terça-feira, 17 de outubro de 2017

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 A Maldita Adaga - Parte 02



— E então, gatuno? Nos conte o que houve quando chegou ao topo da maldita árvore! — esbravejou o guerreiro sem conter a curiosidade sobre a história do amigo, afinal este passara anos desaparecido.

— Não foi lá a tarefa mais fácil escalá-la, por vezes escorreguei, não por falta de perícia, mas porque o carvalho é protegido por uma espécie de magia que eu jamais havia conhecido. O fato é que sou tinhoso e persisti em minha subida, a medida que alcançava os galhos mais altos e olhava para cima a maldita copa parecia não ter fim, mas notei que aquilo era apenas mais um teste a que a árvore submetia quem quer ousasse desvendá-la.

— disse o gatuno cujos olhos e o rosto denotavam a sabedoria adquirida. A vestimenta era incomum e também os itens que portava, todos os olhos da taverna se voltavam a ele que então era tão forasteiro quanto habitante daquela vila.

— Quando foi que encontrou o maldito portal? — perguntou o mago supondo que o fim da história seria este, uma vez que o ladino havia sumido por tanto tempo. 
O gatuno o encarou e sorriu tomando mais um gole de seu hidromel mentolado antes de prosseguir com sua narrativa.

— Em minha subida levei a mão em algo que se moveu no tronco da árvore e levei um baita susto caindo em um dos galhos mais próximos. A criatura espirrou e abriu os olhos bocejando e encarei o rosto de madeira com certo pânico. Me perguntei se estava diante de um ente e tentei me recordar de todos os seres da floresta. 

— Uhm, já deveria saber, humanos me causam alergia. — o rosto do carvalho protestou me encarando com certo desgosto. — Como é que chegaste até aqui, criaturazinha execrável? — ele perguntou torcendo o nariz de madeira.

— Escalando oras, sua pele é casca grossa! Já pensou em usar algum hidratante? — perguntei rindo de minha própria piada e ele revirou os olhos.

— Quem está aí? Quem? Diga-me logo velho sarnento! — uma outra voz ressoou do outro lado e apressei-me pelos galhos para ver com meus próprios olhos o segundo rosto, não estava acreditando. — Um humano! Há quanto tempo não vemos um por aqui!

— Mas é claro, a adaga os segura lá embaixo, nenhum deles tem sabedoria suficiente para pensar que ela é apenas uma distração. — disse o primeiro rosto para seu companheiro de tronco que gargalhou e eu apenas os observava.

— Vai deixá-lo cair? — perguntou o segundo rosto com sua voz estridente.
— Não sei, acha que ele mudaria alguma coisa? — indagou o primeiro rosto como se eu não estivesse presente.

— Talvez. Acho que pior do que está não dá para ficar, derrube ele! Vamos ver do que esse nanico é capaz! — disse a segunda voz e os galhos começaram a tremular. 

Tentei me segurar, mas não consegui e enquanto caía percebi que a cor das folhas mudavam para um púrpura aveludado além de toda a paisagem a minha volta. Eu estava em um admirável mundo novo e a árvore de rostos havia me atirado lá apenas para observar qual seria o meu papel. 

Eu, como nunca gostei de histórias mixurucas fiz questão de dar a ela um grande espetáculo.

Continua...

Ilusionista

Arte: Andreas Rocha 
FonteUtopia contos fantásticos

Parte 01 

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