O SURGIMENTO DOS PEIXES
Tudo começou com o aparecimento na aldeia de um certo Birá. Era um índio sedutor, o terror da honra de todos os homens. Ele era uma ameaça constante, com o seu sorriso de permanente desafio aos rivais.
Então, num belo dia, os índios pediram ao pajé para lançar um feitiço sobre o kaiapó sedutor.
A conspiração evoluiu, e o pajé fez o pobre Birá tomar uma poção maldita durante uma pajelança que o transformou em uma anta.
– Não basta, é preciso matar a anta! – disse o chefe da conjura.
Então, depois de matarem o pobre Birá, levaram-no para a aldeia como se fosse uma caça comum.
– Hoje tem moquém de anta com farinha! – anunciou o cacique, pondo o seu cocar mais vistoso.
Todas as mulheres foram obrigadas a se servir dos pedaços da anta.
Então, quando a ceia tribal terminou, o cacique ergueu-se e fez a hedionda revelação:
– Mulheres pérfidas! Vocês acabaram de comer Birá, o sedutor maldito!
Instantaneamente, as pobrezinhas começaram a vomitar e a chorar.
No dia seguinte os homens foram caçar, deixando na companhia das mulheres somente os velhos incapazes. Graças a Tupã não havia mais Birá para
aproveitar-se da ausência deles!
As índias, contudo, reuniram-se e decidiram fugir e se jogar no rio. Antes, pintaram seus corpos das maneiras mais diversas, com pintas, riscas e manchas de todas as cores.
Ao chegarem à beira do rio e pularem, transformaram-se em peixes.
– O que estão fazendo? – gritaram os velhos, ao chegarem, depois.
Muitos deles lançaram-se na água, tentando salvá-las, mas acabaram transformados em sapos e arraias.
Quando os índios retornaram e souberam da desgraça, ficaram duplamente desolados. Além de perderem as esposas, sofreram, ainda, a afronta de verem-se trocados pela saudade de um morto.
Sem mais mulheres, os índios ficaram loucos e cometeram sua última tolice, pois, em vez de se atirarem ao rio, juntando-se assim às suas mulheres, foram todos para a mata, onde acabaram se transformando em macacos, cutias e toda espécie de animais silvestres.
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