadequada e sua rigidez resultou não em um enforcamento, mas em uma DECAPITAÇÃO.



O horror se espalhou entre os presentes. Gritos e histeria se seguiram, pessoas desmaiaram e outras não aguentaram a cena e vomitaram. Testemunhas afirmaram posteriormente que o corpo de Ketchum caiu de pé e ainda conseguiu dar dois passos, sem a cabeça (!!!) antes de desabar no chão. A cabeça rolou pelo chão, com os olhos revirando de um lado para o outro, a boca aberta em um grito silencioso.

A praça foi evacuada às pressas, enquanto cabeça e corpo eram recolhidos pelos confusos homens da lei que tentavam controlar o caos que se seguiu. Antes do enterro, o médico local foi chamado para costurar a cabeça de Ketchum em seu pescoço. Em seguida ele foi levado para o cemitério e enterrado em uma sepultura comum marcada apenas com uma tábua de madeira onde estava escrito:

"Aqui jaz o azarado Black Jack Ketchum, costurado em um, depois de dividido em dois".

Como não poderia deixar de ser, um caso tão mórbido acabou criando suas próprias lendas. A pequena cidade de Clayton se tornou famosa pelo ocorrido embora os bons cidadãos não se orgulhassem de sua notoriedade. O fato da cidade gradualmente ter se esvaziado está ligado a vários outros fatores - entre os quais a mudança do curso de um rio, mas muitos afirmavam que a cidadezinha foi de alguma forma marcada pela execução mal sucedida de Ketchum.

 
Clayton na época das tempestades de areia

Falava-se muitas coisas, desde um mau agouro que atingiu várias pessoas e seus negocios até uma legítima maldição. Verdade ou mentira, meses depois da execução, o médico que costurou a cabeça de Ketchum no lugar, morreu em um acidente estranho proximo do local onde tudo ocorreu. O acidente, segundo alguns envolveu um cabo de aço que se soltou, vindo a decapitar o pobre médico. Muitos dizem que houve exagero nessa história, mas lendas surgem dessa maneira. O delegado responsável pela atrapalhada execução também sofreu um acidente bizarro, sendo arrastado por um cavalo e tendo as pernas quebradas. Ele nunca mais andou direito, e culpava não o acaso ou o animal cujos cascos o atropelou, pelo ocorrido, mas o espírito vingativo de Ketchum.

Não é exagero, entretanto dizer que os juízes distritais presentes na execução, nenhum tenha se reeleito, e que vários desses tenham sido pegos em um esquema de corrupção na virada do século. Dois chegaram a se suicidar. O governador do Território do Novo Mexico foi afetado indiretamente pela morte de sua esposa e filhas em um acidente de carruagem. Para completar, em 1903 vários prédios de Clayton foram consumidos em um incêndio que destruiu boa parte do comércio local. 

Com o tempo, o lugar foi perdendo sua população e em meados de 1918 ele já havia se tornado uma cidade fantasma. As tempestades de areia que castigaram severamente o meio-oeste americano nos anos 1930 terminaram por decretar a derrocada de Clayton que ficava exatamente na região conhecida como Dust Bowl. Em 1957, o que sobrou da cidadezinha foi posto abaixo e novos prédios foram erguidos, mas uma das primeiras providências dos novos moradores foi encontrar onde estavam os restos mortais de Ketchum, enterrados e transferi-los para uma sepultura com seu nome e um pedido formal de desculpas pelo ocorrido.

Desde então, não houve outras ocorrências ligadas a maldição.

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