sábado, 11 de março de 2017

Menu Mitologia Grega: Atreu e Tieste, uma trama sem perdão

ATREU E TIESTE, Uma trama sem perdão




Aérope era uma princesa cretense, neta de Minos. Seu pai tinha recebido um oráculo dizendo que morreria nas mãos de um de seus filhos, mas o manteve em segredo. Quando seu filho Altémenes descobriu as previsões, fugiu com sua irmã Apemósine, deixando as irmãs mais novas, Aérope e Clímene, que foram entregues pelo pai a um mercador para que fossem vendidas como escravas em um país estrangeiro. 

O mercador foi para Argos e ali Aérope conheceu e se casou com Atreu, que tinha sido acolhido pelo Rei Euristeu junto com sua mãe e seu irmão gêmeo Tiestes quando eles foram expulsos do reino por Pélops. Atreu e Aérope tiveram dois filhos: Agamenon e Menelau. Quando Euristeu se ausentou durante uma guerra estipulou que Atreu e Tiestes governariam temporariamente, mas Euristeu morreu em combate e eles passaram a disputar o trono. 

A previsão do oráculo dizia que o herdeiro de Micenas seria um filho de Pélops. Seria coroado aquele que possuisse um cordeiro de ouro, considerado um emblema monárquico. Nos rebanhos de Atreu tinha aparecido o prodigioso cordeiro que indicava que Atreu subiria ao trono. No entanto, Tiestes seduziu Aérope, a esposa de Atreu, convencendo-a a roubar o cordeiro de ouro e assim tornar-se o rei de Micenas. Quando Atreu descobriu, Tiestes foi exilado para outra cidade, onde casou-se com Laodamía, tendo três filhos. 

Porém Atreu resolveu vingar-se de Tiestes por ter seduzido sua esposa. Lançou Aérope ao mar e convidou Tiestes para um banquete fingindo querer reconciliar-se com ele. Serviu como comida os três filhos de Tiestes, que não se deu conta do que comia até que, finalizado o banquete, Atreu lhe mostrou as cabeças dos meninos. Tiestes lançou uma maldição sobre Atreu e seus descendentes, que ficou conhecida como a Maldição da Casa de Atreu. 


Ponderações

O Mito de Atreu e Tiestes se relaciona à rivalidade, traição, ódio e vingança, um dos temas de reflexão filosófica mais antigos do mundo. Conhecê-lo é importante para a formação cultural e, com certeza, segundo os psiquiatras Freud ou Jung, um ponto de partida para a compreensão de parte da psique humana. 

Em nossa cultura cristã somos constantemente pressionados a perdoar. São inúmeras as mensagens que surgem através dos jornais, revistas, artigos na internet e no senso comum, a nos estimular a tal atitude. Mesmo supondo que devemos perdoar, que de algum modo é benéfico, a grande questão é: Como perdoar se nos sentimos feridos? O que fazer para que consigamos perdoar? 

Não basta que nos digam que perdoar será bom para nós mesmos, que quem perdoa se torna mais feliz, que não devemos ficar engolindo veneno etc. Perdão é algo impossível de ordenar ao coração; para perdoar precisamos de algo que venha a compensar a nossa dor. 

Uma das formas mais rápidas e eficazes para se perdoar é a vingança. Alguém que se vinga, logo se torna capaz de perdoar. Dizem que a vingança é um prato frio que se come lentamente, ou seja, você se vinga, tira o peso do ódio e talvez perdoe, mas no final restam apenas os mortos, as ruínas e as cinzas. Esse é o desfecho. Contudo, mesmo que a vingança traga a compensação capaz de gerar o perdão, pode gerar uma culpa. É uma forma destrutiva e beligerante para apaziguar o ódio que se sente por quem nos fez algum mal, mas que traz um mal maior ainda. 

Mas também existe outra forma pacífica de compensação, basta fazer com que o outro se sinta culpado, reconheça seu erro e venha a pedir perdão. A compensação surge ao perceber que o outro também sofre, que se sente culpado e precisa do perdão para aliviar seu sentimento de culpa. Também é uma forma velada de vingança, pois a culpa destroi o amor próprio, cria repulsa e faz com que o outro sinta ódio de si mesmo. Quem não sente a culpa, quem não não se odeia por um erro cometido, não merece perdão. Quem não reconhece que errou e não tenta reparar o erro cometido compensando a quem prejudicou, não merece perdão. 

Mas somos capazes de perdoar sob algumas condições específicas, ainda que quem nos prejudicou não mereça perdão. Perdoamos quando são coisas irrelevantes. Ou perdoamos quando o tempo nos faz esquecer da ofensa. Ou perdoamos quando o outro nos repõe exatamente o que nos tirou. Ou perdoamos quando percebemos que nosso algoz está sofrendo pelo mal que nos fez. Se não houver uma dessas condições, não há o perdão verdadeiro. 

Mesmo que você diga que esqueceu e que não pensa mais na ofensa, no fundo do coração haverá sempre o desejo de que Deus, algo ou alguém venha a cobrar a injustiça a que você foi submetido. Você só perdoa quando há uma reparação, quando há uma resposta efetiva e sirva como uma compensação ou a esperança de que um dia ela aconteça... 

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